Na Operação Porto
Seguro, a Polícia Federal descobriu um elo entre o escândalo do mensalão e o
esquema de corrupção em agências reguladoras e órgãos federais que levou seis à
prisão na última sexta-feira. O deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP), recém-condenado
pelo STF, tinha estreita ligações com Paulo Vieira,apontado pela PF como o
chefe da quadrilha. Segundo petistas, o ex-presidente Lula, apontado como
padrinho de Rosemary Noronha, ex-chefe de gabinete da Presidência em SP
demitida por Dilma, recebeu com "surpresa e insatisfação" a notícia
da participação dela no esquema. "Eu me senti apunhalado pelas
costas", teria dito. Petistas reagiram ao que consideram tentativa de
ligar Lula à denúncia
Elo entre dois
escândalos
Valdemar Costa Neto, já condenado no mensalão, é ligado ao chefe da
quadrilha presa pela PF
Tatiana Farah, Marcelle Ribeiro e Germano Oliveira
Cerco à Corrupção
SÃO PAULO Os documentos da Operação Porto Seguro da Polícia Federal, obtidos
pelo GLOBO, revelam que o deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP), que acaba de
ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no escândalo do mensalão,
tinha estreitas ligações com Paulo Rodrigues Vieira, apontado pela PF como o
chefe da quadrilha presa na sexta-feira sob acusação de montar um esquema de
corrupção em agências reguladoras e órgãos federais.
A Polícia Federal identificou 1.179 ligações telefônicas feitas a partir do
restaurante japonês de Paulo Vieira para o deputado Valdemar e integrantes de
seu partido, o PR. No mensalão, Valdemar foi condenado por corrupção passiva,
lavagem de dinheiro e formação de quadrilha no processo do mensalão.
Em um dos telefonemas, de 28 de maio deste ano, Paulo Vieira, que era
diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) e foi afastado anteontem pela
presidente Dilma Rousseff, pede ao deputado a indicação de um vereador de
Santos, cidade do litoral paulista, para a assinatura de uma representação
junto ao Tribunal de Contas da União (TCU).
Paulo Vieira: negócios em Santos
A PF gravou telefonemas de Flávia, secretária do deputado Valdemar, com
Daniele, secretária de Carlos Cesar Floriano, dono da Terminal para Contêineres
da Margem Direita S/A (Tecondi), que foi preso na Operação Porto Seguro. O
objetivo é a marcação de reunião entre Floriano e o deputado. No mesmo dia 28
de maio, às 18h12m, a PF gravou ligação telefônica de Paulo Vieira com o
próprio deputado Valdemar Costa Neto. No dia 4 de junho deste ano, às 16h53m, a
PF flagrou nova conversa de Paulo Vieira com o deputado do PR, segundo está
informado num relatório de 28 de junho deste ano, assinado pela procuradora da
República Suzana Fairbanks Schnitzlein.
O grupo liderado por Paulo Vieira tem forte atuação em negócios da região
portuária de Santos, área de influência política de Valdemar, que já foi
diretor da Companhia Docas de São Paulo (Codesp). A indicação do vereador
pedida ao deputado serviu para que Paulo ingressasse no TCU com uma
representação contrária à Receita Federal em questões envolvendo empresas do
setor portuário.
Ajuda para reunião com Cesar Borges
No inquérito, a PF mostra ligações telefônicas envolvendo o deputado e seus
funcionários com Paulo Vieira e outros investigados na Operação Porto Seguro.
Mas o deputado não está sendo investigado oficialmente pela PF, uma vez que
goza de foro privilegiado. Se Valdemar fosse um dos investigados, o inquérito
teria de se remetido de São Paulo para a Procuradoria Geral da República, em
Brasília.
O inquérito mostra também estreitas ligações de Paulo Vieira com o PR. Há um
e-mail em que Paulo pede a ajuda de Rosemary Nóvoa de Noronha, chefe de
gabinete da Presidência da República em São Paulo, demitida pela presidente
Dilma Rousseff, para marcar uma audiência com o ex-senador Cesar Borges
(PR-BA), nomeado vice-presidente do Banco do Brasil.
A Polícia Federal chega a suspeitar de uma suposta ligação de Valdemar com a
Facic, faculdade atribuída à família de Vieira em Cruzeiro, no interior de São
Paulo, mas não confirma as suspeitas. O delegado da PF que conduziu o inquérito
diz em seu relatório que pessoas da cidade e vizinhos da faculdade chegam a
dizer que a faculdade pertenceria a Valdemar, mas a PF mesmo afirma no
relatório que essas suspeitas não prosperaram.
Segundo relatório da procuradora da República Suzana Fairbanks Schnitzlein,
as interceptações telefônicas de Paulo Vieira demonstram, "de forma clara
e inequívoca, que este permanece em constante movimento, no sentido de
intermediar, junto aos representantes da administração pública, o patrocínio de
interesses particulares de seus "amigos" e clientes".
Um dos casos destacados é o da permanência do ex-senador e empresário
Gilberto Miranda na Ilha das Cabras, no litoral paulista. Interceptações
telefônicas dão conta de que Vieira informava constantemente Miranda sobre os
movimentos para aforamento da ilha que, depois de processo administrativo,
seguiu para o parecer da Advocacia-Geral da União (AGU), onde Vieira contava
com a ação do advogado-geral adjunto, José Weber Holanda Alves, demitido no
sábado pela presidente Dilma Rousseff depois da operação Porto Seguro.
Em um dos telefonemas interceptados judicialmente, Paulo fala a
Weber:"Falou, então, dr. Weber, cuida de mim aí". E o segundo homem
da AGU responde: "Tá bom. Já tô cuidando; amanhã eu explico procê
(sic)". A PF registra ainda reuniões entre Miranda, Paulo Vieira, Weber e
outros integrantes da AGU em Brasília. Para a reunião, Miranda levou Vieira de
São Paulo a Brasília em seu jato particular, em 8 de junho passado.
Em um telefonema em outubro de 2010, Gilberto Miranda pede a Paulo Vieira
para "encher o saco do Weber".
O GLOBO não conseguiu localizar Miranda e Valdemar ontem.
Fonte: O Globo
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