Para eleger a ministra Dilma Rousseff sucessora, de preferência no primeiro turno, o governo Lula atua no limite da legislação eleitoral. É disso que se trata, evitar o segundo turno, quando o presidente fala em eleição plebiscitária, "nós contra eles". Mas para que isso ocorra, é preciso que o deputado Ciro Gomes não se empolgue em demasia com seus índices nas pesquisas de opinião e leve até o fim o "projeto" presidencial do PSB.
Atendendo agora em novo domicílio, o deputado pessebista deixa empacado até o PT de São Paulo, que não sabe se ele será candidato ao governo do Estado ou seguirá candidato à sucessão de Lula. Essa é uma decisão a ser tomada por Ciro, Lula e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, quem efetivamente controla o PSB como antes controlava o seu avô, o ex-governador Miguel Arraes.
Uma coisa parece certa: o PT paulista obedecerá ao que Lula mandar. Por enquanto, a ex-prefeita Marta Suplicy e parte de seu grupo estão isolados na defesa da tese da candidatura própria ao governo estadual, muito embora a grande maioria dos petistas preferissem apresentar um nome ao lugar de José Serra no Palácio dos Bandeirantes.
Eduardo Campos, por seu turno, propaga aos quatro ventos que, até agora, tudo o que o PSB fez foi previamente combinado com Lula. Ou seja, assim como botou Ciro no circuito presidencial, o PSB pode tirá-lo. Mas como cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém, o governo petista e suas engrenagens trabalham para que Dilma consolide logo uma vantagem em relação a Ciro Gomes, nas pesquisas, que não dê margem a empolgações aliadas.
A fim de atingir esse objetivo, o presidente e sua candidata atuam na área fronteiriça entre o que proíbe e o que permite a legislação eleitoral. E pende mais para o que é proibido. Prova disso é a "Caravana do São Francisco", semana passada, feita sob medida para Dilma ocupar o noticiário dos jornais, rádio e televisão. Por esse aspecto, a viagem pode ser considerada um sucesso, a ponto de os petistas dizerem que "mais duas iguais..."
Durante a viagem ao Sertão nordestino, não houve um só discurso de Lula que não estivesse tingido das cores eleitorais. O presidente bateu em José Serra, governador de São Paulo e mais provável candidato das oposições pelo PSDB, em Jarbas Vasconcelos, aliado do tucano no PMDB. Lula também confirmou o que antes era sussurrado nos bastidores do Palácio do Planalto: ele quer uma eleição plebiscitária, na base do "nós contra eles". Só não repetiu que quer comparar seus oito anos com os oito do antecessor tucano, Fernando Henrique Cardoso (comparação, aliás, que já é vista como inócua por alguns marqueteiros - já faz muito tempo que FHC deixou o Planalto).
Nada disso é gratuito.
A "Caravana do São Francisco" foi cuidadosamente pensada por um grupo que ajuda a ministra Dilma a tocar a pré-campanha. Não se trata propriamente de uma coordenação - o partido tem outro grupo que esboça um programa de governo para a candidata -, mas se reúne semanalmente para analisar a conjuntura e pensar a agenda da ministra, que é cada vez mais de Dilma Rousseff (ontem ela estava no interior de São Paulo) e menos de gerente do PAC. São viagens híbridas, meio de campanha, meio de ministra de Estado, de modo a não ser pega no contrapé pela Justiça Eleitoral.
O grupo que assessora a ministra e candidata também é híbrido. Tem gente do PT e gente da copa e cozinha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No primeiro time estão os deputados Ricardo Berzoini (SP), presidente do partido, o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci (SP) e o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel. Da bancada governista estão Gilberto Carvalho, chefe de gabinete de Lula, e o cada vez mais influente Franklin Martins, que cuida tanto da comunicação social como de assuntos outros de governo e da estratégia da pré-campanha.
Do grupo faz parte também o marqueteiro do PT, João Santana, que, aparentemente, pouco se incomoda com o fortalecimento de Franklin na formulação política da campanha. Santana estava entre os que defenderam a convocação de Franklin para o ministério Lula. O sujeito oculto da campanha é ele mesmo, José Dirceu.
Dilma também faz treinamento para lidar com as diversas mídias. É com esse grupo que discutirá como será sua participação no programa partidário do PT, a ser exibido em dezembro próximo (o do PSDB será em novembro). É mais uma área cinzenta entre o que é legal e o ilegal em que se desenvolve a campanha da candidata.
Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras
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