João Paulo, já sentenciado, diz que máfia dos fiscais é maior que mensalão
Fernanda Krakovtcs
BRASÍLIA- Com críticas a setores do governo Dilma que pregam o distanciamento do Palácio do Planalto do tema do mensalão, o PT fez ontem mais uma hoi menagem aos petistas condenados e presos. O ato ocorreu um dia após a abertura do 5º Congresso do partido, anteontem, ter se transformado em desagravo a José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, condenados por corrupção ativa e formação de quadrilha.
Além de parentes dos três, também discursou o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), condenado no mensalão a nove anos e quatro meses, mas ainda aguardando o julgamento dos recursos. Os petistas não esconderam o ressentimento com o Planalto e com setores do partido que defendem virar a página, temendo prejuízos eleitorais.
No discurso, João Paulo comparou o mensalão com o escândalo dos fiscais da prefeitura de São Paúlo e com a formação de cartel e cobrança de propina em licitações de obras do metrô nos governos tucanos de São Paulo. Mas fez a ressalva de que corrupção é corrupção, independente do montante roubado:
— O Brasil do povo não é o Brasil desta elite. Dizem que o mensalão foi o maior escândalo político, com desvio de R$ 140 milhões. Cinco fiscais da prefeitura de São Paulo desviam R$ 500 milhões. Um contrato da Alstom desvia mais de meio bilhão (de reais).
João Paulo também fez referência ao deseja do Planalto e de setores do PT em se descolar do escândalo do mensalão:
— Tem gente que acha que não pode arrastar demais isso para não contaminar a eleição. Bobagem, 2006 foi assim, 2010 foi assim. Quando eles não tiverem mais nada para falar, vão tirar isso da prateleira, porque isso é política.
Também discursaram Joana Saragoça, filha de Dirceu, e o vereador de Goiânia Carlos Soares, irmão de Delúbio.
Líder do PT na Câmara, o deputado José Guimarães (CE) afirmou ter dito a Genoino, seu irmão, que, depois da solidariedade prestada pelo partido anteontem, com "a explosão dos delegados" nem era mais necessário o ato de ontem. Genoino está em prisão domiciliar, em Brasília.
— Ninguém cala a militância do partido, por mais que, às vezes, queiram fazer uma coisa mais contida, por conta de nossas obrigações. Se a ditadura militar não calou o PT, ninguém vai calar — disse Guimarães, para uma plateia de cerca de 300 militantes.
A presidente Dilma evita comentários sobre o assunto, tendo se manifestado uma única vez sobre o estado de saúde de Genoino. Ela tenta descolar o governo do mensalão e gostaria de virar essa página. O ex-presidente Lula não resiste em se solidarizar i com os companheiros, como fez com Dirceu anteontem. Lula disse que não falaria do assunto, a despeito das cobranças da militância, mas comparou a cobertura da imprensa sobre o mensalão com as de outras denúncias.
Fonte: O Globo
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