Folha de S. Paulo
Ex-presidente usou a expressão para falar do
PT, mas os candidatos que apoiou abertamente perderam em 17 de 27 cidades no 2º
turno
Jair
Bolsonaro (PL) amanheceu no
domingo (27) em Goiânia fazendo uma análise das eleições
municipais em que pontuou a "sapecada monumental" que o PT levou nas urnas.
Apuradas as votações do dia, porém, o ex-presidente também levou a sua
particular sapecada, em vários aspectos.
A começar pelo simbolismo de comparecer
pessoalmente a uma capital em que travava uma queda de braço no campo da
direita com o governador Ronaldo Caiado (União Brasil).
Perdeu para Caiado não só em Goiânia, mas também em Aparecida de Goiânia, a segunda maior cidade do estado e também aonde foi para acompanhar o voto do candidato do PL.
Se de manhã dizia
desconhecer o "caiadismo" e afirmava que a eleição
poderia ser mortal para o político com quem vive uma relação de afagos e
ataques, à noite saiu
da cidade quase às escondidas.
Quando estava possivelmente na estrada —o
ex-presidente viajou a Goiânia de carro— Caiado dava entrevista dizendo que
pretende ensinar a Bolsonaro, que se achava "o dono da verdade e dos
votos", o jeito certo de fazer política no campo conservador.
Bolsonaro já tinha visto sua hegemonia na
direita abalada com a candidatura de Pablo Marçal (PRTB) em São Paulo. Embora fale
ter caído "a máscara" do autodenominado ex-coach, foi a
primeira vez que uma relevante parcela do bolsonarismo não seguiu as suas
indicações.
A fenda no bolsonarismo aberta pelo furacão
Marçal também se associa ao papelão do ex-presidente na campanha paulistana, em
que teve papel de apoiador hesitante, ameaçando pular de barco "na hora
mais difícil", o que outros bolsonaristas de seu entorno fizeram sem
cerimônia.
O vexame de sua participação em solo paulista
foi coroado com as declarações de Ricardo Nunes (MDB)
ao governador Tarcísio de
Freitas (Republicanos), classificado por ele como o "líder maior".
Para Bolsonaro, a derrota do
seu candidato em Goiânia, Fred Rodrigues (PL), não foi a única de
relevo, embora tenha ganhado o grande simbolismo de sua presença no local, no
dia decisivo.
Bolsonaro viu escapar pelos dedos do
bolsonarismo Fortaleza, Belo Horizonte, Manaus, Palmas e Curitiba —nessa
última, em nova derrota para um governador do campo conservador, Ratinho Júnior
(PSD).
Em particular, a capital mineira, onde não só
ele foi derrotado, mas também os bambambãs do bolsonarismo local Nikolas
Ferreira (PL) e Cleitinho Azevedo (Republicanos), que mergulharam na campanha
de Bruno Engler (PL).
Restou de consolo a Bolsonaro neste domingo
Cuiabá e Aracaju.
Os números mostram o inferno astral do
ex-presidente neste segundo turno. Dos 27 candidatos que ele apoiava
abertamente nessa fase, 17 perderam.
Isso apesar de o ex-presidente ter se
dedicado a uma intensa maratona de viagens e gravações de apoio nas últimas
semanas, tarefa que também delegou à ex-primeira-dama Michelle.
Apesar das derrotas e do inédito desafio à
sua liderança no campo da direita, Bolsonaro teve na conta geral um desempenho
melhor do que seu hoje principal adversário político, o presidente Lula (PT).
No primeiro turno, os nomes apoiados pelo
petista já tinham tido um desempenho
bem inferior aos chancelados pelo ex-presidente, situação que se
equilibrou nessa segunda etapa.
No segundo turno, dos 16 candidatos
endossados pelo petista, só 6 ganharam. Os principais êxitos ocorreram em
Fortaleza e Mauá (SP), cidades visitadas pelo presidente nas últimas semanas.
Além das derrotas já esperadas, sofreu
importante revés em Diadema, que também visitou. Lá um dos quadros
históricos do partido, o atual prefeito José de
Filippi Júnior (PT), foi derrotado pelo candidato de Tarcísio de
Freitas, Taka Yamauchi (MDB).
A principal derrota, entretanto, foi a sua
grande aposta eleitoral de 2024, Guilherme
Boulos (PSOL).
Bem longe do desempenho que teve com Fernando
Haddad em 2012, Lula viu seu apadrinhado na capital paulista repetir o mesmo
resultado de 2020, mesmo com o seu aval, com o PT de vice e com muito
mais recursos de campanha.
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