DEU EM O GLOBO
Ao se despedir para disputar Planalto, tucano tenta marcar diferenças com petistas, sem citá-los
Flávio Freire, Leila Suwwan, Sérgio Roxo e Gilberto Scofield
SÃO PAULO. Com um discurso recheado de críticas veladas ao governo federal, embora sem citar nomes ou se referir diretamente às eleições deste ano, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), de 68 anos, fez ontem um balanço de sua gestão que, segundo ele, não cultivou escândalos nem roubalheiras. Cercado de todo o secretariado, deputados, senadores, parentes e prefeitos de partidos aliados, Serra — que amanhã deixa o cargo para se candidatar à Presidência da República — afirmou que não adotou em seu governo o “silêncio da cumplicidade”. E repudiou a “espetacularização que alimenta mitologias”, frisando que governos, assim como pessoas, precisam ser honrados.
— Estou convencido de que o governo, assim como as pessoas, tem que ter honra. E assim falo não só porque aqui não se cultiva escândalos, malfeitos, roubalheira, mas também porque nunca incentivamos o silêncio da cumplicidade e da conivência com o malfeito — disse Serra, que, no entanto, não citou os casos de corrupção que marcaram a política nos últimos anos, como o mensalão.
Em cerimônia para 6 mil pessoas no Palácio dos Bandeirantes, Serra repetiu, em seu discurso de despedida, palavras como caráter, ao definir como se deve governar.
— Acho que os governos, como as pessoas, têm que ter caráter. Caráter e índole. E este caráter se expressa na maneira de ser e na maneira de agir. Este é um governo de caráter, que manteve sua coerência, não cedeu à demagogia, a soluções fáceis e erradas para problemas difíceis.
Nem se deixou pautar por particularismos e mesquinharias — disse.
‘Sério, mas não sisudo’
O discurso de Serra não foi ancorado no balanço de suas ações, mas na personificação de seu estilo de governar.
Usando sempre a frase “acho que os governos, como as pessoas”, atribuiu à sua gestão as seguintes características: caráter, índole, honra, personalidade, brio profissional, alma, sensibilidade, solidariedade e compromisso.
— Procuro ser sério, mas não sou sisudo. Quem me conhece sabe disso.
Realista, mas não sou pessimista. Calmo, mas não omisso. Otimista, mas não leviano. Monitor, não centralizador.
Aqui está todo o meu secretariado para dar o testemunho de que não sou centralizador. O pessoal de Brasília sorri ironicamente. Mas o pessoal de São Paulo acredita nisso. Os que convivem comigo acreditam que não sou centralizador. Sei que é difícil passar essa ideia, mas é a verdadeira.
O governador frisou também que é fiel ao seu estilo mais discreto: — Muitos, ao longo da minha vida pública, me aconselharam, digamos assim, a ser mais atirado, a buscar mais holofotes, a ser notícia. Dizem alguns que o estilo é o homem. E o meu estilo, se me permite, é este.
Serra envia hoje à Assembleia de São Paulo sua carta de renúncia e fica no cargo até amanhã. Alberto Goldman, o vice, assume o governo oficialmente na próxima terça-feira. No dia 10, em Brasília, Serra lançará sua candidatura à Presidência da República num grande evento partidário. Ontem, Serra não poupou ataques e estocadas nos adversários, sem citar nomes.
Sob aplausos, levantou a voz quando a crítica parecia ter endereço certo: — Repudiamos sempre a espetacularização, a busca da notícia fácil, o protagonismo sem substância que alimenta mitologias. Este governo sabe que não tem nenhuma contradição entre minorar as dificuldades dos que mais sofrem e planejar o futuro.
O tucano também pareceu convocar o eleitorado para o que chamou de “etapa seguinte”, numa clara referência à corrida pela sucessão do presidente Lula, na qual terá como adversária a petista Dilma Rousseff, que ontem deixou a chefia da Casa Civil. Empolgado, subindo a voz, Serra fez um convocação aos convidados: — Vamos juntos. O Brasil pode mais — reforçou ele, aplaudido de pé pelos convidados, aos gritos de “Serra presidente” e “já ganhou”. — A etapa seguinte nos espera. Vou entrar nela com disposição, confiança, fé, serenidade e muito trabalho.
Ao discorrer sobre a política econômica de seu governo, Serra também fez críticas à condução da economia no plano nacional: — Austeridade para nós não é mesquinharia econômica, não. Austeridade é cortar desperdícios, reduzir custos, precisamente para fazer mais com aquilo que se dispõe. Não é para guardar o dinheiro numa burra e deixar longe das necessidades.
Segundo tucanos, a estratégia de Serra será a de demonstrar que reconhece os méritos de seus adversário, mas tem capacidade superior de execução governamental.
— Quando criamos o PSDB, éramos oposição por todos os lados. Mas, de um lado ou de outro, nunca me dei à frivolidade das bravatas. Nunca investi no quando pior, melhor (...) Jamais mobilizei falanges do ódio. Jamais dei meu apoio a uma proposta, uma ação política, porque elas seriam prejudiciais aos meus oponentes. Não sou assim, não ajo assim. Não entendo assim o debate político. E nisso não vou mudar, ainda que venha a ser alvo dessas mesmas falanges. Ao eventual ódio, eu reajo com serenidade de quem tem São Paulo e o Brasil no coração.
Demonstrando estar emocionado, fez questão de destacar algumas de suas iniciativas de governo: o projeto de habitação para idosos abandonados e as plataformas instaladas nas praias para que cadeirantes possam chegar ao mar. Também lembrou ter inaugurado hospitais e ambulatórios.
Disse que duplicou vagas nas escolas e faculdades técnicas, com investimentos de R$ 64 bilhões.
Ao se despedir para disputar Planalto, tucano tenta marcar diferenças com petistas, sem citá-los
Flávio Freire, Leila Suwwan, Sérgio Roxo e Gilberto Scofield
SÃO PAULO. Com um discurso recheado de críticas veladas ao governo federal, embora sem citar nomes ou se referir diretamente às eleições deste ano, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), de 68 anos, fez ontem um balanço de sua gestão que, segundo ele, não cultivou escândalos nem roubalheiras. Cercado de todo o secretariado, deputados, senadores, parentes e prefeitos de partidos aliados, Serra — que amanhã deixa o cargo para se candidatar à Presidência da República — afirmou que não adotou em seu governo o “silêncio da cumplicidade”. E repudiou a “espetacularização que alimenta mitologias”, frisando que governos, assim como pessoas, precisam ser honrados.
— Estou convencido de que o governo, assim como as pessoas, tem que ter honra. E assim falo não só porque aqui não se cultiva escândalos, malfeitos, roubalheira, mas também porque nunca incentivamos o silêncio da cumplicidade e da conivência com o malfeito — disse Serra, que, no entanto, não citou os casos de corrupção que marcaram a política nos últimos anos, como o mensalão.
Em cerimônia para 6 mil pessoas no Palácio dos Bandeirantes, Serra repetiu, em seu discurso de despedida, palavras como caráter, ao definir como se deve governar.
— Acho que os governos, como as pessoas, têm que ter caráter. Caráter e índole. E este caráter se expressa na maneira de ser e na maneira de agir. Este é um governo de caráter, que manteve sua coerência, não cedeu à demagogia, a soluções fáceis e erradas para problemas difíceis.
Nem se deixou pautar por particularismos e mesquinharias — disse.
‘Sério, mas não sisudo’
O discurso de Serra não foi ancorado no balanço de suas ações, mas na personificação de seu estilo de governar.
Usando sempre a frase “acho que os governos, como as pessoas”, atribuiu à sua gestão as seguintes características: caráter, índole, honra, personalidade, brio profissional, alma, sensibilidade, solidariedade e compromisso.
— Procuro ser sério, mas não sou sisudo. Quem me conhece sabe disso.
Realista, mas não sou pessimista. Calmo, mas não omisso. Otimista, mas não leviano. Monitor, não centralizador.
Aqui está todo o meu secretariado para dar o testemunho de que não sou centralizador. O pessoal de Brasília sorri ironicamente. Mas o pessoal de São Paulo acredita nisso. Os que convivem comigo acreditam que não sou centralizador. Sei que é difícil passar essa ideia, mas é a verdadeira.
O governador frisou também que é fiel ao seu estilo mais discreto: — Muitos, ao longo da minha vida pública, me aconselharam, digamos assim, a ser mais atirado, a buscar mais holofotes, a ser notícia. Dizem alguns que o estilo é o homem. E o meu estilo, se me permite, é este.
Serra envia hoje à Assembleia de São Paulo sua carta de renúncia e fica no cargo até amanhã. Alberto Goldman, o vice, assume o governo oficialmente na próxima terça-feira. No dia 10, em Brasília, Serra lançará sua candidatura à Presidência da República num grande evento partidário. Ontem, Serra não poupou ataques e estocadas nos adversários, sem citar nomes.
Sob aplausos, levantou a voz quando a crítica parecia ter endereço certo: — Repudiamos sempre a espetacularização, a busca da notícia fácil, o protagonismo sem substância que alimenta mitologias. Este governo sabe que não tem nenhuma contradição entre minorar as dificuldades dos que mais sofrem e planejar o futuro.
O tucano também pareceu convocar o eleitorado para o que chamou de “etapa seguinte”, numa clara referência à corrida pela sucessão do presidente Lula, na qual terá como adversária a petista Dilma Rousseff, que ontem deixou a chefia da Casa Civil. Empolgado, subindo a voz, Serra fez um convocação aos convidados: — Vamos juntos. O Brasil pode mais — reforçou ele, aplaudido de pé pelos convidados, aos gritos de “Serra presidente” e “já ganhou”. — A etapa seguinte nos espera. Vou entrar nela com disposição, confiança, fé, serenidade e muito trabalho.
Ao discorrer sobre a política econômica de seu governo, Serra também fez críticas à condução da economia no plano nacional: — Austeridade para nós não é mesquinharia econômica, não. Austeridade é cortar desperdícios, reduzir custos, precisamente para fazer mais com aquilo que se dispõe. Não é para guardar o dinheiro numa burra e deixar longe das necessidades.
Segundo tucanos, a estratégia de Serra será a de demonstrar que reconhece os méritos de seus adversário, mas tem capacidade superior de execução governamental.
— Quando criamos o PSDB, éramos oposição por todos os lados. Mas, de um lado ou de outro, nunca me dei à frivolidade das bravatas. Nunca investi no quando pior, melhor (...) Jamais mobilizei falanges do ódio. Jamais dei meu apoio a uma proposta, uma ação política, porque elas seriam prejudiciais aos meus oponentes. Não sou assim, não ajo assim. Não entendo assim o debate político. E nisso não vou mudar, ainda que venha a ser alvo dessas mesmas falanges. Ao eventual ódio, eu reajo com serenidade de quem tem São Paulo e o Brasil no coração.
Demonstrando estar emocionado, fez questão de destacar algumas de suas iniciativas de governo: o projeto de habitação para idosos abandonados e as plataformas instaladas nas praias para que cadeirantes possam chegar ao mar. Também lembrou ter inaugurado hospitais e ambulatórios.
Disse que duplicou vagas nas escolas e faculdades técnicas, com investimentos de R$ 64 bilhões.
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