Importante a entrevista do arquiteto dinamarquês Jan Ghel à ‘Veja’. Ela propõe uma cidade para as pessoas e não para a megalomania de algumas estrelas de profissão. E eu acrescentaria também a megalomania de alguns políticos.
Ghel vê a cidade como um espaço de convívio e celebração, diferente da que está baseada numa fórmula insustentável: o crescimento ilimitado do carro pessoal. Ele defende a idéia de que algumas intervenções nas grandes cidades, como a restrição aos carros, acabam sendo absorvidas pela população.
Venho de uma visita a Vitória da Conquista na Bahia. A cidade instalou um grande Cristo esculpido pelo artista baiano Mário Cravo. O objetivo da instalação era de mostrar a imagem da cruz pairando sobre a cidade. O boom da construção de arranha céu acabou tapando a obra de arte que instalaram no morro.
Há duas lições desse episódio. As políticas municipais sempre chegam tarde. O desenvolvimento tem um ritmo mais rápido. A outra é mais importante: uma obra de arte usada coletivamente sumiu da vista. Fizemos um programa
na BandNews sobre a arte nas ruas. Mostramos a avenida Paulista como um museu aberto e vários depoimentos defendendo o papel da arte como um convite a desfrutar o espaço comum.
As eleições de 2012 deveriam ser um grande debate sobre a cidade que queremos. Tenho observado o processo em algumas cidades de estados diferentes. O interesse é sempre pela mobilidade urbana e por melhoria na saúde. É inevitável. No entanto, a mobilidade urbana poderia ser visto de uma forma mais ampla, com as ciclovias e também com várias outras ideias, como o do carro compartilhado. O ponto de partida é o transporte coletivo mas o tema é mais vasto.
Da mesma forma a saúde é discutida necessariamente sobre a qualidade dos serviços médicos da prefeitura. Mas há a questão do saneamento básico, espaços para o esporte, uma política de facilitar o exercício aos velhos, de controle da água, fiscalização dos alimentos vendidos por aí. Vamos construir a cidade para as pessoas ou para os carros? Para as pessoas ou para os prédios monumentais?
Há algumas coisas que não são redutíveis à política mais elementar. No entanto, quem pode avaliar o peso da perda do horizonte? Ghel não é contra os altos edifícios. Propõe apenas que sejam construídos no centro da rua para que as extremidades não percam o horizonte. Por que não aproveitar a oportunidade?
O circo das eleições está armado. Poucos se interessam por ele. Apesar disso, o espaço está aberto e merecia ser ocupado mais do que os discursos decorados.
FONTE: JORNAL METRO-RIO
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