Ex-presidente é convocado por Dilma Rousseff para intervir na coordenação política do atual governo e estreitar as relações do Palácio do Planalto com o Parlamento. Em café da manhã, petista ouve ponderações de senadores
Denise Rothenburg
Chamado a Brasília pela presidente Dilma Rousseff, Luiz Inácio Lula da Silva fez uma intervenção branca na coordenação política do governo. Nas 24 horas que permaneceu na cidade, ele cuidou de “lubrificar” as engrenagens políticas dos senadores do PT. Na terça-feira, jantou com Dilma e o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci — a quem defendeu e elogiou em todas as conversas que manteve e, num encontro privado entre os dois, aconselhou a cuidar mais da política e menos da gestão dos programas governamentais. O périplo do ex-presidente terminou com um café da manhã para os senadores líderes de partidos aliados ao governo Dilma, ontem, na casa do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Espera-se agora que venha um período de maior proximidade do Planalto com os políticos.
As andanças de Lula tiveram uma resposta imediata. Hoje, a presidente almoça com os senadores petistas, abrindo a temporada de encontros políticos no Alvorada. O próximo será um jantar com os senadores líderes de partidos aliados e um encontro com a bancada religiosa, em datas a serem marcadas posteriormente. Depois, virão conversas por bancada de partido. Ontem pela manhã, Dilma telefonou ao senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) para dizer que havia determinado ao Ministério da Educação a suspensão do kit anti-homofobia que seria distribuído em escolas públicas (leia detalhes na página 10). O próprio Palocci também ligou para vários senadores, entre eles o líder do PR, Magno Malta (ES), que não quis atendê-lo.
A conversa de Lula com Palocci foi de “amigo para amigo”, conforme o ex-presidente relatou aos senadores ontem. Ele aconselhou o ministro a dar mais atenção aos políticos. “Há uma insatisfação com você. Tome cuidado, porque sua situação no Congresso não é boa”, disse o ex-presidente a Palocci, segundo o que o próprio Lula contou aos líderes. E ele, Lula, foi se reunir com os senadores justamente para fazer essa ponte entre o Planalto e o Congresso, a fim de fortalecer as posições dos articuladores — além da própria Dilma e de Palocci, a do ministro de Relações Institucionais, Luiz Sérgio.
Do café com Lula e Sarney, participaram o vice-presidente da República, Michel Temer, os senadores e líderes Romero Jucá (PMDB-RR), Renan Calheiros (PMDB-AL), Humberto Costa (PT-PE), Francisco Dornelles (PP-RJ), Gim Argello (PTB-DF), Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), Marcelo Crivella (PRB-RJ), Acir Gurgacz (PDT-RO) e Magno Malta (PP-ES). O ministro Luiz Sérgio não foi convidado.
No encontro, que durou mais de três horas, Lula ouviu as ponderações dos líderes sobre o que falta para aproximar o governo do Congresso. Muitos falaram da necessidade de dar mais autonomia a Luiz Sérgio. Magno Malta (PP-ES) reclamou que Palocci não recebia ninguém e Renan Calheiros (PMDB-AL) falou em necessidade de acertar a “sintonia fina”.
Todos saíram do evento com a certeza de que Lula voltou ao cenário político com o pé direito. “Essa crise política teve um lado positivo: ter trazido o protagonismo de Lula. Ele não se apresentou. Foi chamado e aplaudido. Foi bom tê-lo de volta”, comentou o senador Crivella.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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