Procurador-geral da República afirma que por trás de ataques à sua atuação estão mensaleiros ou quem os protege
Carolina Brígido, Givaldo Barbosa
LIGAÇÕES PERIGOSAS
O GLOBO: A atuação do senhor tem sido alvo de críticas na CPI do Cachoeira...
ROBERTO GURGEL: Na verdade, o que nós temos são críticas de pessoas que estão morrendo de medo do julgamento do mensalão. São pessoas que aparentemente estão muito pouco preocupadas com as denúncias em si mesmas, com os fatos, com os desvios de recursos e com a corrupção. Ficam preocupadas com a opção que o procurador-geral, como titular da ação penal, tomou em 2009, opção essa altamente bem-sucedida. Não fosse essa opção, nós não teríamos Monte Carlo, nós não teríamos todos esses fatos que acabaram vindo à tona. Há um desvio de foco que eu classificaria como, no mínimo, curioso.
Como o senhor classifica o trabalho da CPI?
GURGEL: Eu não posso ficar me preocupando com o que acontece a cada momento, a cada segundo na comissão. Eu tenho que me preocupar em levar adiante a investigação. O que parece haver é uma tentativa de imobilizar o procurador-geral da República para que ele não possa atuar como deve, seja no caso que envolve o senador Demóstenes, seja preparando-se para o julgamento do mensalão. Esse é o atentado mais grave que já tivemos à democracia brasileira. É compreensível que algumas pessoas que são ligadas a mensaleiros tenham essas posturas de querer atacar o procurador-geral e querer também atacar ministros do Supremo, com aquela afirmação falsa de que eu estaria investigando quatro ministros.
O senhor se sente atingido por essas críticas?
GURGEL: A atividade do Ministério Público tem como uma das suas características a de desagradar a muitos, se não a todos. Portanto, faz parte do nosso ofício saber que vamos ser alvo de crítica, que vamos ser alvo de pessoas que já foram alvos, e alvos notórios da atuação do Ministério Público, e que têm agora a sua chance de tentar uma retaliação. E é isso que se está fazendo. A minha preocupação é de continuar trabalhando, de continuar investigando, de levantar o véu e revelar cada vez mais fatos que estão submetidos também à CPMI, mas que parece mais preocupada com outros aspectos, parece mais preocupada com o julgamento do mensalão.
O senhor acha que há algum réu do mensalão como mentor desses ataques?
GURGEL: Eu acho que, se não réus, há protetores de réus como mentores disso.
O senhor suspeita de alguém específico? José Dirceu? Fernando Collor?
GURGEL: (Ri) Eu apenas menciono isso: há pessoas que foram alvo da atuação do Ministério Público e ficam querendo retaliar, é natural isso. E há outras pessoas que têm notórias ligações com pessoas que são réus no mensalão.
O senhor acha que os inquéritos sobre as ligações de Cachoeira devem continuar sob sigilo, apesar de todos os vazamentos?
GURGEL: A lei impõe o sigilo, porque há uma série de interceptações telefônicas. Agora, não há dúvidas de que esse é um dos casos de vazamentos mais escandalosos que temos na História. Pedi ao diretor-geral da Polícia Federal que fosse instaurado inquérito para que se apure. É preciso que se pare com essa coisa no país de achar que o sigilo é para inglês ver. A quebra de sigilo nesse caso foi talvez uma das mais escandalosas de que eu tenha tido notícia.
FONTE: O GLOBO
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