PRIMEIROS ACORDES
Dora Kramer
Dora Kramer
A saia-justa dos tucanos com o início de pé esquerdo do prefeito Gilberto Kassab em São Paulo, a largada pífia do afilhado de dois mitos da popularidade em Belo Horizonte e a interdição do direito de ir e vir pelo crime e as milícias no Rio indicam que daqui para a frente tudo deverá ser muito diferente em comparação às modorrentas campanhas municipais anteriores, que só despertavam interesse às vésperas da eleição.
Nas três principais capitais, representantes dos maiores colégios eleitorais do País, candidatos e partidos precisaram reordenar suas estratégias assim que os primeiros acordes se revelaram bem mais fortes que o esperado. E até o inesperado entrou em cena.
Por exemplo, em São Paulo, Marta Suplicy, pelo histórico e temperamento, seria a candidata mais propensa à movimentação errática. Pois quem enfiou os pés pelas mãos foi justamente o disciplinado Gilberto Kassab, atento à conduta desde que a explosão de ira para com um cidadão durante visita a posto de saúde quase inviabiliza sua candidatura.
Em poucos dias, Kassab produziu duas grandes tolices: o envio de um e-mail recomendando “ação” do secretariado na área onde o instituto Datafolha faria pesquisa de opinião e a distribuição de panfletos aproveitando a divulgação da lista dos “fichas-sujas” para constranger a candidata do PT.
O prefeito ao mesmo tempo entregou prova material do uso da máquina administrativa, demonstrou uma confiança pueril em uma equipe formada por tucanos e integrada por uma boa fornada remanescente de petistas, e ainda deu mostras de desatenção, de falta de assessoria ao se esquecer de que, ficha por ficha, a dele também carrega a mácula de um processo ainda em aberto onde é co-réu em processo contra o ex-prefeito Celso Pitta de quem foi secretário de Planejamento.
Logo ele que havia conseguido apagar essa parte do passado que, quando da escolha do candidato a vice de José Serra para prefeito, em 2004, provocou protestos generalizados, incluídos aí os do próprio Serra.
Além disso, não se mexeu nas pesquisas - a não ser um pouco para baixo - e inibiu o tucanato, até então seu aliado, a pôr as mangas de fora. Na realidade, na prefeitura o clima anda mais para barbas de molho, com medo de Kassab não passar de uma intenção.
Em Belo Horizonte, a expectativa era a de que Márcio Lacerda, candidato da popular e dinâmica dupla Aécio Neves-Fernando Pimentel, fizesse jus desde o início ao esforço dos padrinhos que se atiraram numa jogada arriscada - tanto pode ser de mestre, quanto revelar-se um desastre ou, pior, uma irrelevância.
É cedo para antecipar resultados, inclusive porque os atuais 6% são até razoáveis para alguém que se passar às 3 da tarde pela avenida Afonso Penna ninguém reconhece.
Mas é certo que Márcio Lacerda não poderá contar apenas com o fator transferência de votos. Terá de mostrar desempenho. Ou, então, corre o risco de levar o governador de Minas e o prefeito de Belo Horizonte a um vexame oceânico.
Resta o Rio. Bem, o Rio é o que está se vendo. Os protagonistas não são os candidatos. É o crime e a rendição do Estado aos seus ditames. Uma coisa esquisita, pois a segurança não diz respeito ao prefeito, mas os candidatos a prefeito serão cobrados a tratar do assunto sem poder dizer que está fora de sua alçada. Sob pena de pagar a conta por covardia ou cumplicidade.
Antiga musa
Apresentada e abandonada em 2004, sob bombardeio intenso, a idéia de controlar, fiscalizar e regulamentar o trabalho da imprensa foi retomada pelo governo.
Há quatro anos, a pedido da Federação Nacional dos Jornalistas, o governo propôs ao Congresso a criação do Conselho Federal de Jornalismo.
Recuou, mas agora, por solicitação também da Fenaj, o Ministério do Trabalho criou um grupo de trabalho para “estudar” a questão. Discretamente.
Tradução
O governador de São Paulo, José Serra, saiu do encontro com o presidente Lula na quarta-feira dizendo que a ministra Dilma Rousseff é uma pessoa “preparada” para disputar a eleição presidencial de 2010.
Só deixou de completar - e jamais o fará em público - o pensamento: que Dilma está preparadíssima para perder.
Aero-milonga
As agruras sofridas por brasileiros retidos semana passada nas mãos da Aerolíneas Argentinas não são fruto de crise circunstancial nem um caso isolado. É prática usual.
Há oito anos, duas brasileiras foram a Buenos Aires. Compraram passagens na classe executiva, de ida e volta. Na ida, uma delas viajou na econômica, enquanto as poltronas da executiva eram ocupadas por funcionários da empresa.
Na volta, ambas foram despachadas para a econômica. Sem nenhuma explicação nem oferta de compensação.
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