Indicadores básicos do desempenho da economia no primeiro quadrimestre conflitam com as expectativas da presidente Dilma Rousseff de uma retomada do crescimento no período como etapa de sua prioridade essencial: um PIB de 4,5% em 2012 (que o ministro Mantega, da Fazenda, já procura reduzir para 4%), após a frustração de apenas 2,7% no ano passado. As manchetes dos cadernos de economia dos últimos dias destacam a queda de 0,5% de produção industrial em março, de par com a das exportações de commodities – de 8% do volume na comparação de abril de 2012 com o de 2011 – bem como de seus preços. E em abril, na mesma comparação, houve um recuo do conjunto das exportações, com exceção das vendas de petróleo para os EUA: de menos 8,5% para a União Europeia e de 27% das destinadas à Argentina, sob efeito também da escalada protecionista do governo Cristina Kirchner. Já a principal manchete de ontem do Estado de S. Paulo foi “Estoque dispara e montadoras param produ-ção aos sábados”. Os indicadores correspondentes à produção industrial como um todo mostram a ausência ou influência mínima até agora do processo de queda da Selic, iniciado há quase nove meses, e da ofensiva mais recente para a redução dos juros do sistema fi-nanceiro privado.
“Modelo esgotado” e carga tributária – Uma das me-lhores avaliações das causas do problema foi feita em editorial da Folha de S. Paulo, de anteontem, com o tí-tulo entre aspas acima. Trechos: “Acumulam-se evi-dências de que a volta do crescimento será lenta. Con-trariando as expectativas, a produção industrial teve queda de 3% no primeiro trimestre, sobre o mesmo pe-ríodo de 2011...”. “Apenas o consumo de bens não du-ráveis permanece robusto, impulsionado pelo aumento de renda e pela queda da inflação. Mas, sozinho, não é suficiente para compensar o recuo em outros setores. Por isso, salvo uma recuperação muito forte no segun-do semestre, há risco real de crescimento do PIB infe-rior a 3% este ano”. “A letargia da atividade econômica vai além de um fenômeno cíclico. Há esgotamento do modelo de expansão baseado no crédito ao consumo e na alta de preços das commodities exportadas. Ne-nhum outro setor parece ter condições de substituir es-sa dupla. O candidato óbvio a novo motor da economia seria o investimento que, no entanto, permanece abai-xo de 20% do PIB, uma das menores taxas entre todos os países emergentes”. “Há anos o país espera, em vão, que o governo federal controle seus gastos, o que em tese permitiria estancar o crescimento da arrecada-ção e reduzir a carga tributária”.
Não obstante haja a presidente – em recente encon-tro com empresários – reconhecido que os “impostos altos” têm-se somado às elevadas taxas de juros e ao câmbio como a terceira das “amarras” que obstruem o crescimento, em lugar de passos efetivos no sentido de uma reforma fiscal ampla (que nada tem a ver com medidas pontuais e seletivas em favor de algumas ati-vidades) as respostas concretas do governo a tais indi-cadores negativos centram-se em ações voltadas à du-plicação do consumo. Por meio de estímulos creditícios e do aumento dos gastos públicos (com o gigantismo estatal e o assistencialismo). Combinados com práticas protecionistas contra produtos estrangeiros cujo espaço no mercado interno é ampliado pela baixa competitivi-dade de nossa economia, em particular da produção industrial. Decorrente, sobretudo, dos enormes custos da carga tributária, que aumenta ano a ano, e também das trabalhistas (no contexto de uma globalização de mercados dominada por exportações asiáticas, sobre-tudo chinesas, produzidas com um custo muito menor da mão de obra). Quanto aos gastos públicos, ganha-rão novo incremento no próximo domingo, dia das Mães, com o anúncio pela presidente de um pacote de ampliação dos benefícios do Bolsa Família, de Lula, agora articulado com o programa dilmista Brasil sem Miséria.
Pacote esse que servirá, de um lado, como parte das medidas de incremento do consumo, à meta de expansão do PIB prometida pela presidente, e, de ou-tro, a objetivos políticos e eleitorais dela própria e do ex-presidente. Objetivos que incluem também ações li-gadas à economia, como a responsabilização exclusiva dos banqueiros pelos juros altos. E se estendem da uti-lização do marketing ético da chefe do governo, con-traposta a políticos corruptos ou ineficientes, e do es-forço da presidente e do seu antecessor para restringir a oposicionistas o alcance da CPMI recentemente ins-talada, até o empenho maior do lulopetismo neste ano eleitoral para protelar e esvaziar o julgamento do men-salão.
Jarbas de Holanda é jornalista
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