- O Globo
Em 38 dias começa mais um ano eleitoral. O Brasil vai eleger 5.570 prefeitos e 56 mil vereadores em 2020. Será um teste importante para o presidente Bolsonaro, para o PT do Lula livre e para se saber como anda o centro político nacional. Mas, muito além dessa prévia de 2022, o que estará em jogo em outubro do ano que vem é a vida das cidades e das pessoas. Os efeitos de políticas erradas elaboradas e implementadas por maus prefeitos, eleitos de maneira apressada e sem reflexão, talvez sejam mais danosos aos cidadãos do que o resultado de equívocos cometidos no plano federal.
O Rio, que nos últimos três anos viveu a pior administração da sua História, corre seríssimo risco de cometer o mesmo erro em 2020 e reeleger o bispo Marcelo Crivella para mais quatro anos. Se isso ocorrer, a cidade provará sua vocação para atrair catástrofes sobre si mesma. Dos possíveis candidatos que se oporão a Crivella no ano que vem, destaque para o ex-prefeito Eduardo Paes, do DEM, e para o deputado federal Marcelo Freixo, do PSOL. Ambos têm problemas. Paes acaba de ser denunciado pelo ex-presidente da Fetranspor Lélis Marcos Teixeira por recebimento de propina de R$ 40 milhões para sua campanha de reeleição em 2012. Freixo é de um pequeno partido de esquerda que tem dificuldades em se consolidar no Rio.
Paes explicou apressadamente a delação premiada de Teixeira, já homologada pelo Superior Tribunal de Justiça. Questionado, ele respondeu por WhatsApp o seguinte: “Acabei de receber cópia da delação. Tudo de ouvir dizer. É um delírio completo”. Pode ser, mas o fato é que quem ouviu dizer foi o ex-presidente da Fetranspor, e seus interlocutores, de quem ouviu as acusações contra Paes, são os donos das empresas de ônibus que em dez anos desembolsaram R$ 120 milhões para garantir aumentos exorbitantes de tarifas e barrar CPIs. Sorte de Paes é que Crivella também foi acusado por Lélis Teixeira. Resta saber como o eleitor responderá a isso.
Freixo, que na última eleição perdeu no segundo turno, deve ter amadurecido bastante desde então. Certamente já sabe que só ganhará uma eleição no Rio se atrair eleitores de fora da sua bolha e se conseguir ser maleável e aberto ao diálogo. Um Freixinho Paz e Amor poderia ajudar. Mesmo assim, o PSOL terá dificuldades de encontrar a luz do sol num estado dominado por políticos de centro, de centro-direita e de direita. A menos que consiga efetivamente fazer alianças novas na hipótese de ir para o segundo turno outra vez.
Neste momento, parece que Crivella estará no segundo turno. Poderá ter o apoio de Bolsonaro, mesmo que dissimulado. O bispo pode ser um péssimo prefeito, nenhuma dúvida, mas não é bobo. Ele vem fazendo movimentos claramente eleitorais cada vez mais espalhafatosos. O principal, que certamente lhe garantiu um caminhão de votos, foi a destruição da praça de pedágio Linha Amarela. O que foi um crime, uma quebra de contrato, virou alegria para milhares de usuários da via que aprovaram o ato truculento. Para estes, aliviar o bolso é mais importante do que respeitar a lei.
Por outro lado, passa da hora de o carioca fazer uma limpeza na Câmara Municipal. O problema é quem colocar no lugar de corruptos e milicianos que infestam a casa. Há grupos de pessoas começando a se reunir para discutir o futuro da cidade. São profissionais de diversas áreas e todos os estratos sociais que entenderam que precisam participar, que mudança tem mais chance de êxito se operada por dentro. Entenderam ser esta a hora de ajudar a salvar o Rio, hora de arregaçar as mangas e reafirmar a convicção de que quem faz a boa política é o cidadão.
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