terça-feira, 13 de setembro de 2011

Dólar sobe e põe em risco o combate à alta dos preços

Produtos com valores atrelados à moeda americana podem ficar mais caros e dificultar o trabalho do BC

Mariana Carneiro

SÃO PAULO - A recente alta do dólar pode se transformar num problema a mais para o Banco Central em sua estratégia de trazer a inflação de volta à meta, de 4,5%.

Muitos produtos consumidos no país, como alimentos e metais (commodities), são negociados no exterior e têm preços formados em dólares.

Durante boa parte do ano, a escalada dos valores desses itens foi compensada pelo enfraquecimento da moeda americana. No entanto, nas últimas semanas, a tendência se inverteu e o real voltou a cair frente ao dólar.

Nos últimos 60 dias, a moeda brasileira cedeu 6%.

No mesmo período, segundo levantamento da consultoria RC Associados, o valor das commodities ficou, em média, 2% mais baixo.

A expectativa é de que esse descompasso traga maior pressão inflacionária.

O câmbio e o mercado internacional influenciam nos preços de cerca de 30% dos produtos considerados no cálculo da inflação.
Óleo de soja, carnes e farinha de trigo, por exemplo, estão entre os itens que poderão ficar mais caros no Brasil.

Ontem, o dólar subiu 1,79%, a R$ 1,71. Foi a primeira vez, em 2011, que a cotação rompeu a barreira de R$ 1,70.

"[O preço das ] commodities estão caindo nos últimos meses, mas de maneira suave", observa Fábio Silveira, economista da RC Associados. Para ele, "o BC está deixando o real se desvalorizar muito rápido".

A economista Alessandra Ribeiro, da consultoria Tendências, calcula que se o dólar se mantiver ao redor de R$ 1,70 até o fim do ano, o resultado será inflação 0,20 ponto percentual mais alta.

A inflação acumulada nos últimos 12 meses já está em 7,23%, acima do teto da meta do governo, de 6,5%.

O ex-presidente do BC Carlos Thadeu de Freitas observa que o repasse da alta do dólar aos preços não é automática. Ele destaca que a desaceleração da economia brasileira dificulta remarcações.

Além disso, diz, o real teria que perder valor de forma contínua para afetar a inflação. "O dólar está ganhando força não só sobre o real, mas também sobre outras moedas como resultado de uma aversão ao risco dos investidores", afirma Thadeu.
Para ele, esse movimento não é permanente e o dólar poderá voltar a R$ 1,60.

O economista Francisco Pessoa, da LCA Consultores, também espera que o dólar volte a R$ 1,60. "Mesmo em queda, nossos juros são altos", diz, explicando que isso atrai dólares ao país e freia a desvalorização do real.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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