A convocação do PT para que seus militantes também participem do "Dia Nacional de Lutas" na quinta-feira causou desconforto entre as principais centrais sindicais do país, que organizaram o ato justamente para pressionar a presidente Dilma Rousseff. O partido quer levar às ruas a defesa do plebiscito e da reforma política propostos por Dilma, o que desvirtua a pauta original, reclamaram dirigentes sindicais.
"O apoio de qualquer partido é bem-vindo. O que não aceitamos é que peguem carona para defender sua própria pauta, que nem é consenso entre centrais", afirma João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força Sindical. Ele destaca que o ato do PT foi marcada e na mesma hora - 12h - e no mesmo lugar do das centrais - o vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp).
As centrais vão defender bandeiras históricas do movimento, como a redução da jornada de trabalho e o fim do fator previdenciário. Rompida com o governo, a Força Sindical, que no 1º de Maio já destoou das outras ao pedir a volta do gatilho salarial, acrescentou que o ato será também por "mudanças na equipe econômica" e contra a inflação.
Em tom mais brando, as outras centrais têm criticado o uso do protesto no dia 11 para defender o plebiscito. "São atos diferentes, de pautas diferentes. Se estão querendo confundir as coisas estão se excedendo", afirmou o presidente da Central de Trabalhadores do Brasil (CTB), Wagner Gomes.
Presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah diz que o plebiscito está fora da pauta sindical e que, no máximo, poderia ser levantada a defesa de uma reforma política. "Não estou reclamando da participação do PT, mas o ato é exclusivamente das centrais e dos movimentos sociais. Nossas bandeiras são conhecidas, e não tem plebiscito nelas", disse Patah.
Um sindicalista que acompanha de perto as reuniões para decidir os atos do dia 11 diz que a Força já está incitando a base a atacar o projeto de plebiscito e a própria Dilma se o PT insistir em usar o movimento em prol de bandeiras próprias. Embora não pretendam fazer ataques diretos ao partido, as outras centrais também não gostaram da notícia. O tom, dizem, não é de apoio ao partido, mas de crítica ao governo federal, que não respondeu até hoje a pauta de reivindicações dos trabalhadores.
Secretário-geral da Central Única dos Trabalhadores (CUT), ligada ao PT, Sérgio Nobre diz, porém, que a reforma política foi colocada na pauta pelos movimentos sociais que apoiam as manifestações, como UNE e MST. "Não sei em qual contexto foi inserida, se como plebiscito, referendo, mas as centrais estavam de acordo com a inclusão do tema", disse.
A manifestação foi decidida no dia 25 de junho, influenciada pelos protestos que tomaram o país contra o aumento das tarifas de ônibus. Sindicalistas ouvidos pelo Valor dizem que ficaram assustados com a capacidade de mobilização dos atos para defender pautas dos próprios trabalhadores sem que o movimento sindical tivesse protagonismo ou sequer participação. A gota d"água foi uma "greve-geral" convocada pelo Facebook para 1º de julho que, apesar de não ser apoiada por nenhum sindicato ou central, gerou grande repercussão.
Entre as categorias que estão programando paralisações em nível nacional estão a dos petroleiros, dos metalúrgicos e da construção civil e pesada. Esta última, informou a CSP-Conlutas, planeja ações em sete cidades do Pará, incluindo Altamira, base para grande parte dos trabalhadores de Belo Monte, em Fortaleza e Suape (PE).
Em São Paulo, o alvo são os transportes. Motoboys e comerciários bloquearão as marginais Tietê e Pinheiros e as principais ruas de comércio. Em plena eleição para a diretoria do sindicato, parte dos motoristas de ônibus municipais vai parar. Os funcionários do metrô, que afirmaram que fariam greve, realizarão nova assembleia amanhã para definir a participação. Também haverá bloqueios em estradas importantes do interior, entre elas Anchieta, Castelo Branco, Raposo Tavares, Fernão Dias, Dutra e Mogi-Bertioga.
Fonte: Valor Econômico
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