Folha de S. Paulo
Ela conversou com dois taxistas e acha que
entende a cidade
Entre os cronistas cariocas nas décadas de
50 e 60 —um timaço com Sérgio Porto, Paulinho Mendes Campos, Fernando Sabino,
Carlinhos Oliveira—, Antônio Maria é o que menos deve a Rubem Braga, que abriu
o caminho da modernidade estilística e da conversa fiada com o leitor no fim
dos anos 30. Os craques, de alguma maneira, são filhotes do velho sabiá. Maria,
não; já veio arrumadinho e penteado do Recife.
O pesquisador Guilherme Tauil, na antologia
"Vento Vadio" (Todavia), reuniu 185 textos do cronista, a
maioria deles só publicada em jornais e revistas. É um livraço, o melhor
lançamento do ano. Nele se comprova que Antônio Maria até se atrevia a tirar
sarro de Rubem Braga:
"Sou novo no bairro e faço uma grande confusão entre o Jardim Botânico e a casa da Besanzoni [atual parque Lage]. Ambas são moradas de muito muro e, às vezes, dão impressão de casa mal-assombrada. No Jardim Botânico não acontece nada além da árvore da primavera, que bota uma flor em setembro para o Braga escrever uma crônica e viver, por longo tempo, dos comentários que desperta".
Marilene Felinto também saiu do Recife, mas
escolheu viver em São Paulo. Ela veio ao Rio e não viu flor nenhuma. Só viu
"pedra sem poesia". Como relata em artigo na Ilustríssima
(18.dez.2021), passou algumas horas ou dias em Copacabana e
conversou com dois taxistas. Citou dados da violência na cidade, como se ela não fosse geral
no Brasil, e lamentou a adesão local ao bolsonarismo na época da eleição,
esquecendo-se de falar que hoje quem aplaude o presidente são os empresários da
Fiesp.
Crítico dos costumes e da política no Rio,
Maria viveu aqui por quase 25 anos. Espantou-se e se maravilhou com a cidade.
Mas não conseguiu defini-la —como acontece a qualquer carioca. Com rapidez,
Marilene decretou: "uma ditadura de classes maravilhada consigo
mesma". Na próxima vez eu a convido para dar um rolé.
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