Indefinição na Venezuela reforça saída de Maduro como única opção para evitar mais violência
A ofensiva da oposição Venezuelana abriu novo ciclo na crise institucional em que submerge a ditadura de Nicolás Maduro. Nenhum líder oposicionista pode assegurar que essa etapa da rebelião seja a “fase final”, como qualificam. O conflito na Venezuela é um jogo de paciência política, exaustivo e de altíssimo custo socioeconômico.
O ditador Maduro, também, não consegue demonstrar que ainda controla o país. Ou mesmo que seus apelos às Forças Armadas por “total lealdade” estejam ecoando para além dos gabinetes refrigerados da Defesa e do Serviço de Inteligência.
As cenas de caos nas ruas da capital e das maiores cidades da Venezuela, ontem, sugerem precisamente o oposto: uma ditadura se esvaindo, com perda de capacidade de mobilização militar em defesa do regime.
Forças policiais, como a Guarda Nacional, retomaram os choques violentos, com deserções episódicas para o lado oposicionista. As tropas militares permaneceram inertes, silenciosas e aquarteladas.
Novidade ocorreu, depois do comício do líder oposicionista Juan Guaidó, na abertura dos portões da base aérea de La Carlota. Ela está ao lado do aeroporto internacional da capital e do QG das Forças Armadas, muito próxima da residência presidencial. Oficiais franquearam o pátio frontal aos aliados de Guaidó.
Cumpriu-se o ritual da cleptocracia venezuelana. Aos primeiros sinais de embates nas ruas, Maduro desapareceu. Apareceu, na sequência, o ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, com um séquito uniformizado, para a habitual advertência aos manifestantes, que àquela altura eram, literalmente, atropelados pelos blindados da Guarda recém-adquiridos da China.
O general Padrino López, um fiador militar de Maduro nos quartéis, não explicou — e não desmentiu — negociações com o governo dos Estados Unidos. Elas foram confirmadas pelo secretário de Estado Mike Pompeo e pelo assessor de Segurança John Bolton. Segundo eles, incluíram o comando do Serviço de Inteligência e do Judiciário. Trocariam o poder com Maduro pelo desbloqueio dos seus ativos nos EUA.
Chegou-se a um entendimento, na versão de Washington. Porém, esses aliados de Maduro teriam recuado, depois de supostas intervenções da Rússia, com apoio de Cuba, que mantêm cerca de 20 mil oficiais em áreas chave do governo Maduro.
Ao sul de Caracas, em Brasília, ontem predominava um relativo otimismo, baseado nas informações do Departamento de Estado americano. O governo brasileiro demonstrava estar sem meios próprios para avaliara situação do vizinho venezuelano. Foi surpreendido pela “antecipação do movimento”, nas palavras do chefe do Gabinete de Segurança da Presidência, Augusto Heleno.
Não conseguiu sequer dimensioná-lo. Carente, também, de uma estratégia de política regional, recolheu-se à expectativa. Infelizmente, há risco de mais violência.
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