Apoio a americano no BID e isenção para agradar Trump apequenam ainda mais o Itamaraty
Uma regra não escrita nos conclaves do Vaticano estabelece que um papa nunca deve ser norte-americano. O motivo, a concentração de musculatura para aquela que já é a mais poderosa nação do mundo.
De forma mais explícita, as Nações Unidas não podem ser lideradas por um cidadão dos Estados Unidos ou dos outros quatro membros do Conselho de Segurança, seu órgão decisório supremo.
O que dizer de um órgão com grande importância para a economia do quintal geopolítico dos EUA, o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento)?
Desde a sua fundação, em 1959, o órgão tem a presidência ocupada por um latino-americano. Mas no sábado (12), foi eleito para a função o norte-americano Mauricio Claver-Carone, indicado por Donald Trump. Um dos "falcões" da Casa Branca, assessor presidencial para o Hemisfério Ocidental e defensor de agressivas políticas contra regimes de esquerda na região, Claver-Carone foi uma imposição de um Trump cada vez mais acossado em busca de sua reeleição.
Em entrevista a esta Folha, Claver-Carone afirmou que gostaria de ver sobrepostas ações do BID às do programa De Volta às Américas, do governo em Washington.
Tal iniciativa visa tirar empresas americanas da China e trazê-las para países próximos dos EUA, por meio de incentivos diversos.
Não que elas estejam fazendo fila: pesquisa da Câmara de Comércio Americana em Xangai mostrou que 70% de suas filiadas pretendem ficar na China, apesar da instabilidade que a pandemia trouxe e que a Guerra Fria 2.0 movida por Trump vai manter, segundo creem.
Ao Brasil coube o patético papel de abaixar novamente a cabeça aos desígnios do ídolo do presidente Jair Bolsonaro. O BID é instrumento importante, tendo emprestado US$ 35,3 bilhões de 2008 a 2019 a governos e empresas brasileiras.
Mas a altivez de rede social do Itamaraty sob Ernesto Araújo e seu padrinho Eduardo Bolsonaro limitou-se a chancelar a manobra.
Araújo também foi ativo proponente da manutenção da isenção de alíquota de importação para uma nova cota de etanol americano, para alegria dos produtores do chamado cinturão do milho, que em 2016 apoiaram Trump.
A decisão, contra a qual protestou o setor agropecuário brasileiro, fica mais indefensável por ter vindo após a redução da cota de importação de aço do Brasil pelos EUA.
Tal alinhamento, para endossar a aliança com Trump, só aumentará o preço a ser pago em eventuais negociações na hipótese de vitória do candidato Joe Biden em novembro. Dificilmente o democrata, um pragmático, mudaria os termos das concessões oferecidas de bandeja por Bolsonaro.
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