- Folha de S. Paulo
Numa conta básica, imunizar 60% da população asseguraria a proteção coletiva contra a Covid-19
Você pode levar o cavalo para a beira do rio, mas não forçá-lo a beber água. O brocardo da sabedoria popular se aplica à pandemia.
Estão em curso mais de cem programas de desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19, dos quais 21 já se encontram em alguma das fases de testes com humanos. É provável que, até meados do próximo ano, já tenhamos mais de um produto disponível. Uma vacina eficaz é nossa melhor chance de retorno à normalidade. Não é por outra razão que governos de vários países estão investindo bilhões nessas iniciativas.
É claro que, para a vacina fazer sua mágica, é preciso que as pessoas a tomem, especialmente se quisermos obter a famosa imunidade de rebanho. Na conta mais básica, supondo um R0 de 2,5 e uma vacina 100% eficaz, seria preciso imunizar 60% da população para assegurar a proteção coletiva. É aí que entra o problema dos movimentos antivacinas, que não perderam fôlego na pandemia.
Pesquisa recente da rede ABC e do jornal Washington Post revelou que 27% dos americanos afirmam que ou não tomariam a vacina de jeito nenhum ou provavelmente não a tomariam. Entre os mais ilustrados alemães, são apenas 61% os que a tomariam com certeza. Um levantamento do Eurobarômetro mostrou que, embora 88% dos europeus pensem que vacinas são importantes, 48% atribuem a elas efeitos colaterais graves que já foram descartados pela ciência.
Esses números mostram a urgência de pôr sociólogos, psicólogos e outros para tentar entender melhor as razões por que cada vez mais gente rejeita vacinas ou, igualmente preocupante, apenas deixa de tomá-las e de dá-las a seus filhos. Embora existam entre os chamados anti-vaxxers malucos de carteirinha, também estão em ação problemas práticos e vieses cognitivos que podem ser compreendidos e atenuados.
A humanidade só é viável se conseguirmos manter a proporção dos idiotas militantes abaixo dos 20%.
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