Marcos Coimbra
Sociólogo
DEU NO ESTADO DE MINAS
O que parece mais possível é que o governo continue em queda por algum tempo, pois tendências como as que estamos vendo não se desfazem da noite para o dia
As recentes pesquisas do Ibope e do Datafolha têm muitos resultados interessantes e devem ser objeto de discussão nos meios políticos durante as próximas semanas. Certos números chegam, até, a ser surpreendentes, como os relativos às eleições para governador em alguns estados.
Em uma coisa, no entanto, elas não deveriam ter causado espantos maiores. A queda na avaliação do governo federal é apenas a confirmação de uma mudança antecipada, que todos esperavam que as novas pesquisas constatassem.
Seu primeiro sinal foi dado na pesquisa Sensus de janeiro, onde se via que a aprovação do governo havia parado de crescer. Entre dezembro de 2008 e o início deste ano, os números permanecerem iguais, com 71% e 72% dos entrevistados, respectivamente, dizendo que o governo era “ótimo” ou “bom”.
Para qualquer um dos nossos presidentes modernos, essa seria uma excelente notícia. Para Lula, no entanto, ela continha um presságio preocupante.
A pesquisa registrava o que parecia ser uma mudança de tendência, que contrariava o que tínhamos visto desde o reinício do governo, depois das eleições de 2006. Se ela viesse sozinha, se nada a justificasse na situação do país, aquela estabilidade talvez não quisesse dizer nada. Mas não era esse o caso, pois a piora do cenário econômico, provocada pela crise internacional, a explicava.
Olhando a série histórica do Datafolha, vemos que, entre março de 2007 e março de 2008, a avaliação positiva do governo passou de 48% a 55% e continuou subindo, até alcançar 70% no final de novembro do ano passado. Em outras palavras, nos dois últimos anos, a proporção de pessoas que aprovava de maneira enfática o governo aumentou quase 50%.
Isso foi verdade até janeiro de 2009, quando aconteceu uma interrupção nesse crescimento. Primeiro, a avaliação positiva parou de aumentar e ficou no mesmo lugar, sustentada por uma inércia residual. Depois, de fevereiro para março, conforme indicam essas pesquisas mais recentes, tivemos uma inflexão na trajetória, seguida de uma queda. No Datafolha, a avaliação positiva ficou em 65%, 5 pontos abaixo dos 70% de novembro.
Todas as pesquisas feitas ao longo de 2008 mostraram, também, um fenômeno que se poderia considerar intrigante: enquanto crescia a avaliação positiva do governo, em geral, seu desempenho médio, área por área, teimava em ficar aquém do todo. A nota do governo, considerado em seu conjunto, era maior que a nota média das partes.
A explicação desse paradoxo é que havia algo no ambiente que impulsionava para cima os sentimentos da opinião pública. Algo que não necessariamente decorria dele ou de sua ação, mas que melhorava as percepções da sociedade sobre o país, a economia, o emprego, o desenvolvimento.
Essa satisfação difusa beneficiava o governo, ao fazer com que as pessoas se sentissem bem com ele. Mais favoráveis que quando tinham que pensar de maneira objetiva, julgando suas ações em áreas vitais como a política econômica, a saúde, a educação, a segurança pública.
Lula surfou com competência a boa onda que a economia brasileira viveu nos últimos anos. É arriscado dizer que os indicadores de qualquer presidente, governando em um cenário de crescimento, também melhorariam, mas é provável que sim.
Quando terminou o segundo turno da eleição de 2006, Lula estava grande. Foi muito bom, para ele, que, logo a seguir, o ritmo de crescimento da economia mundial se acelerasse, ajudando o Brasil a crescer com o mundo. Seu governo contribuiu para isso, mas foi igualmente responsável pelo pouco que se fez para que superássemos entraves crônicos para o desenvolvimento sustentável.
O que virá pela frente, ninguém sabe. O que parece mais possível é que o governo continue em queda por algum tempo, pois tendências como as que estamos vendo não se desfazem da noite para o dia. Como Lula tem muita gordura para queimar, pode ser que caia ainda, mas que termine ficando acima de seus antecessores.
Em qualquer hipótese, continuará a ser um ator crucial no jogo da eleição de 2010.
Sociólogo
DEU NO ESTADO DE MINAS
O que parece mais possível é que o governo continue em queda por algum tempo, pois tendências como as que estamos vendo não se desfazem da noite para o dia
As recentes pesquisas do Ibope e do Datafolha têm muitos resultados interessantes e devem ser objeto de discussão nos meios políticos durante as próximas semanas. Certos números chegam, até, a ser surpreendentes, como os relativos às eleições para governador em alguns estados.
Em uma coisa, no entanto, elas não deveriam ter causado espantos maiores. A queda na avaliação do governo federal é apenas a confirmação de uma mudança antecipada, que todos esperavam que as novas pesquisas constatassem.
Seu primeiro sinal foi dado na pesquisa Sensus de janeiro, onde se via que a aprovação do governo havia parado de crescer. Entre dezembro de 2008 e o início deste ano, os números permanecerem iguais, com 71% e 72% dos entrevistados, respectivamente, dizendo que o governo era “ótimo” ou “bom”.
Para qualquer um dos nossos presidentes modernos, essa seria uma excelente notícia. Para Lula, no entanto, ela continha um presságio preocupante.
A pesquisa registrava o que parecia ser uma mudança de tendência, que contrariava o que tínhamos visto desde o reinício do governo, depois das eleições de 2006. Se ela viesse sozinha, se nada a justificasse na situação do país, aquela estabilidade talvez não quisesse dizer nada. Mas não era esse o caso, pois a piora do cenário econômico, provocada pela crise internacional, a explicava.
Olhando a série histórica do Datafolha, vemos que, entre março de 2007 e março de 2008, a avaliação positiva do governo passou de 48% a 55% e continuou subindo, até alcançar 70% no final de novembro do ano passado. Em outras palavras, nos dois últimos anos, a proporção de pessoas que aprovava de maneira enfática o governo aumentou quase 50%.
Isso foi verdade até janeiro de 2009, quando aconteceu uma interrupção nesse crescimento. Primeiro, a avaliação positiva parou de aumentar e ficou no mesmo lugar, sustentada por uma inércia residual. Depois, de fevereiro para março, conforme indicam essas pesquisas mais recentes, tivemos uma inflexão na trajetória, seguida de uma queda. No Datafolha, a avaliação positiva ficou em 65%, 5 pontos abaixo dos 70% de novembro.
Todas as pesquisas feitas ao longo de 2008 mostraram, também, um fenômeno que se poderia considerar intrigante: enquanto crescia a avaliação positiva do governo, em geral, seu desempenho médio, área por área, teimava em ficar aquém do todo. A nota do governo, considerado em seu conjunto, era maior que a nota média das partes.
A explicação desse paradoxo é que havia algo no ambiente que impulsionava para cima os sentimentos da opinião pública. Algo que não necessariamente decorria dele ou de sua ação, mas que melhorava as percepções da sociedade sobre o país, a economia, o emprego, o desenvolvimento.
Essa satisfação difusa beneficiava o governo, ao fazer com que as pessoas se sentissem bem com ele. Mais favoráveis que quando tinham que pensar de maneira objetiva, julgando suas ações em áreas vitais como a política econômica, a saúde, a educação, a segurança pública.
Lula surfou com competência a boa onda que a economia brasileira viveu nos últimos anos. É arriscado dizer que os indicadores de qualquer presidente, governando em um cenário de crescimento, também melhorariam, mas é provável que sim.
Quando terminou o segundo turno da eleição de 2006, Lula estava grande. Foi muito bom, para ele, que, logo a seguir, o ritmo de crescimento da economia mundial se acelerasse, ajudando o Brasil a crescer com o mundo. Seu governo contribuiu para isso, mas foi igualmente responsável pelo pouco que se fez para que superássemos entraves crônicos para o desenvolvimento sustentável.
O que virá pela frente, ninguém sabe. O que parece mais possível é que o governo continue em queda por algum tempo, pois tendências como as que estamos vendo não se desfazem da noite para o dia. Como Lula tem muita gordura para queimar, pode ser que caia ainda, mas que termine ficando acima de seus antecessores.
Em qualquer hipótese, continuará a ser um ator crucial no jogo da eleição de 2010.
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