O governo Dilma Rousseff criou o lema do "fazer mais com menos", bandeira erguida pela ministra do Planejamento, Míriam Belchior, logo na posse. Diante da necessidade de puxar as rédeas dos gastos públicos, condição básica para evitar o descontrole da inflação, aumentar a eficácia da administração passou a ser essencial para o Planalto.
Uma das medidas com este objetivo foi a criação da câmara de gestão e competitividade, a fim de melhorar o funcionamento da emperrada máquina pública. A outra começou a ser implementada com o correto afastamento de parte da cúpula do Ministério dos Transporte, um feudo do PR, e conhecido por abrigar um balcão de negócios escusos. Muito pode mesmo ser economizado no combate à corrupção. O motivo da decisão de Dilma Rousseff, revelado pela revista "Veja", foi a constatação, pela própria presidente, de que orçamentos de obras tocadas pelo ministério eram "insuflados", ou seja, aumentados sem justificativa técnica. Em outras palavras, despesas superfaturadas. A explicação, segundo a revista, seria a cobrança de propina pelo partido donatário do ministério.
Dilma ordenou ao ministro Alfredo Nascimento - mantido até segunda ordem - afastar Luiz Pagot, diretor-geral do Dnit - o antigo DNER -, Mauro Barbosa da Silva, seu chefe de gabinete, o assessor Luís Tito Bonvini, e José Francisco das Neves, diretor-presidente da Valec.
Não é de agora que o Ministério dos Transportes, pelo volume de verbas que movimenta, frequenta escândalos. Também são conhecidos nesses circuitos financeiros clandestinos Luiz Pagot e o deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP), mensaleiro de primeira hora e um dos polos do esquema montado na Pasta, de acordo com a reportagem. Pagot, do grupo do senador Blairo Maggi (PR-MT), tem alentada folha corrida de suspeições. Mesmo assim foi indicado por Lula, ainda em seu governo, para ocupar o Dnit. Costa Neto, por sua vez, renunciou ao mandato anterior na Câmara, para escapar da cassação. Teria o mesmo destino de José Dirceu (PT) e Roberto Jefferson (PTB).
As propinas seriam entregues a Costa Neto, depois de empreiteiros acertarem entre si o resultado das "concorrências". Para financiar o "por fora", obras eram superfaturadas. As executadas em ferrovias, por exemplo, encareceram, em pouco mais de um ano, quase 40%, para irritação de Dilma.
Valdemar Costa Neto tem experiência em caixa dois. Em entrevista a "Época", em 2005, ele admitiu ter recebido do PT R$6,5 milhões de "recursos não contabilizados", depois de uma negociação cara a cara com José Dirceu, em 2002, enquanto o candidato Lula e o vice da chapa José Alencar os esperavam do lado de fora. Eram os primórdios do mensalão.
Será ruim para o governo Dilma se a manutenção do ministro Alfredo Nascimento, presidente do PR, for sinal de alguma tibieza da presidente. Caso ela vá em frente, como precisa fazer, fincará uma estaca no coração do monstro criado pelo lulopetismo ao montar equipes de governo com base no fisiologismo. Este foi um dos desserviços prestados ao país pelas duas gestões Lula. Se não recuar, ao contrário do que fez, por equívoco, no caso do decreto das emendas parlamentares de 2009, a presidente pode estabelecer um padrão ético mínimo na esfera pública. Na eventualidade do recuo, terá perdido uma batalha decisiva logo no início do mandato.
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