O quadro pré-eleitoral de São Paulo é um dos mais claros até o momento e tem várias características muito semelhantes ao nacional, com quatro pré-candidatos intrincados num jogo de tirar votos e aliados uns dos outros
Todos os políticos acompanham atentamente o que se sucede na política paulista nos últimos meses. E antes que os paulistas fiquem “se achando”, essa atenção toda ocorre porque o cenário pré-eleitoral por lá atualmente é o nacional visto pelo espelho. No comando do país, a presidente Dilma Rousseff está certa de que enfrentará um segundo turno. Tal e qual o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do PSDB, que já prepara seu jogo para 2014 pensando em dois rounds no ano que vem. E, até aqui, essas duas eleições terão quatro candidatos. No Brasil, despontam Dilma, o senador Aécio Neves, do PSDB; a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, da Rede; e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pelo PSB. Em São Paulo, há Geraldo Alckmin, do PSDB; o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, do PT; o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, do PMDB; e o ex-prefeito Gilberto Kassab, pelo PSD.
No plano dos adversários de Dilma e Alckmin, as situações são parecidas. O presidente do PSDB, Aécio Neves, explora o antipetismo da mesma forma que o ministro Alexandre Padilha tenta explorar um sentimento antitucano, ou seja, aquela parcela dos paulistas que não vota no PSDB e quase levou Celso Russomano ao segundo turno na eleição para prefeito da capital.
Tanto em São Paulo quanto no plano nacional, essa fase da disputa apresenta personagens meio fora da curvatura normal da política bem situados nas pesquisas e que podem surpreender lá na frente. A ex-ministra Marina Silva surge no plano nacional da mesma forma que o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, do PMDB, aparece no cenário paulista. Guardadas as devidas proporções, são opções do eleitorado fora do veio tradicional, meio “alternativos” e prontos para atrapalhar os planos de quem é considerado especialista na articulação.
Marina e Skaf hoje tiram fôlego e reduzem o potencial de atores que já apresentaram grande capacidade de articulação política e têm um pé no governo federal. Na cena nacional, esse lugar é ocupado pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que também preside o PSB. E, em São Paulo, quem está nessa posição é o ex-prefeito da capital Gilberto Kassab, habilidoso a ponto de ter transformado o que era para ser um partido pequeno em uma bancada expressiva na Câmara dos Deputados. O PSD é o quarto maior partido da Casa, com 45 deputados.
Kassab foi criado à sombra do PSDB de José Serra, da mesma forma que Eduardo Campos cresceu politicamente sob as asas do PT de Lula. Hoje, entretanto, ambos não têm as melhores relações com os sucessores de Serra e de Lula. Eduardo não é melhor amigo de Dilma da mesma forma que Kassab não vive uma relação das mais amigáveis com Geraldo Alckmin. E, além de precisar de alguns votos da massa que elegeu Dilma e Alckmin, tanto Eduardo quanto Kassab têm de “engolir” outros adversários para ter alguma chance real.
Marina hoje tira votos de Eduardo Campos, assim como Paulo Skaf tira votos de Gilberto Kassab. Entre os estrategistas de Eduardo Campos e de Gilberto Kassab há quem diga que para terem chances reais Eduardo precisa engolir Marina e ainda tirar alguns votos de Aécio Neves, quem tem hoje a melhor e maior estrutura eleitoral para concorrer contra a presidente Dilma. No plano estadual, Kassab precisa ultrapassar Skaf e ainda tirar votos do petista Alexandre Padilha. Não por acaso, o ex-prefeito e atual presidente do PSD avisa desde já que apoiará Dilma na sucessão presidencial e que sua dívida com Serra está quitada. Kassab tem ciência de que alguns eleitores do PT em São Paulo serão fundamentais para seus projetos eleitorais e busca a neutralidade da presidente na disputa estadual.
Eduardo Campos, por sua vez, também busca votos de simpatizantes de Lula desiludidos com Dilma. Por isso, sempre que se refere ao governo exalta os ganhos obtidos pelo país no período pós-redemocratização. Mas alerta que é preciso fazer mais, centrando as crítica ao período da atual presidente. Trabalha ainda no sentido de tirar apoiadores do PT e de Aécio Neves, embora tenha relações cordiais com o presidente tucano. Na Bahia, por exemplo, Eduardo espera ter o apoio do PMDB de Geddel Vieira Lima, que já deu sinais de aproximação. A propaganda peemedebista em Salvador exibida recentemente apresentava que a Bahia não merecia o governo que tinha (de Jaques Wagner, do PT) e falava maravilhas da gestão de Pernambuco.
Além de todos esses movimentos, os pré-candidatos não tiram os olhos de São Paulo por um outro motivo: José Serra. Seus amigos dizem que um dia ele se olha no espelho e diz que fica no PSDB. No outro, a mesma imagem revela a decisão pela partida. Ainda bem que 5 de outubro, o prazo final para filiação de candidatos em 2014, está logo ali.
Fonte: Correio Braziliense
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