O fato de que 12,3 milhões de brasileiros não conseguem encontrar o emprego que procuram com insistência mostra como ainda é grave o quadro do mercado de trabalho, a despeito dos sinais cada vez mais evidentes de melhora da situação econômica, inclusive com a abertura de postos de trabalho. Mas esse número, mesmo sendo por si só revelador do drama que assombra milhões de famílias, não resume todo o problema. Falta trabalho para 26,4 milhões de pessoas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse número é mais do dobro do total de desempregados e deixa claro que políticas públicas voltadas para a geração de emprego não devem focar 12 milhões de pessoas, mas bem mais do que isso.
Para aferir a falta de trabalho, aos desempregados devem ser somados aqueles que estão subocupados por insuficiência de horas trabalhadas e aqueles que compõem o que os estatísticos chamam de força de trabalho potencial. Esse último contingente é formado por pessoas que gostariam de trabalhar, mas, por algum motivo, não procuraram emprego nos 30 dias que antecederam a pesquisa, além daqueles que não estavam disponíveis para trabalhar. Esses dados constam da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua referente ao quarto trimestre de 2017 que o IBGE acaba de divulgar.
Essa edição da Pnad Contínua trimestral trouxe pela primeira vez dados sobre o desalento. A população desalentada, que faz parte da chamada força de trabalho potencial, é formada por pessoas em idade de trabalhar, mas que foram excluídas da força de trabalho porque não procuraram emprego no período considerado pela pesquisa. Entre as razões principais para o desalento estão falta de oportunidades, falta de experiência, limitações de idade (muito jovem ou muito idoso) ou a simples falta de trabalho na área em que a pessoa vive. No período pesquisado, havia 4,3 milhões de brasileiros desalentados, o maior contingente já aferido pela Pnad Contínua, que começou a ser realizada em 2012. Do total de desalentados, 59,7% estavam na Região Nordeste.
Ao contrário dos desalentados, que por algum motivo desistiram temporariamente de procurar emprego, outro grupo expressivo de brasileiros continuou a buscar alguma ocupação remunerada insistentemente, mas sem êxito. A Pnad Contínua constatou que, no quarto trimestre de 2017, o País tinha 2,786 milhões de pessoas que procuravam emprego há pelo menos dois anos. O número representa aumento de 13,5% nesse contingente na comparação com os últimos três meses de 2016. Além dessas, 2,243 milhões de pessoas buscavam emprego há pelo menos um ano, mas menos de dois. As pessoas estão ficando desempregadas por mais tempo. Ou, como disse o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azevedo, "a crise está fazendo a busca por emprego durar mais".
A Pnad Contínua mostrou também que o trabalhador do mercado informal, isto é, sem registro em carteira de trabalho, ganha em média 44% menos do que o empregado formal. Enquanto a remuneração média dos trabalhadores com registro em carteira era de R$ 2.090 por mês, os informais tinham rendimento médio de R$ 1.179. Além de ganhar menos, o trabalhador informal carece de garantias e adicionais, como férias, 13.º salário e proteção pelo sistema de Previdência Social. A reforma trabalhista aprovada no ano passado tem entre os principais objetivos a redução da informalidade no mercado de trabalho.
Pesquisas recentes mostram que é crescente o número de postos de trabalho formais, o que tende a melhorar a qualidade do mercado. Mas, como mostrou estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo feito a pedido do Estadão/Broadcast, ainda se observa um fenômeno comum no início da recuperação do mercado: as vagas exigem baixa qualificação, mas são preenchidas por candidatos de escolaridade maior. São os empregados bons e baratos, resultado da abundância da oferta de mão de obra.
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