Entre as empresas que fecharam para sempre, as mais atingidas foram as de menor porte: 715,1 mil do total, ou 99,8% do total
Quando a Avianca Brasil teve a falência decretada na semana passada, ganhou manchetes e espaço nas análises de especialistas, mesmo depois de um ano inoperante. Até a recuperação judicial pedida pelo Cirque du Soleil recebeu espaço, como uma das vítimas ilustres da pandemia do novo coronavírus. No entanto, morreram silenciosamente as 716,4 mil empresas brasileiras que fecharam as portas definitivamente na primeira quinzena de junho. Também passaram quase desapercebidas outras 610,3 mil companhias que, na mesma época, suspenderam as atividades temporariamente - ou pelo menos esperavam isso.
No total, 1,3 milhão de empresas, ou um terço do total de 4 milhões de estabelecimentos existentes no país, foram diretamente impactadas pela pandemia. Os números foram divulgados pelo IBGE na semana passada como resultado da primeira edição da pesquisa Pulso Empresa, que mede o efeito da covid-19 no setor empresarial. Foram ouvidas por telefone cerca de 2 mil empresas dos setores da indústria, construção, comércio e serviços. A primeira divulgação traz comparações entre a primeira quinzena de junho e o período anterior ao início da pandemia, em 11 de março. As demais trarão comparações com a quinzena imediatamente anterior.
Entre as empresas que encerraram definitivamente as atividades, as mais atingidas foram as de menor porte - 715,1 mil do total, nada menos do que 99,8%. Foram assim classificadas pela pesquisa as empresas de até 49 funcionários. As outras 1,2 mil empresas que fecharam eram todas de porte intermediário e nenhuma era grande. Na divisão por setores, é o de serviços que concentra o maior número de empresas que encerraram as atividades, com 46,7% do total, ou 334,3 mil. Em seguida, ficaram as da área comercial, com 36,5% ou 261,6 mil; construção, com 9,6% ou 68,7 mil; e indústria, com 7,2% ou 51,7 mil.
A falta de crédito foi um dos motivos da elevada mortalidade das empresas de pequeno porte. Apenas 12,7% deles (347,7 mil), segundo o IBGE, conseguiram o crédito emergencial para pagamento da folha salarial desde então. Embora prometido desde o primeiro momento, o crédito custou a beneficiar os pequenos empresários, diferentemente das outras linhas idealizadas para os empreendimentos de maior porte. Os bancos só se animaram a repassar recursos do Programa de Apoio às Empresas de Porte Pequeno (Pronampe) há cerca de um mês, depois que o Tesouro passou a oferecer garantia de até 100%. Resultado: em pouco tempo acabaram os R$ 16 bilhões disponíveis, a juros de 1,25% ao ano mais a Selic, com prazo de 36 meses e a carência de oito meses para pagar (O Globo 20/7).
O impacto da pandemia e o necessário isolamento social também afetaram diretamente os negócios. Sete a cada dez empresas registraram queda nas vendas na primeira quinzena de junho na comparação com março. O problema foi generalizado. Mas o baque foi maior nas empresas de pequeno porte, 70,9% das quais se queixaram que a demanda despencou. Entre as de porte intermediário, essa queixa foi de 62,9%; e de 58,7% das de grande porte. Por setor, o problema foi relatado em 73,1% nas empresas de construção, 71,9% de serviços, 70,85 do comércio. E 65,3% da indústria.
Houve problemas também na produção. Nada menos do que 63% das empresas tiveram dificuldade de fabricação ou para atender os clientes na primeira quinzena de junho. Foi preciso alterar o método de entrega dos produtos ou serviços, e 32,9% aderiram a serviços online. Outros 20,1% lançaram ou passaram a comercializar novos produtos ou serviços desde o início da crise sanitária.
Os 2,7 milhões de empresas que resistiam até meados de junho relataram que as dificuldades de oferta e demanda persistiam, apesar dos primeiros movimentos de relaxamento do isolamento social; e reclamavam da pouca atenção dada pelo governo. Entre as medidas adotadas para garantir a sobrevivência figurava o adiamento do pagamento de impostos, relatado por 44,5% ou 1,2 milhão de empresas. Mais de um terço (34,6%), cortou empregados, movimento mais forte na construção civil.
Mas são as pequenas que inspiram mais cuidados e reclamam da pouca atenção dada pelo governo. Agora o Congresso corre para aumentar a linha do Pronampe, remanejando recursos de outros programas menos demandados. Apesar do porte, as pequenas empresas são a mais importante fonte de empregos no país.
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