Folha de S. Paulo
Debates são úteis para mostrar candidatos em
situações de mundo real, fora do ambiente controlado dos marqueteiros
Para que servem debates entre
candidatos a cargos políticos? Na visão clássica ingênua, seria uma
oportunidade para os postulantes apresentarem suas propostas. O eleitor poderia
então compará-las e decidir quem merece seu voto.
No mundo real, esse esquema nunca funcionou muito bem. São raríssimos os cidadãos que definem seu sufrágio de modo puramente racional a partir da comparação de propostas. Na prática, o que mais pesa são dinâmicas emocionais, como preferências prévias consolidadas, influência de pessoas próximas e simpatias e antipatias instantâneas, não raro com base em elementos que deveriam ser irrelevantes para a política, a exemplo da aparência.
Um assustador estudo americano mostrou que
voluntários conseguiam apontar com 68% de sucesso o vencedor de disputas para o
Senado apenas olhando por um segundo para fotos dos concorrentes e indicando
aquele com aparência mais "senatorial".
Ainda que não pelas razões clássicas, debates
têm utilidade na arena pública. Eles colocam os candidatos em situações de
mundo real não inteiramente controladas por seus marqueteiros. É uma
oportunidade para o eleitor vislumbrar o postulante despido das intervenções
editoriais que normalmente o acompanham.
Nesse contexto, os debates entre candidatos à
prefeitura paulistana cumpriram seu papel, apesar ou talvez até por causa
dos seguidos
episódios de violência que os marcaram.
José Luiz Datena, autor da
cadeirada em Pablo Marçal,
mostrou a todos o seu despreparo para exercer o cargo. O recurso à força
física, afinal, pode ser visto como uma espécie de negação da política, que
existe justamente para prevenir a violência na disputa do poder.
Já as incessantes
provocações de Marçal contra tudo e contra todos e sua
incapacidade aparentemente atávica de seguir as regras acordadas, que ficaram
patentes nos encontros, ajudaram a fazer com que sua rejeição atingisse
níveis que praticamente o inviabilizam como candidato.
Não é porque o voto não é racional que o
eleitorado sempre erra, embora erre muito.
2 comentários:
Excelente! Se os debates mostrarem em quem NÃO votar, já servem mesmo pra alguma coisa...
E como erram!
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