Perto de reassumir o comando da sigla, ex-ministro do Trabalho enfrenta a resistência da ala contrária a sua permanência no cargo. Correligionários ameaçam recorrer à Justiça
Karla Correia
Alvejado por denúncias que acabaram por causar sua queda do comando do Ministério do Trabalho no começo de dezembro, o ex-ministro Carlos Lupi encerra o período de afastamento da vida política prestes a bombardear o próprio partido. Ele retoma a presidência do PDT, cargo que ocupa desde 2004, com a morte de Leonel Brizola, e acentuará o racha interno entre correntes divergentes. O retorno deve ocorrer na segunda-feira, durante reunião da Executiva Nacional da legenda no Rio de Janeiro, berço político de Lupi. Apesar de deter ampla maioria no diretório nacional da sigla, o ex-ministro terá de encarar uma significativa ala de insatisfeitos dentro do PDT, dispostos a recorrer à Justiça para impedir a volta de Lupi.
Essa mesma ala atuou internamente no PDT, minando a sustentação política que Lupi tinha para tentar se manter no Ministério do Trabalho, e agora irá enfrentar a tentativa de ressurreição política do ex-ministro. Embora com a influência abalada, Lupi ainda conta com o apoio de 80% do diretório nacional, nos cálculos dos companheiros rebelados, autointitulados Movimento de Resistência Leonel Brizola. "Ele tem o mandato e tem a prerrogativa de se declarar apto ou não para voltar à presidência da legenda", diz o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), que integra o grupo favorável ao retorno de Lupi. "Qualquer outro meio de retirar Lupi do posto seria uma deposição, algo que só é viável como decisão da convenção do partido."
O ex-ministro tenta retomar o controle do PDT adotando um discurso de reconstrução do partido, que hoje não ocupa nenhuma pasta no governo da presidente Dilma Rousseff, apesar de possuir uma bancada federal de cinco senadores e 27 deputados. Para sufocar a onda de dissidentes, a estratégia é atribuir a oposição a seu retorno a questões de natureza local.
Membro da "resistência", o deputado José Antônio Reguffe (DF) sugere uma saída intermediária, que não represente a deposição de Lupi do cargo, mas que funcione como uma ruptura na longa gestão do pedetista. "Vamos defender a eleição direta para presidente do partido, com mandato de dois anos e direito a apenas uma reeleição", informa Reguffe. "O partido precisa de um processo de redemocratização para evitar a hegemonia de grupos em sua estrutura", afirma o deputado, reforçando que, internamente, discute-se a possibilidade de recorrer à Justiça.
Planalto
O retorno de Lupi ao comando do PDT não apenas o reposiciona como presidente de um partido da base de sustentação política da presidente Dilma, como também faz dele um dos principais interlocutores da legenda com o Palácio do Planalto. No comando do PDT, ele passa a fazer parte do Conselho Político de Dilma, órgão colegiado criado por Luiz Inácio Lula da Silva e convocado pela Presidência nos momentos de crise do governo.
O próprio Lupi foi protagonista de uma dessas crises, ao aparecer no centro de um escândalo envolvendo irregularidades na contratação, pelo Ministério do Trabalho, de organizações não governamentais (ONGs) para ações de qualificação profissional. A situação política do então ministro se tornou insustentável com a perda de apoio dentro da própria sigla e da decisão da Comissão de Ética Pública da Presidência de recomendar à presidente Dilma Rousseff a demissão do pedetista. O tiro de misericórdia veio com a descoberta de que Lupi acumulou indevidamente cargos na Câmara dos Deputados e na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
Nenhum comentário:
Postar um comentário