Valor Econômico
Com menos emprego, MEIs já somam 70% das
empresas no país
Há algo errado num país em que 70% das
empresas não são empresas, mas pessoas. É o que acontece no Brasil às vésperas
de mais uma eleição.
Dados divulgados este mês pelo Ministério
da Economia mostram que existem 19,4 milhões de empresas ativas no Brasil.
Dessas, 13,5 milhões são individuais.
Aí estão os trabalhadores “pejotizados”.
Mas a parcela majoritária são microempreendedores individuais (MEIs). Esses
chegam a 11,1 milhões.
O professor Sergio Firpo, do Insper,
enxerga alguns movimentos por trás desse grande número de MEIs no país.
Uma explicação está na reforma trabalhista
de 2017. A partir dela, as empresas ganharam mais segurança jurídica para
contratar serviços terceirizados. Isso explica em parte o crescimento na
abertura de novas empresas individuais. A pandemia acelerou esse processo,
especialmente na área digital.
Há também uma explicação tributária.
Trabalhadores individuais podem, por opção, constituir empresa para pagar menos
tributos. Ou pessoas podem ter sido pressionadas a se tornar “pejota” para seu
empregador virar um contratante e pagar menos encargos e impostos.
Outra causa para o aumento do número de MEIs é o “desemprego brutal”, aponta Firpo. Demitidas e sem conseguir nova colocação, pessoas vão para a informalidade ou criam uma empresa individual para ter, ao menos, alguma proteção previdenciária.
Dos 96,5 milhões de pessoas ocupadas do
país, 38,7 milhões são informais, segundo dados da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (Pnad) de abril.
Como informais ou MEIs, esses cidadãos
estão mais expostos às variações do ciclo econômico, observa o professor.
Empregados com carteira só são demitidos se há uma recessão brutal, ou se a
empresa ou setor onde trabalham passa por uma crise muito aguda. Já os
informais veem sua renda oscilar por muito menos. Foi o que aconteceu na
pandemia: os formais trabalharam de casa. O pipoqueiro que ficava na frente da
escola perdeu sua fonte de renda.
É perverso que o risco recaia justamente
sobre quem está menos preparado para enfrentá-lo.
O rendimento volátil dificulta aos
informais e MEIs obter crédito. O sobe e desce da renda também afeta a
capacidade de o trabalhador consumir de maneira contínua e previsível. Ou seja,
afeta seu bem-estar.
De origem sindical, o deputado Vicentinho
(PT-SP) vê com preocupação a “maldita troca” dos empregos formais, com direitos
assegurados, por outras formas de trabalho que considera precarizadas. Ele
colhe assinaturas para constituir uma frente parlamentar do emprego informal.
Mas, reconhece, não são todos os
trabalhadores que desejam a proteção da quase octogenária Consolidação das Leis
do Trabalho.
Os motoristas de aplicativos de veículos
que atuam em São Paulo com quem o deputado dialogou, por exemplo, não buscam
vínculo trabalhista com as plataformas. Em diálogo com eles, o deputado
elaborou um projeto de lei para regular o trabalho que trata de outras
questões, como dar aos motoristas mais liberdade na definição de trajetos e
preços. Eles também querem constituir um sindicato.
O empreendedorismo por necessidade, que
cresceu durante a pandemia, está desacelerando na margem, nota o economista da
XP Rodolfo Margato. É reflexo do crescimento econômico que está em curso. A
corretora banco estima que a taxa de desemprego chegará a 9,5% ao fim deste
ano.
É, porém, uma melhora conjuntural, avalia o
economista. A geração forte de empregos formais e informais vista no de janeiro
a abril deve desacelerar ao final do ano, por efeito da alta de juros. Uma
certa estagnação no crescimento do mercado de trabalho deverá ser vista ao
longo de 2023.
Desemprego de um dígito é um feito notável,
principalmente levando-se em conta que estamos na ressaca da pandemia e que há
uma guerra no centro da Europa. Daqui para o fim do ano, será atingido outro
marco importante: o estoque de empregos formais vai bater recorde histórico.
Há alguns elementos que explicam por que,
apesar desses números positivos, a percepção sobre o emprego e a renda no país
não é tão positiva.
O primeiro é o alto índice de
informalidade, na casa dos 40%. Isso é uma evidência da fragilidade do mercado
de trabalho, observa Margato.
Outro sinal de que as coisas não estão
maravilhosas é a renda média do trabalhador, que vem em queda. Encontra-se hoje
7% menor do que antes da pandemia. O poder de compra do trabalhador se
enfraquece.
Olhando para os lados e para frente, a
perspectiva tampouco é boa, avalia Firpo. O ano eleitoral traz incerteza aos
empresários e isso afeta a capacidade de gerar empregos.
A economia ainda passa por um momento de
forte perda na atividade econômica que, avalia o professor, só não foi pior por
causa do Auxílio Emergencial. Está em curso, ainda, um processo inflacionário,
de juros elevados e de risco de recessão.
Uma transformação estrutural no mercado de
trabalho dependeria de uma queda consistente na informalidade, aponta o
economista. Precisaria também que a trajetória da qualificação média estivesse
em alta.
Em 2018, o Banco Mundial publicou um
relatório no qual alertava que metade - metade! - da juventude brasileira não
terá acesso a bons empregos. Seguirá pobre.
Eram na época 25 milhões de jovens, dos
quais 11 milhões eram os chamados nem-nem (nem estudam nem trabalham). Além
desses, estavam na conta os que trabalhavam, mas na informalidade.
O dado agregava ainda os jovens que
estudavam, mas não aprendiam o suficiente para ter uma chance de melhorar seu
nível de renda. Veio a pandemia, e essa geração perdeu dois anos de
aprendizado.
Não deveria ser esse o centro da agenda?
Um comentário:
A pandemia atrasou dois anos os estudos,meu segundo grau eu concluí com 17 anos,hoje o ensino médio será concluído aos 19.
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