SÃO PAULO - Pior que o apagão elétrico da terça-feira é o apagão mental que assola boa parte da elite dirigente brasileira. Trata-se de um blecaute permanente, sinal de que o subdesenvolvimento não é apenas econômico e social mas também de cultura política.
Apagão mental, por exemplo, é o do ministro Tarso Genro (Justiça), que classificou o blecaute de "microincidente", incapaz por isso de turvar o "nunca antes" neste país que se tornou a história oficial. Tarso não entende nada do assunto, que não é de sua área de atuação.
Mas precisava mostrar servilismo ao chefe -uma evidência de subdesenvolvimento político.Que o próprio chefe, depois, tenha chamado o "microincidente" de "desastre" não fez Tarso corar de vergonha. Levar pito do líder é um clássico nos casos de culto à personalidade, que também é sinal de subdesenvolvimento.
Apagão cultural deu-se igualmente com Dilma Rousseff, que decretou "caso encerrado", apenas para ser, ela também, desmentida pelo chefe. De novo, é típico do subdesenvolvimento da cultura política tapuia achar que não é preciso prestar contas ao público por problemas que afetam a vida de uma ou de milhões de pessoas.
Menos mal que, no público, há quem enxergue com clareza as coisas, caso de Cornelio Celso de Brasil Camargo, do Laboratório de Planejamento de Sistemas de Energia Elétrica da UFSC, que escreveu à Folha sobre o que fez o governo norte-americano no apagão de Nova York em 1965: "O governo não buscou evasivas, não fez uso político do evento e palpiteiros de plantão não foram ouvidos. A preocupação foi esclarecer tecnicamente o que aconteceu.
Foi montada uma comissão federal de alto nível, com técnicos de empresas elétricas e professores de universidades, para emitir um relatório", lembrou o leitor. Acender as luzes não é tão difícil, não é mesmo?
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