Em 2010, Aécio apoiou Serra, mas os serristas o acusam de corpo mole na eleição. Agora, Aécio precisa do engajamento de Serra. Vai ser difícil...
Alberto Bombig e Leopoldo Mateus
Na terça-feira passada, o ex-governador de São Paulo José Serra escreveu em sua página no Facebook: "Como a maioria dos dirigentes do partido acha conveniente formalizar o quanto antes o nome de Aécio Neves para concorrer à presidência da República, devem fazê-lo sem demora". Aécio celebrou. "Foi um gesto na direção da unidade partidária. Tenho certeza de que Serra terá um papel muito importante no ano que vem", disse a ÉPOCA. A paz entre dois dos principais líderes do PSDB deveria ser mesmo motivo de comemoração para os tucanos. São Paulo, Estado de Serra, e Minas Gerais, de Aécio, são os dois maiores colégios eleitorais do país. Somados, terão peso decisivo nas eleições do ano que vem. Da última vez que os dois políticos se juntaram numa eleição presidencial, porém, trocaram o sinal de somar pelo sinal de dividir. Os tucanos temem que o enredo se repita, com os personagens trocados.
A mensagem de Serra no Facebook, na semana passada, tinha a data de 17 de dezembro. Quase exatamente quatro anos antes, em 16 de dezembro de 2009, o então governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), divulgou uma nota: "Deixo a partir deste momento a condição de pré-candidato do PSDB à Presidência da República". Se na ribalta os tucanos mostravam união, na coxia ocorria coisa bem diferente. No primeiro turno, os tucanos mineiros fizeram uma campanha animada, com comícios que exaltavam Aécio, Anastasia e o ex-presidente Itamar Franco, companheiro de chapa de ambos e também candidato ao Senado. Nessas ocasiões, o nome de Serra raramente era citado, a não ser nas poucas ocasiões em que Serra estava presente. Aécio e Anastasia também não se opuseram à distribuição de panfletos de apoio à chapa "Dilmasia", que misturava tucanos e petistas. Resultado: Serra, no primeiro turno, teve em Minas menos votos do que sua média nacional - 30,76% contra 32,61% - e foi derrotado por Dilma Rousseff.
No segundo turno, Aécio prometeu se engajar na campanha de Serra, enquanto Serra se concentrava nos Estados mais difíceis, da Região Nordeste. O quadro mudou pouco. Os prefeitos mineiros que haviam apoiado Anastasia queriam ficar bem com o governo federal. Continuaram a cortejar Dilma, a líder nas pesquisas. Até hoje os serristas acusam Aécio de corpo mole na batalha pela reconversão dos prefeitos. Aécio nega, citando a vitória de Serra em Belo Horizonte. Aécio também pilotou o comício de encerramento da campanha de Serra na capital mineira. "Viramos Minas, viramos Minas, ganhamos a eleição", disse Serra no avião, depois do comício. Ilusão. No segundo turno, nova vitória de Dilma: 56% a 44%.
A história se repetirá? Segundo os fiéis seguidores de Serra, ele não esqueceu o que aconteceu em 2010. Por isso, eles não acreditam que Serra vá se engajar na campanha de Aécio. Já há motivos para achar que eles têm razão. Em São Paulo, base política de Serra e do governador Geraldo Alckmin (PSDB), está em curso um flerte declarado dos tucanos com Eduardo Campos, o governador de Pernambuco e pré-candidato do PSB. Alckmin negocia com o PSB a indicação de um vice a sua própria chapa, na campanha cela reeleição.
O aval de Serra, segundo integrantes de seu grupo, foi importante para que Roberto Freire, presidente do PPS, declarasse apoio a Campos Freire é hoje um dos políticos mais próximos de Serra. Seu PPS esteve com Alckmin em 2006 e com o próprio Serra em 2010. Desta vez, deixou os tucanos de lado. Freire disse a ÉPOCA que não conversou com Serra sobre o apoio a Campos. "Não o consultei", afirmou. No mínimo, Serra e Alckmin pouco se empenharam para manter o PPS com Aécio - e, com isso, mantiveram um canal aberto com Campos.
Na mesma semana em que viu Serra sair de seu caminho, Aécio confirmou o fim do vínculo com o marqueteiro Renato Pereira, que fez os programas de TV do PSDB em 2013. A decisão de não renovar o contrato já estava tomada desde setembro. Pereira, segundo os tucanos, não participava dos eventos do partido. Isso desagradou à cúpula do PSDB, que achava também que a conta do partido era tratada como "apenas mais uma". Aécio pretende montar um colegiado para tocar a campanha, como fez em suas eleições vitoriosas em Minas Gerais. Duda Mendonça chegou a ser apontado como possível substituto. Aécio nega ter cogitado seu nome. "Não há preocupação centrada na questão de marqueteiro. Isso talvez valha para o governo do PT, em que o marqueteiro foi levado à condição de primeiro-ministro", diz Aécio.
Outro problema de Aécio será montar alianças, agora que o PPS de Roberto Freire aderiu a Campos. As conversas com o PV nacional têm acontecido com frequência, e o PSDB ainda não desistiu de ter o PP em sua chapa, mesmo com o partido na base aliada da presidente Dilma. O PSDB também pretende fechar apoios com o DEM e o Solidariedade, de Paulinho da Força. Na montagem de palanques regionais, Aécio continua dando atenção especial ao Rio. Uma reunião em seu apartamento na cidade, na semana passada, contou com a presença do economista tucano Armínio Fraga, do ex-deputado Fernando Gabeira e do técnico da seleção brasileira masculina de vôlei, Bernardinho, possível candidato do PSDB ao governo fluminense.
Em 2009, ao ser informado da desistência de Aécio, Serra afirmou: "Não somos semeadores da discórdia e do ressentimento. Nem estimuladores de disputas de brasileiros contra brasileiros, de classes contra classes, de moradores de uma região contra moradores de outra região. Trabalhamos, ambos, sempre, pela soma, não pela divisão". Será bom para os tucanos que, na hora eles não troquem novamente os sinais das operações matemáticas.
Fonte: Revista Época
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