O chavismo manteve o governo, mas a grande vencedora na Venezuela foi a oposição.
Mesmo emparedado pelo mito Chávez, pela magia da sua morte prematura e por uma campanha agressiva, o candidato Henrique Capriles perdeu por uma margem muito mais estreita do que previam todas as pesquisas: menos de dois pontos percentuais.
Isso significa que a Venezuela está dividida ao meio e que o presidente Nicolás Maduro terá tempos difíceis pela frente. Sem Chávez e sem a retórica do líder, capaz de desfocar erros e desviar críticas, só resta a Maduro arregaçar as mangas e apresentar resultados.
Os obstáculos são de arrepiar: inflação descontrolada, desabastecimento até de alimentos, câmbio irreal, deficit galopante, violência braba, a corrupção de sempre. E há riscos políticos.
Além de enfrentar a força e a inédita união das oposições, obtidas desde o pleito de 2012, vencido por Chávez, Maduro vai se deparar com um insidioso processo de corrosão interna no chavismo. A inveja é inerente ao ser humano. A disputa de poder, mesmo entre aliados, é a força vital da política.
Reduzem-se as chances de sobrevivência do chavismo sem Chávez e aumentam as de alternância de poder daqui a seis anos, com a vitória da oposição, possivelmente do próprio Capriles.
O que preocupa, porém, é o que vai ocorrer no país até lá. Espera-se que a oposição tenha paciência, livre-se da tentação de desgastar o governo além do limite e aguar- de sua vez nas urnas.
É aí que entra o Brasil. A ninguém interessa uma Venezuela em chamas, sob séria crise de governabilidade. Nem ao governo do PT, até pela ideologia, nem aos empresários brasileiros, que tantos interesses mantêm no país, e, claro, nem a nós, cidadãos solidários com todos os nossos vizinhos.
Fonte: Folha de S. Paulo
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