DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Crise fez a produção cair 7,4% em 2009, mas no fim do ano começou a se recuperar, em velocidade acelerada
Jacqueline Farid e Alexandre Rodrigues
RIO – A crise global derrubou a produção da indústria brasileira em 2009. A queda foi de 7,4%, o pior resultado das últimas duas décadas e o primeiro dado negativo anual apurado pelo IBGE em 10 anos. Apesar do tombo, o setor fechou o ano em processo de recuperação, com retomada dos investimentos.
Em dezembro, a produção subiu 18,9% ante o mesmo mês de 2008. Houve queda de 0,3% em relação a novembro, mas a economista da Coordenação de Indústria do IBGE, Isabella Nunes, avalia que não há reversão na tendência de expansão. Sobre a queda anual, ela lembra que o ano passado foi marcado por uma recuperação gradual em relação ao tombo de dezembro de 2008, fundo do poço para as indústrias. A reação ocorreu sobretudo no segundo semestre.
Apesar dos avanços, a indústria terminou o ano com a produção ainda no nível de setembro de 2007. Fechou 2009 ainda 6,2% abaixo do nível recorde obtido em setembro de 2008, mês que marcou o último momento de forte atividade antes do início da crise. "A indústria está em processo de recuperação, mas ainda não foi suficiente para retornar ao patamar pré-crise", salientou Isabella.
A economista ressaltou também que, apesar do resultado da indústria em 2009 só ter encontrado queda similar em 1990, ano do confisco da poupança, no governo Collor de Mello, a recuperação se deu com muito mais qualidade e rapidez em 2009. "A conjuntura no ano passado foi diferente, com manutenção da renda e do emprego e inflação dentro da meta."
Esse panorama, incrementado por incentivos fiscais e recomposição do crédito, foi justamente o que a economista destacou para explicar o fato de a recuperação da indústria ter sido puxada em 2009 pelos segmentos voltados para o mercado interno, enquanto os mais atrelados às exportações tiveram maior dificuldade de reação.
REAÇÃO
Em dezembro, o fim dos incentivos fiscais para os automóveis, em outubro, marcou o resultado da indústria. A queda de 0,3% apurada em relação ao indicador do mês anterior foi provocada em grande parte pelo recuo de 1,2% na produção de veículos automotores. A produção de bens de consumo duráveis (automóveis, eletrodomésticos) caiu 4,9% nessa comparação.
Segundo Isabella, houve "uma perda de fôlego" do setor, que, no entanto, prossegue em processo de lenta recuperação. Para ela, os resultados de automotores e duráveis representam "uma acomodação após um forte crescimento registrado até outubro" e podem estar relacionados ao fim dos incentivos fiscais para a indústria automobilística.
A economista Luiza Rodrigues, do Banco Santander , concorda com Isabella. Segundo ela, a queda na produção em dezembro ante novembro pode ser creditada exclusivamente aos automóveis. "Retirados os efeitos dos incentivos fiscais, a indústria mostra um crescimento modesto, mas consistente", avalia.
Alessandra Ribeiro e Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria, também creditam a queda na indústria em dezembro ante novembro aos bens de consumo duráveis. Em relatório sobre a pesquisa do IBGE, eles afirmam que, no caso desses bens, "o resultado sugere alguma acomodação após as fortes altas ao longo do ano, que sinalizavam a antecipação do consumo estimulado pelos incentivos fiscais para automóveis e eletrodomésticos de linha branca".
Isabella argumenta que o índice de difusão da produção industrial em dezembro "confirma a recuperação industrial em curso e mostra que essa recuperação se dá de forma espalhada".
O índice mostrou que, no mês, 66% dos produtos industriais investigados na pesquisa tiveram crescimento na produção em relação a dezembro de 2008. O resultado foi bem superior ao apurado em novembro (55,8%), na mesma base de comparação.
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