Medo do Pibinho faz governo improvisar um plano de concessões devido desde a posse da presidente
Os adiamentos do anúncio do "PAC das concessões" dizem alguma coisa sobre a gestão Dilma Rousseff: trata-se de uma obra em progresso, como qualquer governo, mas que começou a ser escrita muito tarde e sem planejamento.
Esse novo membro da família dos "PACs" deve ser um pacote de privatizações ("concessões") de estradas, ferrovias, talvez aeroportos, e de mudanças na regulação dos portos.
A cerimônia marqueteira do anúncio das medidas acontece provavelmente amanhã, depois de dois adiamentos curtos. Mas tanto faz se o pacote fosse anunciado daqui a um mês ou 47 dias.
Tais atrasos querem apenas dizer que o governo teve de improvisar um pacote, como o estudante meio relapso que abre os livros apenas um dia antes da prova.
Dilma corre para apresentar um plano porque percebeu, lá por maio, que a economia não reagia aos estimulantes habituais e o governo ele mesmo não consegue nem elaborar projetos nem investir.
Logo, teve de apelar a concessões a fim de ressuscitar o investimento e dar um tapa na infraestrutura precária. Foi mais ou menos o que aconteceu com as concessões dos aeroportos. Quando o governo percebeu que não teria como receber os turistas da Copa, correu para privatizar uns aeroportos.
"Antes tarde do que nunca" etc. Mas ficou evidente que o governo não tem um plano, que não tinha avaliação realista de suas capacidades e das necessidades do país, nem ideia de quais as suas prioridades: no que concentraria suas energias e pessoal qualificado.
Agora, as concessões vão andar só lá por 2013-2014.
Parece uma crítica abstrata, teórica, mas o caso é grave. Considerem o exemplo clichê de "plano de metas", o de Juscelino Kubitschek (1956-1961).
JK presidia um país muito mais primitivo, sem pessoal técnico suficiente, sem dinheiro, e vivia sob a ameaça de golpes. Mas tinha um plano e executou boa parte dele.
Decerto JK estourou orçamentos sem dar bola para a inflação. Não enfrentava a barreira de regulações e órgãos de fiscalização que existe agora. Mas, meio século depois e conhecidas as mumunhas regulatórias e licitatórias (faz uns 20 anos), o que dizer de um governo incapaz de limpar o terreno burocrático?
Para piorar, Dilma centraliza tudo. A queixa é dos seus ministros mais próximos. Bastam dez minutos de conversa com um deles para ouvir a crítica. Sem visão de longo prazo e amarrada ao varejo, a coisa não anda.
Por fim, o governo deveria é privatizar quase todos os serviços de infraestrutura, de baciada. Claro que não precisa vender hidrelétrica pronta e paga. Mas deveria vender e/ou contratar todo o resto: aeroporto, porto, estrada, ferrovia.
O Estado precisa parar de administrar buraco de estrada e se concentrar em problemas de ponta, nos quais a tímida iniciativa privada não se envolve. Isto é: ciência, ciência aplicada, inovação, centros de criação de tecnologia.
Dilma perdeu muito tempo.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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