Dilma Rousseff deverá
encerrar seus dois primeiros anos de governo com crescimento superior somente
ao de Collor na história recente do país. Rio terá hoje manifestação contra lei
dos royalties.
País tem pior
crescimento desde Collor
Governo Dilma deve fechar biênio 2011-2012 com expansão média anual do PIB
na casa de 2,1%, menor desempenho da história recente
Marcelo Rehder
SÃO PAULO - A presidente Dilma Rousseff deverá encerrar os dois primeiros
anos de seu mandato com a segunda pior média de crescimento da história recente
do Brasil, só perdendo para o período Collor. No biênio 2011-2012, o
crescimento médio anual do Produto Interno Bruto (PIB) do País deverá ser da
ordem de 2,1%, considerando uma expansão de 1,52% prevista para este ano pela
mediana do mercado financeiro na pesquisa do Boletim Focus, do Banco Central
(BC).
Nos dois primeiros anos do primeiro e do segundo mandato de Luiz Inácio Lula
da Silva, essa média foi de, respectivamente, 3,4% e 5,6%, e nos de Fernando
Henrique Cardoso, de 3,2% e 2,3%. Já no de Fernando Collor de Mello, ficou em
0,25%.
Economistas alertam para o risco de 2013 piorar o prognóstico para o
governo, caso não mude o foco da política de crescimento - hoje baseada no
aumento do consumo - passando a incentivar mais o investimento e melhorar a
produtividade.
"Esses resultados ruins não serão salvos com políticas pontuais, como a
desoneração do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) dos automóveis,
que ajudou muito o resultado do terceiro trimestre, que esperamos ser de 0,9%
na margem (comparação com o anterior)", afirma Sérgio Vale,
economista-chefe da MB Associados. "Mesmo com um quarto trimestre ainda
melhor (1,1%), o resultado será de 1,3% no ano", ressalta.
Na sexta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vai
divulgar os números do PIB referentes ao terceiro trimestre. O ministro da
Fazenda, Guido Mantega, prevê crescimento de 1,2% na comparação com o segundo
trimestre.
Para o ex-diretor do Banco Central, Carlos Thadeu de Freitas, hoje
presidente da Confederação Nacional do Comércio (CNC), a economia não deslancha
mais por problema de oferta do que de demanda. Ele argumenta que tanto a
demanda não está fraca que a inflação está acima do centro da meta, de 4,5%.
"Precisamos de uma mini-agenda de crescimento que comece por desindexar
o salário mínimo", defende. A proposta é polêmica e enfrenta forte
resistência dos sindicatos, mas ele argumenta que é preciso baixar o custo
unitário do trabalho no Brasil, "que está muito alto".
"Esse custo é pressionado para cima pela política do salário mínimo,
que todo ano tem um aumento real de valor", diz o presidente da CNC.
As medidas tomadas recentemente pelo governo ainda não tiveram impacto no
aumento da produtividade das empresas, diz o empresário José Ricardo Roriz
Coelho, diretor do departamento de Competitividade e Tecnologia da Federação
das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
"O governo, em algumas coisas, andou numa velocidade que chegou a
impressionar", afirma Roriz Coelho. "Só que a queda da Selic (a taxa
básica de juros da economia), por exemplo, ainda não pegou o spread bancário e
as empresas continuam pagando taxas de 30% ao ano", cita.
O empresário reconhece que a queda da taxa de juros, a melhora do câmbio e a
desoneração da folha de pagamentos de 40 setores industriais vão ter impacto
positivo no futuro. "Mas isso não acontece de uma hora para a outra, sem
contar que pegou as empresas descapitalizadas, sem capacidade de investir e
numa situação em que a produtividade está muito baixa."
Para ele, se o atual modelo de crescimento não mudar "o mais rápido
possível" para um modelo baseado em investimento, em 2013 vai ocorrer o
mesmo que hoje. "O consumo cresce, mas quem captura o aumento do poder de
compra do brasileiro são os produtos importados."
Sérgio Vale, da MB, vai além. "Em 2013, junto à continuidade de falta
de reformas, e com a tendência de o governo interferir ainda mais nas decisões
privadas, fica difícil imaginar uma recuperação significativa."
Para piorar, no começo do ano, o País poderá sentir os efeitos do chamado
abismo fiscal americano. O problema se refere ao fim de incentivos fiscais
implementados há quase dez anos pela administração de George Bush e ao início
de cortes automáticos no orçamento em programas sociais e militares a partir de
janeiro de 2013. O valor a ser retirado da economia chega a US$ 607 bilhões,
caso não haja acordo entre o governo Obama e o Congresso do país.
"A diferença é que o impacto negativo em 2013 já é esperado, ao
contrário do ano passado", pontua Vale. "Mas o fato é que isso joga o
crescimento mundial para baixo e reforça perspectivas negativas para Europa e
China. Com isso, o cenário externo continua ruim e o doméstico, sem grande
melhora. Assim fica difícil imaginar crescimento expressivo para o
Brasil", diz Vale.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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