Lula fará campanha em Pernambuco pela reeleição de Dilma Rousseff, se o governador Eduardo Campos efetivamente for candidato a presidente pelo PSB. O PT também resolveu incluir o Recife no roteiro dos seminários em comemoração aos dez anos do partido no governo, cidade que estava fora do plano original. À medida que avança o calendário eleitoral, a campanha adquire os contornos da dura disputa a ocorrer em 2014, como demonstram as estocadas entre os possíveis adversários.
PT e o governo planejam uma razia sobre as forças de Campos. À exceção da nomeação de um ministro do PSD, provavelmente Guilherme Afif, o governo já deu por concluído o ajuste na base governista. Mudanças, a partir de agora, só para tirar o PSB de Eduardo Campos ou devido à saída dos ministros que concorrerão para governador ou senador às eleições de outubro.
A mudança cogitada é no Ministério da Integração Nacional, se ficar bem claro que Eduardo Campos é candidato à sucessão de Dilma Rousseff. O PT e governo estão em formação de ataque. Os falcões defendem que não se deve esperar até março, mais ou menos o prazo fixado por Campos, para saber o que ele vai fazer. Até porque, enquanto isso, continua criando fatos políticos e arregimentando aliados.
Lula fará campanha contra Campos até em Pernambuco
É questão prioritária na mesa em torno da qual o governo passou a traçar sua estratégia política, em reuniões entre Dilma Rousseff, Lula, Rui Falcão, o agora onipresente Aloizio Mercadante, ministro da Educação, realizadas periodicamente em São Paulo. Campos preocupa mais que reconhecem o governo e o PT: ao lado de dois ou três candidatos à cadeira de Dilma, como Aécio Neves, Marina Silva e José Serra, o governador de Pernambuco pode passar para o segundo turno.
No segundo giro, a chance de Campos levar a maioria dos eleitores de Aécio Neves e de Marina Silva seria bem maior que de Aécio Neves ficar com o butim do governador de Pernambuco, segundo tese difundida entre os congressistas. O problema de Campos é passar para o segundo turno, terreno dominado pelo PSDB nas três últimas eleições presidenciais. Campos é um risco e será tratado como tal por seus antigos aliados.
Recentemente, o governador assinou uma parceria público-privada (PPP) para investimento de R$ 4,5 bilhões em saneamento, no Estado de Pernambuco, projeto capaz de atender 3,7 milhões de pessoas por meio da instalação e recuperação de 9 mil km de redes de esgoto, num prazo de 12 anos. A história é conhecida, mas vale a pena lembrá-la para mostrar que o diapasão usado para afinar os instrumentos eleitorais de Dilma e Campos já não é o mesmo e que o governador está fazendo política, enquanto há no PT quem ainda julgue possível algum tipo de acordo.
Nas palavras de um integrante do novo núcleo político do governo, "ele [Campos] peitou aqui [Dilma], queria que ela desse desoneração para empresa de saneamento, mas a presidenta falou "não, se é para desonerar eu vou desonerar na tarifa, não da empresa, vamos dar desconto para o consumidor".
No jogo da sucessão, o governo parece mais próximo de cooptar o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, uma indicação de Eduardo Campos, que o governador de Pernambuco de assegurar sua lealdade. Coelho, pré-candidato ao governo de Pernambuco, tenta criar um nicho próprio e trafegar com autonomia em relação ao padrinho político. Campos, tudo indica, tem outros planos para a própria sucessão, que vão de um secretário de Estado ao senador Armando Monteiro, útil só à medida que puder conseguir o tempo do PTB no horário eleitoral para o candidato do PSB.
O PT que pressiona pela saída de Fernando Bezerra argumenta que o ministro é ruim de voto, tendo, inclusive, perdido a eleição para prefeito do município de Petrolina, na divisa com a Bahia, disputada por um de seus filhos.
"Então, uma mudança do ministério que pode ter é essa, inclusive com deslocamentos de segundo escalão muito poderosos, porque ele tem uma máquina muito grande no Nordeste, a capilaridade do Ministério da Integração Nacional é grande em toda a região", diz o integrante do núcleo que hoje pensa estrategicamente a política eleitoral de um governo inteiramente enredado no projeto de manutenção do PT no Palácio do Planalto.
As outras mudanças ministeriais, salvo acidentes de percurso, são aquelas decorrentes da saída dos ministros que vão concorrer à eleição. Pode ser um pouco antes do prazo de desincompatibilização, se isso for considerado conveniente para a campanha do candidato.
Gleisi Hoffmann (Casa Civil), assim como Ideli Salvatti (Relações Institucionais), se for candidata ao Senado. Gleisi é a melhor candidata que o PT tem no Paraná. Beto Richa ganhou o apoio do PMDB do senador Roberto Requião e é forte. O PT considera ideal uma chapa que tenha Osmar Dias (PDT) no Senado e Gleisi para o governo. Mas se Álvaro Dias (PSDB) for candidato, Osmar pode disputar como vice de Gleisi "Seria importante que o Requião fosse candidato", para provocar um segundo turno.
"Mas a Gleisi é uma pessoa muito íntegra, assim, ela disse que só será candidata se isso ajudar a compor o projeto nacional. Se o PT entender que ela deva mesmo ser. Se não, ela fica. Tem seis anos de mandato de senadora. Mas é a melhor candidata, pode não ganhar a eleição, mas é a melhor candidata que o partido pode ter para tentar ganhar o Paraná, que é um Estado difícil", é a análise do PT. "Vale a pena disputar, até porque não tem nenhuma possibilidade de atrair o Richa para o nosso palanque. E dá uma votação boa para a Dilma".
Certa é a candidatura do ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio), num Estado estratégico para Dilma, Minas Gerais. Outro candidato mais provável hoje que ontem é Aloizio Mercadante. O problema é o zumbido da mosca azul em sua cabeça. Hoje, a decisão está em suas mãos, apesar da predileção da base e de Lula por Alexandre Padilha (Saúde).
Fonte: Valor Econômico
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