É cada vez mais forte a percepção de que o setores empresariais torcem para a troca de Dilma pelo ex-presidente na chapa de 2014. O problema para a atual chefe do Planalto é que, por mais distante que tal equação esteja da realidade, ninguém no PT vai defendê-la caso a economia vá mal no próximo ano
Na foto oficial de Dilma Rousseff com os quatro ex-presidentes — feita antes do embarque para o funeral de Mandela e divulgada pelo Palácio do Planalto para todas as agências e jornais do mundo —, o petista Luiz Inácio Lula da Silva está com cara de um coadjuvante. Explico. Ele, Fernando Henrique Cardoso, José Sarney e Fernando Collor têm expressões distintas, mas, em comum, parecem se recusar a olhar diretamente para a câmera, como se resignados com o papel de reservas.
Enquanto Sarney usa óculos escuros, Collor ri de forma forçada e espreme os olhos. Fernando Henrique, naquele momento, parece displicente, mas não tanto quanto Lula, este sim, com a atenção voltada para fora do quadro. Talvez estivesse a mirar outra pessoa, mas o fato é que não olhava para a lente da câmera oficial, responsável por enquadrar Dilma. A presidente, no centro e de vermelho, encara o fotógrafo, disposta a mostrar quem manda ali e a quem caberá os elogios por reunir ex-presidentes.
Por mais que revele a força da presidente, a fotografia de Dilma com os ex-comandantes não é suficiente para tirar da cabeça dos especuladores de cenários políticos a ladainha da volta de Lula ao poder. Mesmo que a mulher recupere, a cada pesquisa, parte da aprovação perdida durante os protestos de junho, a sombra do mentor político está sempre ali, do lado. Mais do que um substituto de luxo, caso a oposição cresça para cima de Dilma, Lula é visto com um jogador pronto para entrar em campo.
É fácil entender a lógica do setor financeiro contra Dilma. Ao mesmo tempo que o atual governo tenha insinuado uma tentativa de diminuir as margens de lucros de bancos com a queda dos juros e a redução do spread, por exemplo, a equipe econômica foi desastrosa ao maquiar números na tentativa de fechar contas públicas. Tudo isso provocou o descrédito do Ministério da Fazenda, que, nem com reza nem com declaração de Guido Mantega, consegue sair das cordas do ringue do debate financeiro.
Atores
A dificuldade de Dilma aumenta à medida que, a partir de um rápido exercício, são colocados mais atores ligados à gestão política e administrativa da presidente. Mire, por exemplo, o parlamento e tente, mesmo de brincadeira, defender a petista ou a ministra-viajante-em-helicóptero-do-Samu, Ideli Salvatti, responsável do Palácio do Planalto pelas negociações com o Congresso. Vai levar boas bordoadas. Mais uma vez, a balança pende para Lula, sem que seja preciso fazer contas ou levantamentos de plenário.
A base aliada gostava de Lula e do jeito quase informal dele de fazer política. Com a substituição por Dilma, até os mais otimistas nunca tiveram dúvidas do jogo duro da presidente em tratar com os parlamentares. Ainda mais quando não se tem escudeiros de peso na intermediação com o Legislativo. Mesmo com os servidores públicos, Dilma mostra dificuldades, aqui pela trava nas negociações salariais. Assim, parece que vai faltar gente da base a apoiar a presidente petista. Não é bem assim.
As pesquisas recentes mostram uma força eleitoral que Dilma havia perdido nas manifestações da metade do ano, mas parece ter recuperado. Hoje, há um percentual de eleitores se dizendo dispostos a elegê-la inclusive no 1º turno. Até onde vai tal recuperação é que são elas, principalmente por causa da chance da volta das manifestações no próximo ano e, é claro, pela fragilidade das políticas econômicas a favor do crescimento e contra a inflação. Em caso de queda de popularidade, o PT vai pular fora.
A falta de solidariedade dos petistas pode ser entendida a partir do receio em perder a máquina federal e todos os cargos federais em Brasília e nos estados. Qualquer risco de deixar o comando a partir de uma eventual derrota de Dilma levará os petistas para o lado de Lula, sem constrangimentos, inclusive para mudar o discurso em favor do ex-presidente e justificar a saída de cena da mulher. Para isso existem os marqueteiros, a adequar a realidade partidária às urnas.
De volta à foto do início: Lula pode até não olhar para a lente, mas está longe de ser um coadjuvante.
Fonte: Correio Braziliense
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