DEU EM O GLOBO
Um presidente do Banco Central que se debate o dia inteiro na dúvida sobre se fica ou sai assusta um pouco. Foi por isso que, em um dos telefonemas da coluna para um economista, a resposta foi: “Não sei nem quem será o presidente do BC amanhã, como vou saber da taxa de juros futura?” Uma coisa estava certa ontem desde cedo: o Copom aceitará que a inflação fique acima da meta este ano.
O dia amanheceu sob várias expectativas: mudanças na diretoria do Banco Central, permanência ou não de Henrique Meirelles, e o que diria um Relatório de Inflação depois de tanta controvérsia sobre a última Ata, na qual o Copom explicou o oposto do que fez.
A maioria das dúvidas se resolveu logo pela manhã, uma ficou pendente. No final do dia, depois do suspense, da ida inesperada para falar com o presidente Lula, das frases enigmáticas, Meirelles avisou que de amanhã (hoje) não passa. A rigor, ele tem até o dia 3, sábado de Aleluia, para se desincompatibilizar e poder concorrer às eleições.
Saiu o diretor Mário Mesquita, como dito aqui ontem, e assumiu o diretor Carlos Hamilton Vasconcellos de Araújo, que na sua estreia defendeu os mesmos pontos de vista, e disse que o Banco Central está comprometido em defender a meta de inflação. Só que ele falou em convergência para o centro da meta a médio prazo.
O Relatório deixou claro que o Banco Central não vai brigar para manter a inflação no centro da meta este ano.
Trata 2010 como um ano de transição entre a crise do ano passado e o ano de 2011, no qual, pelas expectativas do mercado, a inflação vai convergir para a meta.
O BC disse também, em linguagem cifrada, que há um cronograma de elevação de taxas de juros; que a divergência na última reunião foi entre manter o cronograma original de elevação dos juros começando em abril, ou antecipar para março. Mas o desafio do Banco Central não é nada trivial. Ele está avisando que vai iniciar um período de aperto monetário. Ou seja, várias reuniões com aumentos de 0,5 ponto percentual.
O mercado calcula ao todo 2,5 pontos de elevação.
Essas altas de 45 em 45 dias ocorrerão num ano eleitoral, em que o principal candidato de oposição, que está na frente das pesquisas, é adversário declarado dos juros altos. Em que a candidata do governo nem sequer capta o sentido de metas de inflação. E todo o esforço e a briga serão para manter a inflação na meta no ano que vem, no outro governo. Até hoje, por sete anos e três meses, Henrique Meirelles conseguiu convencer o presidente Lula a deixar o Banco Central conduzir de forma autônoma as decisões do Copom. Este ano, a tarefa é mais difícil.
Até porque não há no governo Lula quem saiba a diferença entre uma inflação de 4,5%, 5% ou 6%. A leniência em relação à inflação pode já estar contratada independentemente de quem seja o presidente do Banco Central. A pressão do crescimento está sendo alimentada por um fenômeno incentivado por bancos públicos e pelo próprio BC: a expansão do crédito (vejam no gráfico).
A projeção para a inflação no centro da meta no ano que vem se baseia na expectativa de que tudo permanecerá constante, de que o Banco Central continuará autônomo para tomar suas decisões e fazer o que for necessário para preservar o regime de metas de inflação.
A dúvida é: o governo quer pagar o preço desse desgaste interno e externo, ou serão dominantes as vozes para que se aceite um pouco mais de inflação? No Banco Central há uma corrente que diz que o fato de a maioria absoluta dos diretores, e dos votos do Copom, serem de funcionários de carreira significa que haverá mais empenho em resistir às pressões políticas.
Porque, afinal, governos passam, e a instituição fica. Mas nem tudo depende desse empenho.
O Banco Central do Brasil tem tido autonomia de fato, não de direito.
Para Meirelles, o dilema é mesmo duro. Ele sonhava em sair do Banco Central para uma candidatura que não deixasse dúvidas de ser irrecusável: o velho sonho de governar Goiás, ou, ainda melhor, a Vice-Presidência.
Com as duas possibilidades fora do baralho, por que sair e deixar o Banco Central vulnerável às pressões políticas na última e decisiva batalha? A nova diretoria do Banco Central tem excelentes quadros e hoje, 45 anos depois de criado, o BC é uma instituição sólida, com um número suficiente de doutores em economia. Recebeu ontem o reforço do discreto, mas eficiente, Luiz Awazu Pereira, que foi escolhido para a diretoria da área internacional.
Luiz Pereira é funcionário do Banco Mundial, tem uma carreira internacional sólida, já trabalhou no Ministério da Fazenda no período Antonio Palocci. Não é por falta de qualidade das pessoas que surgem as dúvidas, é porque o Banco Central, no final das contas, não é independente.
Um presidente do Banco Central que se debate o dia inteiro na dúvida sobre se fica ou sai assusta um pouco. Foi por isso que, em um dos telefonemas da coluna para um economista, a resposta foi: “Não sei nem quem será o presidente do BC amanhã, como vou saber da taxa de juros futura?” Uma coisa estava certa ontem desde cedo: o Copom aceitará que a inflação fique acima da meta este ano.
O dia amanheceu sob várias expectativas: mudanças na diretoria do Banco Central, permanência ou não de Henrique Meirelles, e o que diria um Relatório de Inflação depois de tanta controvérsia sobre a última Ata, na qual o Copom explicou o oposto do que fez.
A maioria das dúvidas se resolveu logo pela manhã, uma ficou pendente. No final do dia, depois do suspense, da ida inesperada para falar com o presidente Lula, das frases enigmáticas, Meirelles avisou que de amanhã (hoje) não passa. A rigor, ele tem até o dia 3, sábado de Aleluia, para se desincompatibilizar e poder concorrer às eleições.
Saiu o diretor Mário Mesquita, como dito aqui ontem, e assumiu o diretor Carlos Hamilton Vasconcellos de Araújo, que na sua estreia defendeu os mesmos pontos de vista, e disse que o Banco Central está comprometido em defender a meta de inflação. Só que ele falou em convergência para o centro da meta a médio prazo.
O Relatório deixou claro que o Banco Central não vai brigar para manter a inflação no centro da meta este ano.
Trata 2010 como um ano de transição entre a crise do ano passado e o ano de 2011, no qual, pelas expectativas do mercado, a inflação vai convergir para a meta.
O BC disse também, em linguagem cifrada, que há um cronograma de elevação de taxas de juros; que a divergência na última reunião foi entre manter o cronograma original de elevação dos juros começando em abril, ou antecipar para março. Mas o desafio do Banco Central não é nada trivial. Ele está avisando que vai iniciar um período de aperto monetário. Ou seja, várias reuniões com aumentos de 0,5 ponto percentual.
O mercado calcula ao todo 2,5 pontos de elevação.
Essas altas de 45 em 45 dias ocorrerão num ano eleitoral, em que o principal candidato de oposição, que está na frente das pesquisas, é adversário declarado dos juros altos. Em que a candidata do governo nem sequer capta o sentido de metas de inflação. E todo o esforço e a briga serão para manter a inflação na meta no ano que vem, no outro governo. Até hoje, por sete anos e três meses, Henrique Meirelles conseguiu convencer o presidente Lula a deixar o Banco Central conduzir de forma autônoma as decisões do Copom. Este ano, a tarefa é mais difícil.
Até porque não há no governo Lula quem saiba a diferença entre uma inflação de 4,5%, 5% ou 6%. A leniência em relação à inflação pode já estar contratada independentemente de quem seja o presidente do Banco Central. A pressão do crescimento está sendo alimentada por um fenômeno incentivado por bancos públicos e pelo próprio BC: a expansão do crédito (vejam no gráfico).
A projeção para a inflação no centro da meta no ano que vem se baseia na expectativa de que tudo permanecerá constante, de que o Banco Central continuará autônomo para tomar suas decisões e fazer o que for necessário para preservar o regime de metas de inflação.
A dúvida é: o governo quer pagar o preço desse desgaste interno e externo, ou serão dominantes as vozes para que se aceite um pouco mais de inflação? No Banco Central há uma corrente que diz que o fato de a maioria absoluta dos diretores, e dos votos do Copom, serem de funcionários de carreira significa que haverá mais empenho em resistir às pressões políticas.
Porque, afinal, governos passam, e a instituição fica. Mas nem tudo depende desse empenho.
O Banco Central do Brasil tem tido autonomia de fato, não de direito.
Para Meirelles, o dilema é mesmo duro. Ele sonhava em sair do Banco Central para uma candidatura que não deixasse dúvidas de ser irrecusável: o velho sonho de governar Goiás, ou, ainda melhor, a Vice-Presidência.
Com as duas possibilidades fora do baralho, por que sair e deixar o Banco Central vulnerável às pressões políticas na última e decisiva batalha? A nova diretoria do Banco Central tem excelentes quadros e hoje, 45 anos depois de criado, o BC é uma instituição sólida, com um número suficiente de doutores em economia. Recebeu ontem o reforço do discreto, mas eficiente, Luiz Awazu Pereira, que foi escolhido para a diretoria da área internacional.
Luiz Pereira é funcionário do Banco Mundial, tem uma carreira internacional sólida, já trabalhou no Ministério da Fazenda no período Antonio Palocci. Não é por falta de qualidade das pessoas que surgem as dúvidas, é porque o Banco Central, no final das contas, não é independente.
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