terça-feira, 29 de outubro de 2024

A direita racha na eleição e Bolsonaro leva sua 'sapecada monumental' - Ranier Bragon

Folha de S. Paulo

Ex-presidente usou a expressão para falar do PT, mas os candidatos que apoiou abertamente perderam em 17 de 27 cidades no 2º turno

Jair Bolsonaro (PLamanheceu no domingo (27) em Goiânia fazendo uma análise das eleições municipais em que pontuou a "sapecada monumental" que o PT levou nas urnas. Apuradas as votações do dia, porém, o ex-presidente também levou a sua particular sapecada, em vários aspectos.

A começar pelo simbolismo de comparecer pessoalmente a uma capital em que travava uma queda de braço no campo da direita com o governador Ronaldo Caiado (União Brasil).

Perdeu para Caiado não só em Goiânia, mas também em Aparecida de Goiânia, a segunda maior cidade do estado e também aonde foi para acompanhar o voto do candidato do PL.

Se de manhã dizia desconhecer o "caiadismo" e afirmava que a eleição poderia ser mortal para o político com quem vive uma relação de afagos e ataques, à noite saiu da cidade quase às escondidas.

Quando estava possivelmente na estrada —o ex-presidente viajou a Goiânia de carro— Caiado dava entrevista dizendo que pretende ensinar a Bolsonaro, que se achava "o dono da verdade e dos votos", o jeito certo de fazer política no campo conservador.

Bolsonaro já tinha visto sua hegemonia na direita abalada com a candidatura de Pablo Marçal (PRTB) em São Paulo. Embora fale ter caído "a máscara" do autodenominado ex-coach, foi a primeira vez que uma relevante parcela do bolsonarismo não seguiu as suas indicações.

A fenda no bolsonarismo aberta pelo furacão Marçal também se associa ao papelão do ex-presidente na campanha paulistana, em que teve papel de apoiador hesitante, ameaçando pular de barco "na hora mais difícil", o que outros bolsonaristas de seu entorno fizeram sem cerimônia.

O vexame de sua participação em solo paulista foi coroado com as declarações de Ricardo Nunes (MDB) ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), classificado por ele como o "líder maior".

Para Bolsonaro, a derrota do seu candidato em Goiânia, Fred Rodrigues (PL), não foi a única de relevo, embora tenha ganhado o grande simbolismo de sua presença no local, no dia decisivo.

Bolsonaro viu escapar pelos dedos do bolsonarismo Fortaleza, Belo Horizonte, Manaus, Palmas e Curitiba —nessa última, em nova derrota para um governador do campo conservador, Ratinho Júnior (PSD).

Em particular, a capital mineira, onde não só ele foi derrotado, mas também os bambambãs do bolsonarismo local Nikolas Ferreira (PL) e Cleitinho Azevedo (Republicanos), que mergulharam na campanha de Bruno Engler (PL).

Restou de consolo a Bolsonaro neste domingo Cuiabá e Aracaju.

Os números mostram o inferno astral do ex-presidente neste segundo turno. Dos 27 candidatos que ele apoiava abertamente nessa fase, 17 perderam.

Isso apesar de o ex-presidente ter se dedicado a uma intensa maratona de viagens e gravações de apoio nas últimas semanas, tarefa que também delegou à ex-primeira-dama Michelle.

Apesar das derrotas e do inédito desafio à sua liderança no campo da direita, Bolsonaro teve na conta geral um desempenho melhor do que seu hoje principal adversário político, o presidente Lula (PT).

No primeiro turno, os nomes apoiados pelo petista já tinham tido um desempenho bem inferior aos chancelados pelo ex-presidente, situação que se equilibrou nessa segunda etapa.

No segundo turno, dos 16 candidatos endossados pelo petista, só 6 ganharam. Os principais êxitos ocorreram em Fortaleza e Mauá (SP), cidades visitadas pelo presidente nas últimas semanas.

Além das derrotas já esperadas, sofreu importante revés em Diadema, que também visitou. Lá um dos quadros históricos do partido, o atual prefeito José de Filippi Júnior (PT), foi derrotado pelo candidato de Tarcísio de Freitas, Taka Yamauchi (MDB).

A principal derrota, entretanto, foi a sua grande aposta eleitoral de 2024, Guilherme Boulos (PSOL).

Bem longe do desempenho que teve com Fernando Haddad em 2012, Lula viu seu apadrinhado na capital paulista repetir o mesmo resultado de 2020, mesmo com o seu aval, com o PT de vice e com muito mais recursos de campanha.

 

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