Alvo da base aliada na CPI do Cachoeira, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, acusou os réus do mensalão de serem os mentores dos ataques contra ele. Parlamentares envolvidos na investigação contra a organização criminosa chefiada por Carlinhos Cachoeira afirmam que o procurador-geral prevaricou, pois havia indícios das ações de Cachoeira e de seus elos com políticos desde 2009, na chamada Operação Vegas, da Polícia Federal. Sem apontar um responsável, Gurgel afirmou que é "notório" quem seria o principal interessado nas críticas, mas negou-se a responder se seria o ex-deputado José Dirceu, acusado pelo Ministério Público de ser o "chefe da quadrilha" que operou o mensalão. As críticas, insinuou o procurador, seriam uma estratégia de réus do mensalão para fragilizar a acusação e seus julgadores - ministros do Supremo Tribunal Federal
Na mira da CPI, Gurgel reage e diz ser vítima de ofensiva dos réus do mensalão
Caso Cachoeira. Diante da ameaça de ser convocado a depor na Comissão Parlamentar de Inquérito e acusado de prevaricação, procurador-geral da República diz que ataques contra ele são movidos por quem está "morrendo de medo do julgamento" no Supremo
Felipe Recondo, Eugênia Lopes
BRASÍLIA - Alvo da base aliada na CPI do Cachoeira, especialmente do PT, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, acusou ontem os réus do mensalão de serem os mentores de ataques contra ele. Parlamentares envolvidos na investigação contra a organização criminosa chefiada por Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, afirmam que o procurador-geral prevaricou, pois havia indícios das ações de Cachoeira e de seus elos com políticos desde 2009, na Operação Vegas, conduzida pela Polícia Federal. Questionado se o principal interessado em fomentar as críticas contra ele seria o ex-ministro José Dirceu, Gurgel reagiu, sorrindo: "Eu acho que é notório. Fatos notórios independem de prova". Dirceu foi apontado pelo Ministério Público como o chefe da quadrilha do mensalão. "Eu tenho dito que na verdade o que nós temos são críticas de pessoas que estão morrendo de medo do julgamento do mensalão", afirmou Gurgel. "Acho que, se não réus, há protetores de réus como mentores disso."
As acusações contra ele, insinuou o procurador, seriam uma estratégia dos réus do mensalão para fragilizar a acusação da Procuradoria e atingir também seus julgadores – ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), cujos nomes são citados em algumas conversas telefônicas gravadas pela Polícia Federal. Há um movimento no Congresso para convocar o procurador-geral a depor na CPI do Cachoeira. "Esse (o mensalão) é o atentado mais grave que já tivemos à democracia brasileira. É compreensível que algumas pessoas ligadas a mensaleiros tenham essas posturas de querer atacar o procurador-geral e querer também atacar ministros do Supremo com aquela afirmação falsa de que eu estaria investigando quatro ministros do STF", disse. "Há pessoas que foram alvo da atuação do Ministério Público e
ficam querendo retaliar. É natural isso. E há outras pessoas que têm notórias ligações com pessoas que são réus no mensalão", acrescentou, sem tergiversar.
Ofensiva. Na tentativa de pôr Gurgel contra a parede, parlamentares da base iniciaram ontem mesmo um movimento para convocar a subprocuradora da República Cláudia Sampaio. A convocação da mulher de Gurgel é defendida majoritariamente por petistas. Foi Cláudia quem informou ao delegado Raul Alexandre Marques, responsável pela Operação Vegas, em setembro de 2009, não ter encontrado elementos jurídicos que fundamentassem um pedido de investigação do Supremo na ocasião. "Não vou cumprir o papel de inocente útil de pessoas que querem desmoralizar o procurador-geral na véspera do julgamento do mensalão", reagiu o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), um dos integrantes da CPI. Em depoimento anteontem, o delegado Marques disse que Gurgel não deu prosseguimento às investigações da Vegas, que detectou indícios de crimes praticados por três parlamentares.
A estratégia montada no bunker do PT foi a de insuflar a convocação de Cláudia Sampaio para atingir Gurgel sem precisar chamá-lo para depor na CPI. "É preciso checar as declarações do delegado com os documentos da Operação Vegas. Se for confirmado, temos de ver se foi o procurador-geral o responsável ou outra pessoa abaixo dele", disse o senador Wellington Dias (PT-PI). Apontado como um dos integrantes da "ala independente" da CPI, o senador Pedro Taques (PDT- MT) é contra a convocação do procurador e de sua esposa. "Não podemos transformar esta CPI, que deve investigar a construtora Delta e sua relação com governos estaduais, na CPI do procurador-geral. Estamos fugindo do foco do debate."
CRONOLOGIA
As ações do procurador
27 de março
Inquérito. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, envia ao STF um requerimento para a instauração de inquérito contra o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO).
25 de abril
Tentativa. Fernando Collor (PTB-AL) tenta convocar Gurgel para depor na CPI. Segundo ele, o procurador-geral não tomou nenhuma providência, em 2009, quando recebeu informações da Operação Vegas que incriminavam Demóstenes e os deputados Carlos Leréia (PSDB-GO) e Sandes Júnior (PP-GO).
29 de abril
Aviso. Parlamentares da base avisam que, caso Gurgel não aceite o convite, a convocação pode ser votada e aprovada na comissão.
2 de maio
Convite recusado. Gurgel rejeita o convite para ir à CPI mista. O pedido havia sido feito pelo presidente da comis-são, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), e pelo relator, Odair Cunha (PT-MG).
Nota oficial. No mesmo dia, a Procuradoria-Geral da República (PGR) emite uma nota oficial sobre o caso, onde o procurador-geral se defende das acusações e afirma que há três anos não havia indícios contra o senador goiano.
Anteontem
Delegado. Em depoimento na CPI mista instalada no Congresso, o delegado da Polícia Federal Raul Alexandre disse que partiu da subprocuradora da República Cláudia Sampaio Marques (esposa de Gurgel) a decisão de não levar adiante as evidências reunidas na Operação Vegas em 2009.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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