Orlando Silva vai ao Congresso, e Planalto espera explicações convincentes
Acuado pelas denúncias de corrupção em sua pasta, o ministro do Esporte, Orlando Silva, participará hoje de uma audiência conjunta na Câmara para tentar se manter no cargo. Ontem, na África, a presidente Dilma Rousseff elogiou seu subordinado, que, segundo ela, se manifestou "com muita indignação" contra as acusações de que comandaria um esquema de desvio de verbas no programa Segundo Tempo. Nos bastidores do Palácio do Planalto, no entanto, há a convicção de que ele só ficará a frente do ministério se conseguir dar explicações convincentes e provar sua inocência. O ministro voltou a chamar de bandidos os autores das denúncias e tentou jogar para seu antecessor no cargo, o atual governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, a responsabilidade por ter se encontrado com o policial militar João Dias Ferreira, um dos seus acusadores. Em entrevista, Orlando Silva disse que foi por recomendação de Agnelo que se encontrou com Ferreira, quando era secretário executivo no ministério, para discutir um projeto da ONG dirigida pelo policial militar, que também era militante do PCdoB, partido de Orlando. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que a Polícia Federal investigará as novas acusações.
Um ministro na marca do pênalti
Apesar de elogios de Dilma, Orlando Silva só ficará no cargo se for convincente em sua defesa
Roberto Maltchik*
Gerson Camarotti
Sob bombardeio intenso da oposição e até de setores da base governista, o ministro do Esporte, Orlando Silva, contava ontem com o apoio da presidente Dilma Rousseff, que elogiou sua disposição de prestar esclarecimentos ao Congresso. Ela disse, no entanto, que aguardará os desdobramentos das acusações e das investigações para traçar o futuro do ministro, responsável pela organização da Copa do Mundo de 2014. Mas o destino do ministro está nas mãos de sua capacidade de convencimento e de provar sua inocência, diziam ontem auxiliares da presidente, no Palácio do Planalto.
No primeiro dia de visita à África do Sul, Dilma frisou que respeita o princípio da presunção de inocência, porém, não assumiu pessoalmente a defesa de Silva. Admitiu que "no passado" foram firmados convênios com organizações não governamentais (ONGs) "frágeis" e sem o controle adequado.
Dilma conversou com Orlando Silva ainda no sábado, por telefone, quando a revista "Veja" chegou às bancas com as denúncias de desvio de recursos no Esporte, em convênios com ONGs ligadas ao PCdoB, partido do ministro.
---- Não só nós presumimos a inocência dele, como ele tem se manifestado com muita indignação quanto às acusações. O governo está acompanhando atentamente todas as denúncias, os esclarecimentos e as investigações. Aliás, o ministro Orlando pediu investigação da Polícia Federal, do Ministério Público Federal sobre as acusações feitas a ele e que ele reputa uma injustiça. Além disso, se dispôs a ir ao Congresso Nacional. Enquanto isso, o governo vai continuar acompanhando tanto qualquer denúncia que apareça quanto todos os esclarecimentos e as iniciativas de investigações ---- afirmou a presidente, que, segundo um auxiliar, está "medianamente preocupada" com o caso.
Gleisi e Carvalho orientam ministro
Ontem, Orlando Silva se reuniu no Planalto com os ministros Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil). Foi orientando a ser convincente nos esclarecimentos:
- Mais do que se defender, Orlando precisa ser convincente. Não haverá uma segunda chance - resumiu um auxiliar da presidente.
Avaliação no governo identificou que dois pontos podem enfraquecer ainda mais a posição do ministro: a pressão externa de entidades, como a Fifa e o Comitê Olímpico Internacional (COI), e a possibilidade de surgirem novas denúncias envolvendo o programa Segundo Tempo. O Planalto teme ainda o poder de fogo do soldado da PM João Dias, o denunciante.
Embora seja usada a ponderação de que a "ficha corrida" de Dias enfraquece as denúncias, a preocupação é que possa surgir um fato novo. A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) já fora acionada para levantar dados sobre esse episódio. Em favor de Orlando Silva, ministros frisaram que o colega foi rápido ao apresentar sua defesa.
Na entrevista em Pretória, Dilma fez uma crítica velada à disseminação dos convênios com ONGs, porque seriam "menos formais" do que os acordos com prefeituras e estados, cujo controle "têm toda uma regulamentação". E aproveitou a nova crise envolvendo denúncias de desvio de dinheiro público para alertar todos os ministros, que até setembro deixavam essa responsabilidade nas mãos dos secretários-executivos de suas pastas.
- O ministro, a partir de agora, é o responsável pelo convênio. Então, a assinatura do ministro é que vai em qualquer convênio. Isso é importante ser esclarecido, porque nós consideramos que, em muitos momentos no passado, houve convênios com ONGs mais frágeis. O que nós detectamos é que, em geral, elas são menos formais do que prefeituras e estados. Eles (prefeituras e estados) são acompanhados pelos tribunais, você tem que prestar contas. A mesma coisa você teria de ter com as ONGs, só que como elas são as organização não governamentais, elas têm uma formalização menor. Agora, eu sempre digo: não é possível fazer tábula rasa. Você tem ONGs e ONGs - disse Dilma.
A presidente afirmou que, em alguns casos, a parceria com ONGs é imprescindível:
- Isso não significa que todo o convênio com ONG é ruim. Não é verdade. Pelo contrário: em muitas áreas, precisamos das ONGs para executar políticas e sem as quais muitos municípios não conseguem atender à população.
O ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, que está na comitiva de Dilma, defendeu Orlando Silva. Lembrou, no entanto, que suspendeu a assinatura de 92 convênios que estavam engatilhados em sua pasta, devido a fragilidade das ONGs.
- Vamos aguardar os fatos, e que se apresente alguma prova para que possa saber exatamente do que se trata. Seguramente, o governo vai esperar a defesa. Isso é um princípio básico da Justiça. Não pode julgar quem quer que seja sem o contraditório e o direito de defesa.
*Enviado especial
FONTE: O GLOBO
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