Passados dois meses, não seria demais esperar que alguns tipos de crimes perdessem fôlego, mas não foi o que aconteceu. Em março, continuou a escalada de recordes
Divulgadas na terça-feira pelo ISP, as estatísticas de criminalidade do mês de março — quando a segurança do Rio já estava sob intervenção federal — são frustrantes. Embora o número de assassinatos tenha se mantido praticamente estável em relação ao mesmo mês do ano passado (aumentou 1%, de 498 para 503) e os chamados homicídios decorrentes de oposição à intervenção policial (mortes em confronto) tenham tido redução de 11,4% (passaram de 123 para 109), outros tipos de crime continuam numa escalada inaceitável.
Os roubos de veículos, que já estavam nas alturas, aumentaram 7,1%, indo de 5.002 para 5.358. É o maior registro para março em toda a série histórica, iniciada em 1991. Significa que um carro é levado a cada oito minutos no Estado do Rio. E há outros motivos para preocupação. Os roubos de cargas (917, em março deste ano), a pedestres (7.655), em ônibus (1.389) e de celulares (2.188) também bateram recordes históricos.
O governador Luiz Fernando Pezão disse que “não vai ser num passe de mágica” que essa situação será mudada. “Já era um pouco esperado, mesmo com todo o planejamento que iria acontecer, nesse momento de transição. Isso foi planejado, e as Forças Armadas estão se preparando para reverter esse quadro”.
De fato, ninguém esperava um milagre, como por exemplo, que os índices de violência fossem zerados. Mas, no mínimo, que eles interrompessem a escalada perversa de recordes. A cada mês, a cada nova estatística, pergunta-se onde eles vão parar, se é que vão parar. É compreensível que em fevereiro os números fossem ruins. Afinal, a intervenção federal foi decretada no dia 16, três dias após o carnaval, em meio a uma onda de violência ímpar. Não havia mesmo outra alternativa para que o estado retomasse o controle da situação. O próprio governador admitiu isso.
Mas, decorridos dois meses de uma intervenção que tem data para acabar — 31 de dezembro deste ano, como está no decreto — não se pode falar mais em período de transição. Portanto, não seria demais esperar que em março alguns tipos de crimes já tivessem perdido fôlego. Mas não foi o que aconteceu.
É verdade que problemas básicos da segurança, como o déficit de policiais e o sucateamento da frota, ainda não foram resolvidos — medidas para saná-los estão em andamento, como a requisição de policiais cedidos a outros órgãos e a compra de viaturas e equipamentos. Mas o tempo conta a favor do crime.
Pesquisa Datafolha/Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgada no dia 25 de março, mostrou que 76% dos cariocas eram favoráveis à intervenção, embora 71% dissessem não ter notado diferença no combate à criminalidade após a presença das Forças Armadas. Números como os recém-divulgados pelo ISP só fazem minar esse apoio. Atordoada pela violência, a população está ansiosa pelos resultados. E eles já demoram.
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