Ronaldo D’Ercole e Ricardo Galhardo
São Paulo e São Carlos (SP).
DEU EM O GLOBO
Horas depois de ouvir mais uma reclamação pública do presidente da República - que pediu que a direção da Vale levante da cadeira -, Roger Agnelli apresentou a Lula projetos de US$ 12,9 bilhões que já tinha.
Após cobrança de Lula, Vale mantém projetos
No dia em que presidente diz que não dá para "ficar sentado na cadeira", Agnelli confirma US$ 12,9 bi para 2010
Depois de uma reunião de mais de uma hora e meia com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem apresentou os planos de investimento da companhia para 2010, que somam US$ 12,9 bilhões (R$ 24,5 bilhões), o presidente da Vale, Roger Agnelli, disse ontem que “nem sonha” em sair do cargo.
Do total de recursos que irá desembolsar, R$ 15,5 bilhões serão investidos no país, o que segundo ele, é o maior plano de investimentos de uma empresa privada no mundo. Os investimentos, no entanto, já estavam programados. Antes da crise, a Vale pretendia investir US$ 14 bilhões. Reduziu para US$ 9 bilhões e depois voltou a US$ 12 bilhões, praticamente o mesmo valor anunciado ontem.
Mais cedo, diante de uma plateia de 300 empresários brasileiros e colombianos, entre os quais o próprio Agnelli, o presidente Lula disse que a direção da Vale não pode mais ficar “sentada em uma cadeira no Rio de Janeiro, achando que é grande”. A frase foi dita em evento que contou com o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe. Falando diretamente para Agnelli, Lula disse que o tempo de moleza acabou.
— Acabou o tempo em que o mundo era totalmente distante um país do outro e que a gente ficava aqui parado esperando alguém vir comprar.
Eu tô vendo o Roger ali sentado.
Aliás (a Vale) está fazendo investimento de US$ 380 milhões na Colômbia e pode até fazer um pouco mais porque ouvi dizer que lá tem muito carvão. Pois até o Roger sabe que não adianta a Vale do Rio Doce ficar achando que é grande, ficar sentado numa cadeira no Rio de Janeiro e não ir para a rua vender. É preciso disputar cada milímetro. Não existe moleza.
Agnelli diz que siderúrgicas dependem de licenças
Na área siderúrgica, onde a empresa é mais cobrada pelo governo para investir, Agnelli disse que a Vale mantém sua participação nos quatro projetos já anunciados para o país — a CSA (RJ), e as plantas no Ceará, no Pará e no Espírito Santo. Mas afirmou que continuam faltando as licenças ambientais. Segundo ele, quando entrarem em operação, os projetos aumentarão em 45% a produção de aço.
— O caminho crítico são as licenças. Na siderurgia, entendemos que o Brasil é o melhor lugar para a produção de aço, o minério é barato e temos tecnologia. Mas os planos de associação dependem dos licenciamentos ambientais — disse, citando as siderúrgicas do Espírito Santo e do Pará.
O presidente da Vale insistiu ainda que a extração de minério de ferro agrega valor ao produto.
— Valor agregado, todo mundo fala mas não é bem assim. A mineração é atividade que agrega valor. Tirar minério do morro quando ele não vale nada e aplicar tecnologia para transformar em algo rentável, é agregar valor — disse Agnelli.
Sobre a relação com o presidente Lula, Agnelli disse que sempre recebeu apoio e carinho, e que o presidente está no seu papel ao cobrar das empresas mais investimentos: — A expectativa do presidente é a mesma que tenho dentro da empresa. Eu cobro de todos os meus diretores e gerentes o dia inteiro. Acho que o presidente está no papel dele. Ele é um craque nesse ponto —disse ele.
Agnelli fez questão de dizer ainda que não representa nem foi indicado por nenhum acionista específico para o cargo.
— Não fui indicado pelo Bradesco e não represento o Bradesco.
A gestão da companhia é ditada por normas claras. Eu trabalho para todos os acionistas.
E acrescentou: — Nunca tive ciência de que alguém quisesse me tirar (da presidência), nem sonho em sair e nem tenho sonhado.
Da reunião com a Vale participaram ainda os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Guido Mantega (Fazenda), além dos representantes dos principais acionistas da Vale: Luciano Coutinho (presidente do BNDES), Sérgio Rosa (Previ), Oscar Camargo (representante do grupo japonês Mitsui) e João Moisés de Oliveira (da Bradespar).
Dos R$ 15,5 bilhões que a Vale aplicará em projetos no Brasil ano que vem, 51% serão aplicados em minério — 30% em exploração e 21% em logística.
Outros 31% serão destinados ao metais não ferrosos, 7% em carvão, 6% em energia e 3% em siderurgia.
Criticado pelo presidente de investir pouco no país, Agnelli lembrou que os recursos que a companhia aplicará em projetos aqui ano que vem correspondem a cinco vezes mais que a média anual pós-privatização (1997) e a 18 vezes o que era investido nos tempos de estatal da Vale.
A direção do Bradesco negou ontem que tenha intenção de fazer alterações na direção da Vale. O presidente do Conselho de Administração do banco, Lázaro de Mello Brandão, foi taxativo.
— Não temos intenção de fazer qualquer alteração na Vale.
Estamos quietos.
Mais tarde, num evento da revista “Carta Capital”, o presidente Lula foi indagado sobre o plano de investimentos da Vale, respondeu: — Se não for só no papel, estamos bem na fita.
Na cerimônia, a Natura foi escolhida pelo júri da revista como a empresa mais admirada do país. A segunda foi a Vale. Roger Agnelli, ao receber o prêmio, foi o mais aplaudido da noite.
Em evento, Lula cobrou da elite de empresários: — Vocês já conhecem Paris, Miami, Nova York. Mas precisam ir para Cabrobó, Floresta.
Gostaria que vocês vissem que essas pessoas já estão comendo chocolate da Nestlé, comprando produtos da Natura. As pessoas que moram no andar de baixo, estão subindo. Devagar, mas para o de cima — discursou.
A origem da aversão de Lula em relação à administração de Agnelli teve origem em dezembro quando, diante dos primeiros sinais de que a crise econômica global aportaria no Brasil, a Vale cortou investimentos e demitiu funcionários.
Foram 1.200 demissões, 5.500 funcionários em férias coletivas e 1.200 realocados.
Além disso, sob o comando de Agnelli, a Vale reduziu a produção em 30 milhões de toneladas métricas anuais.
Para o Planalto, a decisão da Vale provocou uma reação em cadeia em outras empresas, o que teria acentuado os efeitos da crise no Brasil.
Presidente diz: ‘não preciso fazer as pazes com ninguém’
Passada a turbulência econômica mundial, o Planalto passou a investir na saída de Agnelli — indicado pelo Bradesco, um dos acionistas da Vale (a Bradespar detém 30% das ações) e que controla a companhia em parceria com os fundos de pensão Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras), Funcef (CEF) e a japonesa Mitsui.
Antes da reunião com Agnelli, Lula disse que não seria necessário fazer as pazes com o presidente da Vale: —O presidente da República não precisa fazer as pazes com ninguém. Sou um homem de paz.
Citando a China como exemplo, a ministra Dilma Rousseff disse que o governo “tem a obrigação” de defender os interesses do povo brasileiro ao exigir a industrialização dos minérios no próprio país.
— Nós exportamos minérios e importamos produtos siderúrgicos da China, que custam muito mais e que tem neles agregado o valor do trabalhador chinês. O governo federal, que tem a obrigação de zelar pelo interesse do povo brasileiro, quer que não se exporte só minério bruto, mas que se agregue valor no Brasil.
Uma reivindicação que eu considero muito importante.
O presidente Lula lançou ontem um desafio para que os empresários brasileiros e colombianos dupliquem o comércio entre os dois países, que fechou 2008 em U$ 3,2 bilhões. Segundo ele, o fluxo de comércio entre Brasil e Colômbia poderia chegar a US$ 10 bilhões e o investimento do Brasil no país vizinho deveria ultrapassar os atuais US$ 1,3 milhão.
A mineração é atividade que agrega valor. Tirar minério do morro quando ele não vale nada e aplicar tecnologia para transformar em algo rentável, é agregar valor
ROGER AGNELLI, presidente da Vale
São Paulo e São Carlos (SP).
DEU EM O GLOBO
Horas depois de ouvir mais uma reclamação pública do presidente da República - que pediu que a direção da Vale levante da cadeira -, Roger Agnelli apresentou a Lula projetos de US$ 12,9 bilhões que já tinha.
Após cobrança de Lula, Vale mantém projetos
No dia em que presidente diz que não dá para "ficar sentado na cadeira", Agnelli confirma US$ 12,9 bi para 2010
Depois de uma reunião de mais de uma hora e meia com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem apresentou os planos de investimento da companhia para 2010, que somam US$ 12,9 bilhões (R$ 24,5 bilhões), o presidente da Vale, Roger Agnelli, disse ontem que “nem sonha” em sair do cargo.
Do total de recursos que irá desembolsar, R$ 15,5 bilhões serão investidos no país, o que segundo ele, é o maior plano de investimentos de uma empresa privada no mundo. Os investimentos, no entanto, já estavam programados. Antes da crise, a Vale pretendia investir US$ 14 bilhões. Reduziu para US$ 9 bilhões e depois voltou a US$ 12 bilhões, praticamente o mesmo valor anunciado ontem.
Mais cedo, diante de uma plateia de 300 empresários brasileiros e colombianos, entre os quais o próprio Agnelli, o presidente Lula disse que a direção da Vale não pode mais ficar “sentada em uma cadeira no Rio de Janeiro, achando que é grande”. A frase foi dita em evento que contou com o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe. Falando diretamente para Agnelli, Lula disse que o tempo de moleza acabou.
— Acabou o tempo em que o mundo era totalmente distante um país do outro e que a gente ficava aqui parado esperando alguém vir comprar.
Eu tô vendo o Roger ali sentado.
Aliás (a Vale) está fazendo investimento de US$ 380 milhões na Colômbia e pode até fazer um pouco mais porque ouvi dizer que lá tem muito carvão. Pois até o Roger sabe que não adianta a Vale do Rio Doce ficar achando que é grande, ficar sentado numa cadeira no Rio de Janeiro e não ir para a rua vender. É preciso disputar cada milímetro. Não existe moleza.
Agnelli diz que siderúrgicas dependem de licenças
Na área siderúrgica, onde a empresa é mais cobrada pelo governo para investir, Agnelli disse que a Vale mantém sua participação nos quatro projetos já anunciados para o país — a CSA (RJ), e as plantas no Ceará, no Pará e no Espírito Santo. Mas afirmou que continuam faltando as licenças ambientais. Segundo ele, quando entrarem em operação, os projetos aumentarão em 45% a produção de aço.
— O caminho crítico são as licenças. Na siderurgia, entendemos que o Brasil é o melhor lugar para a produção de aço, o minério é barato e temos tecnologia. Mas os planos de associação dependem dos licenciamentos ambientais — disse, citando as siderúrgicas do Espírito Santo e do Pará.
O presidente da Vale insistiu ainda que a extração de minério de ferro agrega valor ao produto.
— Valor agregado, todo mundo fala mas não é bem assim. A mineração é atividade que agrega valor. Tirar minério do morro quando ele não vale nada e aplicar tecnologia para transformar em algo rentável, é agregar valor — disse Agnelli.
Sobre a relação com o presidente Lula, Agnelli disse que sempre recebeu apoio e carinho, e que o presidente está no seu papel ao cobrar das empresas mais investimentos: — A expectativa do presidente é a mesma que tenho dentro da empresa. Eu cobro de todos os meus diretores e gerentes o dia inteiro. Acho que o presidente está no papel dele. Ele é um craque nesse ponto —disse ele.
Agnelli fez questão de dizer ainda que não representa nem foi indicado por nenhum acionista específico para o cargo.
— Não fui indicado pelo Bradesco e não represento o Bradesco.
A gestão da companhia é ditada por normas claras. Eu trabalho para todos os acionistas.
E acrescentou: — Nunca tive ciência de que alguém quisesse me tirar (da presidência), nem sonho em sair e nem tenho sonhado.
Da reunião com a Vale participaram ainda os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Guido Mantega (Fazenda), além dos representantes dos principais acionistas da Vale: Luciano Coutinho (presidente do BNDES), Sérgio Rosa (Previ), Oscar Camargo (representante do grupo japonês Mitsui) e João Moisés de Oliveira (da Bradespar).
Dos R$ 15,5 bilhões que a Vale aplicará em projetos no Brasil ano que vem, 51% serão aplicados em minério — 30% em exploração e 21% em logística.
Outros 31% serão destinados ao metais não ferrosos, 7% em carvão, 6% em energia e 3% em siderurgia.
Criticado pelo presidente de investir pouco no país, Agnelli lembrou que os recursos que a companhia aplicará em projetos aqui ano que vem correspondem a cinco vezes mais que a média anual pós-privatização (1997) e a 18 vezes o que era investido nos tempos de estatal da Vale.
A direção do Bradesco negou ontem que tenha intenção de fazer alterações na direção da Vale. O presidente do Conselho de Administração do banco, Lázaro de Mello Brandão, foi taxativo.
— Não temos intenção de fazer qualquer alteração na Vale.
Estamos quietos.
Mais tarde, num evento da revista “Carta Capital”, o presidente Lula foi indagado sobre o plano de investimentos da Vale, respondeu: — Se não for só no papel, estamos bem na fita.
Na cerimônia, a Natura foi escolhida pelo júri da revista como a empresa mais admirada do país. A segunda foi a Vale. Roger Agnelli, ao receber o prêmio, foi o mais aplaudido da noite.
Em evento, Lula cobrou da elite de empresários: — Vocês já conhecem Paris, Miami, Nova York. Mas precisam ir para Cabrobó, Floresta.
Gostaria que vocês vissem que essas pessoas já estão comendo chocolate da Nestlé, comprando produtos da Natura. As pessoas que moram no andar de baixo, estão subindo. Devagar, mas para o de cima — discursou.
A origem da aversão de Lula em relação à administração de Agnelli teve origem em dezembro quando, diante dos primeiros sinais de que a crise econômica global aportaria no Brasil, a Vale cortou investimentos e demitiu funcionários.
Foram 1.200 demissões, 5.500 funcionários em férias coletivas e 1.200 realocados.
Além disso, sob o comando de Agnelli, a Vale reduziu a produção em 30 milhões de toneladas métricas anuais.
Para o Planalto, a decisão da Vale provocou uma reação em cadeia em outras empresas, o que teria acentuado os efeitos da crise no Brasil.
Presidente diz: ‘não preciso fazer as pazes com ninguém’
Passada a turbulência econômica mundial, o Planalto passou a investir na saída de Agnelli — indicado pelo Bradesco, um dos acionistas da Vale (a Bradespar detém 30% das ações) e que controla a companhia em parceria com os fundos de pensão Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras), Funcef (CEF) e a japonesa Mitsui.
Antes da reunião com Agnelli, Lula disse que não seria necessário fazer as pazes com o presidente da Vale: —O presidente da República não precisa fazer as pazes com ninguém. Sou um homem de paz.
Citando a China como exemplo, a ministra Dilma Rousseff disse que o governo “tem a obrigação” de defender os interesses do povo brasileiro ao exigir a industrialização dos minérios no próprio país.
— Nós exportamos minérios e importamos produtos siderúrgicos da China, que custam muito mais e que tem neles agregado o valor do trabalhador chinês. O governo federal, que tem a obrigação de zelar pelo interesse do povo brasileiro, quer que não se exporte só minério bruto, mas que se agregue valor no Brasil.
Uma reivindicação que eu considero muito importante.
O presidente Lula lançou ontem um desafio para que os empresários brasileiros e colombianos dupliquem o comércio entre os dois países, que fechou 2008 em U$ 3,2 bilhões. Segundo ele, o fluxo de comércio entre Brasil e Colômbia poderia chegar a US$ 10 bilhões e o investimento do Brasil no país vizinho deveria ultrapassar os atuais US$ 1,3 milhão.
A mineração é atividade que agrega valor. Tirar minério do morro quando ele não vale nada e aplicar tecnologia para transformar em algo rentável, é agregar valor
ROGER AGNELLI, presidente da Vale
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