O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um ingrato. Acusa a imprensa de não relatar os inúmeros feitos sem precedentes de seu governo - ou de não relatá-los como gostaria, em embevecida "manchete favorável". O que ele faz então? Nas suas palavras desprovidas de censura: "Leio o jornal, não vejo matéria favorável a mim, e falo: vamos viajar o Brasil para que eu fale bem de mim." E o que acontece? A imprensa o segue e reproduz o que ele diz, ecoando a sua versão dos fatos e, mais do que isso, mantendo-o permanentemente na crista da onda, senhor do noticiário.
É normal em toda parte que o nome do chefe do governo seja o mais mencionado nas páginas políticas. A diferença é que, no Brasil, as citações a Lula - a grande maioria delas engendrada pelo seu inigualável estoque de recursos para aparecer - batem recordes. Dá para desconfiar que o seu costume de abandonar os textos escritos para ele e enveredar pelo improviso seja outro de seus estratagemas de captura das atenções da mídia. Afinal, o Lula que solta o verbo, com a sua peculiar prosódia e a quase-lógica (como já se disse) de sua argumentação, é incomparavelmente mais divertido.
Dá para desconfiar também que até os seus ataques recorrentes aos meios de comunicação sejam outra forma ainda de obrigá-los a ceder-lhe espaço - ainda que a isso se sigam justificadas e contundentes réplicas em editoriais e colunas de opinião. Falem mal, mas falem de mim, há de pensar no íntimo o mais intuitivo dos nossos presidentes. Esse enlace, a que a imprensa não pode se furtar até por dever de ofício, tem sido espertamente aproveitado por Lula para consumar a transformação de sua figura já ímpar em mito.
Parte ponderável da astúcia consiste em criar eventos que fixem na percepção popular, graças à mídia, a imagem de um presidente que fez o que nenhum dos seus antecessores logrou fazer. Eis o bordão da mais inusitada de suas iniciativas: o preparo - e o registro em cartório! - de um balanço dos seus 8 anos, em 6 volumes e 2.200 páginas. A verdade oficial não se peja de incluir empreendimentos inacabados, como a Ferrovia Norte-Sul e a Transnordestina e as hidrelétricas de Jirau e Santo Antonio. Ou que nem saíram do papel: a Usina de Belo Monte e o trem-bala.
A certificação da obra lulista foi pretexto para um ato festivo no salão nobre do Palácio do Planalto, na quarta-feira. Cerca de 700 pessoas, entre ministros, ex-ministros, futuros ministros, governadores, parlamentares e tutti quanti, além da presidente eleita, Dilma Rousseff, naturalmente, juntaram-se para celebrar o que foi apresentado como um acervo de realizações sem paralelo na história nacional e que não teria tido na imprensa a louvação que faria por merecer.
O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, abatido pelo mensalão, se locomovia pelo palácio com a desenvoltura de quem nunca saiu dali, como se vangloriou aos jornalistas. O clima era de apoteose. O governador da Bahia, Jaques Wagner, inflacionou os 50 anos em 5 de Juscelino Kubitschek. "Os 8 anos de seu mandato", derramou-se ele, dirigindo-se a Lula, "valeram 80 anos." O ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, disse que o maior legado do presidente foi ensinar o Brasil "a andar com as próprias pernas". Em outro tempo e lugar isso se chamou culto à personalidade.
Tudo isso, como não poderia deixar de ser, deu nos jornais, saiu na internet e apareceu em emissoras de rádio e TV. Mais ainda, os louvores de Lula a si mesmo. Ele, que conhece tantos ditados, menos, talvez, o de que "elogio em boca própria é vitupério", avisou que exemplares do balanção serão enviados aos editores de política e economia da imprensa "para perceberem o quanto perderam por não cobrir coisas boas do governo", dando corda à sua ideia fixa. E anunciou o que seria a síntese "dos erros e acertos que possamos ter cometido" - a aprovação ao seu governo.
Ele mencionou o índice de 80%, antecipando os resultados da nova pesquisa do Ibope, divulgada ontem. No levantamento, a popularidade do presidente bateu todos os recordes desde a sua posse, alcançando 87%. É como ele diz: "A única coisa impossível é Deus pecar. O resto, tudo pode acontecer."
É normal em toda parte que o nome do chefe do governo seja o mais mencionado nas páginas políticas. A diferença é que, no Brasil, as citações a Lula - a grande maioria delas engendrada pelo seu inigualável estoque de recursos para aparecer - batem recordes. Dá para desconfiar que o seu costume de abandonar os textos escritos para ele e enveredar pelo improviso seja outro de seus estratagemas de captura das atenções da mídia. Afinal, o Lula que solta o verbo, com a sua peculiar prosódia e a quase-lógica (como já se disse) de sua argumentação, é incomparavelmente mais divertido.
Dá para desconfiar também que até os seus ataques recorrentes aos meios de comunicação sejam outra forma ainda de obrigá-los a ceder-lhe espaço - ainda que a isso se sigam justificadas e contundentes réplicas em editoriais e colunas de opinião. Falem mal, mas falem de mim, há de pensar no íntimo o mais intuitivo dos nossos presidentes. Esse enlace, a que a imprensa não pode se furtar até por dever de ofício, tem sido espertamente aproveitado por Lula para consumar a transformação de sua figura já ímpar em mito.
Parte ponderável da astúcia consiste em criar eventos que fixem na percepção popular, graças à mídia, a imagem de um presidente que fez o que nenhum dos seus antecessores logrou fazer. Eis o bordão da mais inusitada de suas iniciativas: o preparo - e o registro em cartório! - de um balanço dos seus 8 anos, em 6 volumes e 2.200 páginas. A verdade oficial não se peja de incluir empreendimentos inacabados, como a Ferrovia Norte-Sul e a Transnordestina e as hidrelétricas de Jirau e Santo Antonio. Ou que nem saíram do papel: a Usina de Belo Monte e o trem-bala.
A certificação da obra lulista foi pretexto para um ato festivo no salão nobre do Palácio do Planalto, na quarta-feira. Cerca de 700 pessoas, entre ministros, ex-ministros, futuros ministros, governadores, parlamentares e tutti quanti, além da presidente eleita, Dilma Rousseff, naturalmente, juntaram-se para celebrar o que foi apresentado como um acervo de realizações sem paralelo na história nacional e que não teria tido na imprensa a louvação que faria por merecer.
O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, abatido pelo mensalão, se locomovia pelo palácio com a desenvoltura de quem nunca saiu dali, como se vangloriou aos jornalistas. O clima era de apoteose. O governador da Bahia, Jaques Wagner, inflacionou os 50 anos em 5 de Juscelino Kubitschek. "Os 8 anos de seu mandato", derramou-se ele, dirigindo-se a Lula, "valeram 80 anos." O ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, disse que o maior legado do presidente foi ensinar o Brasil "a andar com as próprias pernas". Em outro tempo e lugar isso se chamou culto à personalidade.
Tudo isso, como não poderia deixar de ser, deu nos jornais, saiu na internet e apareceu em emissoras de rádio e TV. Mais ainda, os louvores de Lula a si mesmo. Ele, que conhece tantos ditados, menos, talvez, o de que "elogio em boca própria é vitupério", avisou que exemplares do balanção serão enviados aos editores de política e economia da imprensa "para perceberem o quanto perderam por não cobrir coisas boas do governo", dando corda à sua ideia fixa. E anunciou o que seria a síntese "dos erros e acertos que possamos ter cometido" - a aprovação ao seu governo.
Ele mencionou o índice de 80%, antecipando os resultados da nova pesquisa do Ibope, divulgada ontem. No levantamento, a popularidade do presidente bateu todos os recordes desde a sua posse, alcançando 87%. É como ele diz: "A única coisa impossível é Deus pecar. O resto, tudo pode acontecer."
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