Caminhamos para o Ano-Novo. Um ano gordo coma especialíssima combinação de eleições presidenciais e Copa do Mundo no Brasil. Em 1950, quando perdemos a Copa para o Uruguai, no Maracanã, Getúlio Vargas foi eleito presidente. Estranha coincidência. Será um bom ou um mau sinal? Perderemos a Copa e reelegeremos Dilma Rousseff? Ou a história se repetirá como farsa, isto é, ganharemos a Copa e elegeremos outro presidente? Ou ainda: ganharemos a Copa e reelegeremos Dilma?
Para completar o rol de opções: podemos perder a Copa e Dilma perder a campanha. Ou, quem sabe, não concorrer. Todos os anos são dominados por algumas narrativas. 2013 foi o ano das manifestações nas ruas e da eclosão do vandalismo articulado. Para muitos, foi um ano de autoengano. O governo pensava que era competente e a oposição achava que fazia oposição.
Enquanto isso, o noticiário virtual rasteiro tentava combater a sensação térmica de que as coisas andavam melhores do que já foram. São choques de narrativas que visam um projeto de poder. Porém, como vivemos na era do autoengano, na qual a realidade instantânea perde fidelidade no seu processo de virtualização, o eleitorado deve ficar à mercê dos ventos quentes das palavras vazias. Em 2014, a coincidência da Copa comas eleições será propícia a narrativas carregadas de emoção.
Conforme o ano eleitoral se aproxima, as narrativas tendem a ser mais intensas e pretensamente reais. Como as que indicavam que as manifestações eram o despertar da cidadania. No fundo, as narrativas que surgem serão ainda mais virtuais. Tão virtuais quanto o campeonato mundial que Felipe Massa teve nas mãos, em 2008, até que uma derrapada de Timo Glock deu o campeonato a Lewis Hamilton. Tudo pelo fato de que nas disputas de poder pela via eleitoral as narrativas tendem a ser mais intensas.
Sobretudo em um país que se move pelas sensações. O mesmo vale para a Copa. Terá de ser um grande sucesso comercial, antes mesmo de ser sucesso futebolístico. Para tanto, as narrativas serão fortes. Aquilo que Jean Baudrillard entendeu como o maior escândalo de nossos tempos: atentar contra o princípio da realidade.
Outra questão estimulante é o papel do imponderável nos grandes eventos. Em 2010, ele se fez presente como escândalo Erenice Guerra, que pouco afetou o desempenho de Dilma. Prevaleceu o que se sabia: uma oposição sem discurso, um governo muito popular e um ambiente econômico favorável. Será que a situação se repetirá em 2014?
O inesperado afetaria as narrativas existentes e impactaria as tendências predominantes? O desempenho do Brasil na Copa não tem influenciado a eleição presidencial. Em 1998, perdemos a Copa e FHC foi reeleito. Em 2002, ganhamos e FHC não elegeu o sucessor. Em 2006, perdemos e Lula foi reeleito. Perdemos em 2010 e Dilma foi eleita.
Hoje, as tendências são as seguintes: o Brasil ganharia a Copa e Dilma seria reeleita. No entanto, parece que não é tão simples. Talvez seja mais difícil o Brasil ganhar a Copa do que Dilma ser reeleita. Os adversários do Brasil no campo são mais fortes do que os adversários de Dilma nas eleições. Dilma e o “lulismo” dominam as narrativas.
Nosso futebol atualmente não domina a narrativa dos gramados. Torcemos para que o imponderável trabalhe a favor do Brasil e nas eleições que vença o melhor para o país.
Cientista político e presidente da Arko Advice Pesquisas
Fonte: Brasil Econômico
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