Estudos mostram que afastamento prolongado da escola pode trazer sérios prejuízos para as crianças
Desde que governadores e prefeitos começaram a flexibilizar as medidas de isolamento, em junho, um dos maiores desafios, se não o maior, tem sido a decisão sobre a volta às aulas. Falta consenso, não só entre os diferentes níveis de governo, como entre os atores envolvidos e até entre os cientistas. Talvez isso explique por que grandes cidades, como São Paulo, Rio ou Belo Horizonte, ainda mantenham os alunos afastados. Mas a questão precisa ser enfrentada. Não é pequeno o impacto da falta de aulas presenciais para as crianças. Ficar em casa pode ser pior.
Não se deve imaginar que em casa, mesmo com ensino remoto, elas não tenham prejuízos. Nos Estados Unidos, a Associação Americana de Pediatria (AAP) ressaltou que o tempo longe da escola e a interrupção dos serviços de apoio resultam em isolamento e tornam difícil corrigir dificuldades no aprendizado. Estudo do epidemiologista Wanderson de Oliveira, ex-secretário nacional de Vigilância em Saúde, mostra que o fechamento de escolas pode pôr em risco a segurança dos alunos, com consequências potencialmente irreversíveis. Cita que 30% das crianças em quarentena desenvolvem critérios clínicos para diagnóstico de um transtorno psíquico conhecido como estresse pós-traumático. A violência doméstica é outra preocupação. No Rio, as denúncias aumentaram 50%. E é indiscutível a falta que a merenda faz.
Há que considerar também que o risco de contágio em crianças com menos de 10 anos é ínfimo. Por razões ainda desconhecidas, elas são menos propensas a contrair o vírus e a transmiti-lo. O que não significa risco zero. Representam apenas 2% do total de casos globais. Sabe-se ainda que a Covid-19 em crianças é menos agressiva do que a gripe Influenza. Nos Estados Unidos, até 15 de julho, as mortes por Covid-19 em crianças de até 14 anos correspondiam a um terço dos óbitos por gripe.
Claro que qualquer retomada das aulas deve ser cercada de cuidados, e as instituições precisam se adequar à nova realidade. Em Manaus, primeira capital brasileira a reabrir as escolas, uso de máscaras, higienização e distanciamento passaram a fazer parte da rotina. Para permitir número menor de alunos em sala, há um rodízio entre os grupos. É um caminho.
No Estado do Rio, a epidemia está em declínio. A média de mortes nos últimos sete dias está, pelos dados do consórcio de veículos da imprensa, 43% abaixo de 14 dias atrás. Nas últimas 24 horas, o estado somou 117 óbitos. Apesar disso, a situação das escolas permanece indefinida. Estado e prefeitura não falam a mesma língua.
O município autorizou que as particulares reabrissem em 3 de agosto, mas a permissão foi suspensa na Justiça. O estado prorrogou, dia 4, a quarentena por mais 15 dias. A falta de diálogo entre os entes públicos só confunde. É essencial que, num estado como o Rio, onde a epidemia está em queda, governos tenham um plano sensato para retomar as aulas, ainda que de modo bem diferente daquele a que estávamos acostumados. Não faz sentido os bares estarem lotados e as escolas vazias.
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