As denúncias envolvendo o Ministério do Esporte acirraram a crise entre o PT e o PCdoB, seu tradicional aliado. Com a Copa e as Olimpíadas, o orçamento do ministério cresceu 19% este ano, e a pasta virou alvo da cobiça dos demais partidos da base. O PC do B, mais forte, comprou uma sede de R$ 3,3 milhões em SP há três anos.
Denúncias acirram crise entre PCdoB e PT
Comunistas dizem que PM que fez acusações é ligado a ex-ministro, e que Copa e Olimpíadas fizeram crescer interesse na pasta
Gerson Camarotti e Maria Lima
BRASÍLIA. As acusações feitas pelo policial militar João Dias Ferreira sobre suposto envolvimento do ministro do Esporte, Orlando Silva, num esquema de desvio de recursos públicos abriram uma guerra nos bastidores entre o PT e seu mais tradicional aliado, o PCdoB. Os comunistas, que enxergam fogo amigo para tirar do PCdoB a pasta, têm atribuído ao governador Agnelo Queiroz (PT-DF) a responsabilidade por levar ao partido o soldado Dias Ferreira e ao governo os convênios irregulares. Agnelo foi ministro do Esporte indicado pelo PCdoB e ficou no partido até 2007, quando foi para o PT.
O clima de beligerância entre os dois partidos chegou a tal ponto que um emissário do Palácio do Planalto teve de telefonar para Agnelo Queiroz, que estava em Buenos Aires, para saber do envolvimento dele no episódio. Agnelo negou participação nas denúncias contra Orlando Silva e relações de proximidade com o soldado Dias Ferreira, que filiou-se ao PCdoB, em 2006, para ser candidato à deputado distrital, na coligação em que Agnelo disputou o Senado.
- Quem trouxe esse sujeito (Dias Ferreira) para o partido foi o Agnelo. A relação do Orlando com ele (Dias Ferreira) foi pontual. Orlando o recebeu uma única vez, a pedido de Agnelo, que era o ministro na época - disse ontem o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, adiantando o que falaria mais tarde o próprio Orlando, em entrevista.
Segundo dirigentes comunistas ouvidos ontem pelo GLOBO, Dias Ferreira já tinha ameaçado anteriormente Agnelo Queiroz de irregularidade em relação a convênios do programa Segundo Tempo. Por isso, o PCdoB estranhou que, agora, Orlando Silva tenha virado alvo das acusações. O partido do ministro também tem informação de que até recentemente Dias Ferreira mantinha contatos próximos com integrantes do governo Agnelo.
Ao GLOBO, a assessoria do governador informou que houve uma "relação de militância" entre ele e o soldado.
- Não tenho nada com esse João Dias. Esse é um problema do PCdoB e do Orlando - desabafou Agnelo, do exterior, para um interlocutor em Brasília.
Dirigentes do PCdoB reconheciam que a semana será decisiva para Orlando Silva, e que ele pode até sair do cargo, mas reafirmaram apoio e solidariedade ao ministro.
- A sustentação política do ministro Orlando Silva depende de dois fatores: do PCdoB, do qual tem apoio; e da presidente Dilma. Essa será uma semana decisiva. A denúncia foi montada em cima de um elemento que cheira muito mal. O Orlando pode sair do ministério. Mas os fatos vão mostrar, em qualquer circunstância, que ele está com a verdade. Quando o envolvem numa armação desse tamanho, é evidente que o risco é enorme - afirmou Renato Rabelo.
Por trás do pano de fundo do escândalo das denúncias de propina, há ainda uma disputa nada velada pela pasta criada para acomodar o PCdoB no primeiro mandato do presidente Lula. Há uma reclamação geral dos partidos da base de que o Ministério do Esporte ficou muito maior que a representação política do partido, com 15 deputados e dois senadores.
Na época da composição do governo Dilma Rousseff, a presidente chegou a escolher para o cargo, na cota das mulheres, a deputada comunista Luciana Santos (PE). Mas o presidente Renato Rabelo reagiu e anunciou que o indicado do partido era o já ministro Orlando Silva.
O problema é que com a Copa e as Olimpíadas, diz um dirigente petista, o ministério acabou se transformando num dos mais importantes:
- A reclamação geral dos partidos da base é que o ministério é muito maior do que o PCdoB e sua bancada. Até o PSC tem bancada maior do que o PCdoB e não tem ministério ou os cargos que o partido tem - diz esse dirigente do PT.
Renato Rabelo reage e diz que o espaço do PCdoB no governo diminuiu desde o segundo mandato de Lula, e que há muita gente interessada em desqualificar e isolar o partido porque quer colocar no Esporte um ministro que defenda interesses contrariados:
- Não se trata do tamanho da bancada, mas do fato de o PCdoB ser o principal aliado de Lula desde 1989. Lula se projetou em grande parte pelo apoio do partido, pelos cinco minutos de TV que lhe demos em 89. Isso não é qualquer coisa! Lula foi se projetando! Sinceramente, não compreender isso é fazer ouvidos de mercador! - afirma. - O Ministério do Esporte, que era o patinho feio que ninguém queria, virou um cisne de ouro, e a cobiça aumentou. Estamos reagindo a essa cobiça desde o início. Há muita gente interessada em botar lá um ministro que defenda os interesses contrariados por Orlando em tais setores.
FONTE: O GLOBO
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