O BNDES avalia que dificilmente vai prosperar a proposta de fusão entre o Pão de Açúcar e o Carrefour. O presidente do conselho do Casino, sócio francês de Abílio Diniz, disse ao governo que rejeita a operação.
Diante da repercussão negativa da ajuda do BNDES, o Planalto orientou o banco de fomento a evitar "protagonismo" e não intermediar a negociação
Governo vê fracasso em fusão no varejo
Entendimento é que, sem acordo entre sócios, dificilmente vai prosperar proposta de união Pão de Açúcar-Carrefour
Casino entra com novo pedido de arbitragem; Abilio marca reunião com franceses para o dia 2 de agosto
Valdo Cruz e Toni Sciarretta
BRASÍLIA, SÃO PAULO - O governo considera que dificilmente vai prosperar a proposta de fusão entre o Pão de Açúcar e as operações brasileiras do Carrefour. O motivo é que o Casino, sócio francês de Abilio Diniz no comando da rede, não abre mão de exercer o controle pelo qual pagou caro seis anos atrás.
Pela primeira vez desde o início da crise, o presidente do conselho do Casino, Jean-Charles Naouri, veio ao Brasil falar com autoridades do governo Dilma Rousseff.
Ao presidente do BNDES, Luciano Coutinho, Naouri deixou claro que não aceita negociar a fusão com Abilio. Naouri insistiu em que o governo brasileiro não pode apoiar um ato que considera ilegal, vai contra o Estado de Direito e fere os princípios da ética comercial.
Coutinho repetiu a Naouri que só aprovará a participação do BNDES se houver "entendimento" entre os sócios. Diante da repercussão negativa da ajuda do BNDES à fusão, o Planalto havia orientado Coutinho a não assumir nem "protagonismo" nem "papel de intermediador" entre Abilio e Naouri.
Para impedir o negócio, o Casino montou uma ofensiva para pressionar o BNDES a retirar o apoio à fusão. A estratégia era "terceirizar" para o governo o "não" que deixaria o Casino em situação desconfortável com o mercado de capitais, que vê uma oportunidade única e é favorável à fusão.
Naouri pode ser questionado por acionistas minoritários por ter agido contra o interesse empresarial do Casino. Coutinho considera a fusão um "bom negócio" e ainda vê espaço para negociação devido ao apoio do mercado.
Com trânsito entre socialistas franceses (Naouri foi do governo Mitterrand), o presidente do Casino partilha visões comuns sobre a regulação dos mercados de capitais com Coutinho e outros integrantes do governo.
A reunião com Coutinho foi considerada amistosa por interlocutores do Casino.
WILKES
Após a reunião, Abilio informou que convocou para 2 de agosto o conselho da Wilkes -holding que representa a parceria entre ele e o Casino- para discutir a fusão. Havia uma semana que o Casino pedia a reunião.
Ontem, o Casino deu entrada a segundo pedido de arbitragem, procedimento privado de resolução de conflitos e controvérsia fora da Justiça. O processo é contra a empresa Pão de Açúcar (o primeiro é contra Abilio por descumprir acordo de acionista) e visa impedir que os executivos se "engajem" na fusão e cedam dados sigilosos ao Carrefour sem aprovação.
O varejista alertou o concorrente Carrefour, cujo conselho de administração aprovou no domingo a fusão, para o fato de que a proposta decorre de ambiente controverso e sem segurança jurídica.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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