A presidente Dilma Rousseff decidiu manter Wagner Rossi na Agricultura para não brigar com o PMDB do vice Michel Temer, mesmo com as denúncias de tráfico de influência envolvendo o ministro. Temer é o padrinho da nomeação de Rossi. Em contrapartida, Dilma fará faxina nos cargos ocupados por amigos do ministro. Já o PR abriu mão de seus postos no governo e disse que atuará com independência. |
Dilma fecha acordo com PMDB para manter Rossi e demitir "apadrinhados"
Num momento de fragilidade da base aliada, presidente decide manter o indicado de Michel Temer para comandar a Agricultura com intuito de evitar atritos com o PMDB, mas avisa que 12 servidores indicados por políticos podem ser trocados por técnicos
João Domingos
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff decidiu manter Wagner Rossi no Ministério da Agricultura para não brigar com o PMDB do vice-presidente Michel Temer, mesmo com todas as denúncias de suposto tráfico de influência envolvendo o ministro. Em contrapartida, Dilma vai impor uma faxina nos cargos ocupados por amigos de Rossi. Há 12 pessoas que hoje ocupam cargos na Agricultura, por indicação política e amizade com o ministro, que estão na mira da presidente e devem ser substituídos por nomes técnicos.
Essa é a base do acordo de convivência com a base aliada, que tem no vice-presidente da República - eleito com ela na mesma chapa - um dos seus principais líderes. Temer é o padrinho da nomeação de Rossi.
Segundo informações de auxiliares da presidente da República, Dilma fará o máximo de esforço para evitar repetir com o PMDB a experiência traumática que vive com o PR, alijado do Ministério dos Transportes. O PR ontem abriu mão dos cargos que ocupa no governo e disse que atuará com independência nas votações no Congresso.
Por causa da tensão na base, a presidente aceitou manter Rossi - pelo menos por enquanto, por não considerar graves as denúncias contra o ministro. Ela sabe que não pode perder o apoio do PMDB, além do agravante de o presidente do partido ser também o seu vice. Temer tem hoje o controle quase absoluto do partido, apesar dos peemedebistas dissidentes, como os senadores Jarbas Vasconcellos (PE) e Pedro Simon (RS).
Apesar das concessões ao PMDB, Dilma demonstra algum controle sobre a pasta da Agricultura. Um dos exemplos é a nomeação de José Gerardo Fontelles para a Secretaria Executiva do ministério, em substituição a Milton Ortolan, que pediu demissão no dia 6 após a revista Veja divulgar a ligação dele com o lobista Júlio Fróes. Fontelles havia sido secretário executivo do ministro anterior, o deputado Reinhold Stephanes. É um técnico com 40 anos de carreira.
Confirmado no ministério pela presidente Dilma, Rossi segurou Fontelles até março na pasta. Aí, o substituiu por Ortolan, seu amigo de 25 anos, que havia sido o seu chefe de gabinete na presidência da Companhia Brasileira de Abastecimento (Conab), cargo para o qual foi nomeado em 2007, também pela influência direta de Temer.
Com as denúncias envolvendo Ortolan, a presidente interveio e nomeou Fontelles, que desde o afastamento da Secretaria Executiva, ocupava o cargo de assessor especial de Rossi.
Confraria. O ministro tem se notabilizado por tirar técnicos e pôr amigos e afilhados políticos do PMDB e do PTB nas vagas. Porém, mantém os técnicos geralmente na condição de assessores, subordinados aos políticos, para não desfalcar o ministério.
Outro exemplo da faxina de Dilma Rousseff no setor de agricultura ocorreu com a nomeação de Rui Magalhães Piscitelli para a Procuradoria-Geral da Conab. Ele entrou no lugar de Rômulo Gonsalves Jr. A própria Dilma foi buscar Piscitelli na Advocacia-Geral da União (AGU), numa conversa com o ministro Luís Inácio Adams. Encontrado o nome, ela avisou a Rossi sobre a mudança.
Por intermédio de sua assessoria, o ministro informou que não vai desagradar a presidente. A ideia é que técnicos ocupem os lugares de políticos. O problema é que a base vive um momento de tensão. E o PTB, que não tem nenhum ministério, pode ameaçar sair da base se perder cargos na pasta. Um deles é a presidência da Conab, entregue a Evangevaldo Moreira dos Santos, afilhado do líder do partido Jovair Arantes (GO).
DENÚNCIAS NA AGRICULTURA
Início: 27 de julho
Número de demitidos: 3
O ministério é comandado por Wagner Rossi, do PMDB. Indicado pelo vice Michel Temer, assumiu o
cargo no fim do governo Lula
1ª A crise começou após a demissão de Oscar Jucá Neto, irmão de Romero Jucá (PMDB). Em entrevista à revista Veja, ele disse que na Conab "só tem bandido" e acusou Rossi de envolvimento nas irregularidades.
2ª A situação se complicou depois de ser revelado que o lobista Júlio Fróes teria uma gravação em que Milton Ortolan, então secretário executivo da pasta, exigia propina no contrato firmado com a pasta. Ortolan pediu demissão.
3ª Na semana passada, a presidente Dilma determinou uma faxina na Conab, nos moldes da que foi feita nos Transportes. Até agora, apenas o atual procurador-geral da companhia, Rômulo Gonçalves Jr., foi afastado do cargo.
4ª Ontem, o Estado revelou que cooperativas agrícolas que receberam recursos da Conab financiaram campanhas de parlamentares. Um dos beneficiados com a doação foi o deputado estadual Baleia Rossi, filho do ministro.
5ª O ex-chefe da comissão de licitação da pasta, Israel Batista, fez revelações sobre a atuação de Júlio Fróes. À Folha, disse que o lobista teria lhe oferecido propina e que Fróes sempre conversava com o secretário do ministro.
6ªRossi teria viajado várias vezes em um jatinho da Ourofino Agronegócios. A empresa é de Ribeirão Preto (SP), cidade do ministro, e obteve autorização para vender a vacina contra febre aftosa em 2010.
INDICAÇÕES POLÍTICAS NA MIRA DE DILMA
Alexandre Magno Franco
Ex-presidente da Conab, assessor de Rossi. Indicado pelo PTB
Boaventura Teodoro Lima
Diretor de Infraestrutura, Logística e Parcerias Institucionais da Conab. Nomeado por Rossi
Evangevaldo dos Santos
Presidente da Conab. Indicado pelo líder do PTB, Jovair Arantes
Marcelo Melo
Diretor de Operações e Abastecimento da Conab. Indicado pelo ex-governador de Goiás Iris Rezende (PMDB)
Rogério Abdala
Diretor Administrativo da Conab. Nome de confiança do ministro
Sílvio Porto
Diretor de Política Agrícola da Conab. Indicado pelo PT
Rodrigo Calheiros
Assessor da presidência da Conab. Indicado pelo pai, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL)
Adriano Quércia
Assessor de programas da Conab. Neto do ex-governador Orestes Quércia. Indicado pelo PMDB de São Paulo
Matheus Benevides
Coordenador de Acompanhamento Orçamentário da Conab. Neto do deputado Mauro Benevides (PMDB-CE)
Mônica Azambuja
Assessora da diretoria da Conab. Ex-mulher do líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves
Francisco Jardim
Secretário de Defesa Agropecuária. Indicado pelo PTB
Nastassja Tolentino
Assessora de Rossi. Nome de confiança do ministro
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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