Cristian Klein
SÃO PAULO - Em um dos poucos Estados onde PT e PSB estão de braços dados - apesar dos ataques mútuos, país afora, que antecipam a batalha a ser travada entre os dois partidos pela Presidência da República - são os movimentos do PMDB que causam suspense na disputa pelo governo do Espírito Santo.
No teatro político da eleição capixaba, estão (quase) todos esperando Paulo Hartung. O mistério do ex-governador - que despista sobre sua entrada ou não em cena - faz lembrar outro personagem da política nacional conhecido pelo vai-não-vai: José Serra. Se o dilema do tucano paulista, para 2014, já se resolveu - com sua retirada da corrida presidencial em prol do senador mineiro Aécio Neves - o papel ganha um novo intérprete.
O desfecho supera até a expectativa sobre o rompimento ou não entre petistas e pessebistas no Estado. O divórcio entre os partidários da presidente Dilma Rousseff e do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pode implodir o bem sucedido consórcio que elegeu Renato Casagrande (PSB) governador em 2010, com 82,2% dos votos.
Mas, por enquanto, o PT local se diz satisfeito em permanecer ao lado de Casagrande. A não ser que a direção nacional da legenda proíba a união ou que Paulo Hartung diga finalmente que vai concorrer. O ex-governador, contudo, insiste em ficar em cima do muro. Depois de meia hora de considerações e um passeio pela história do Espírito Santo, Hartung insinua bater o martelo ao Valor: "Em 2014, vou ficar cada vez mais economista, fazendo minhas palestras e tocando a vida".
Já é uma decisão, observa o interlocutor, para ser logo rebatido. "Isso é definitivo? Não sei. Tem que deixar rolar para ver o que vai acontecer", ensaboa a resposta.
Um dos mais interessados na palavra final do pemedebista é o correligionário e senador Ricardo Ferraço, que foi vice-governador em seu segundo mandato, entre 2007 e 2010. Ferraço não quer esperar. É pré-candidato declarado ao Palácio Anchieta e procura de todas as formas um caminho para concorrer. "O meu nome está absolutamente à disposição para ser candidato pelo PMDB", diz.
Ferraço percorre o Estado, faz seminários, mas seus movimentos são limitados com a indefinição do colega de partido. Hartung, com maior densidade eleitoral, tem a primazia. Em pesquisa divulgada em novembro pelo instituto Futura, se Casagrande disputasse com o senador, o pessebista poderia ser reeleito já no primeiro turno (46% a 14% - ficando o senador Magno Malta (PR) em segundo lugar, com 21%); mas caso enfrentasse o ex-governador a peleja seria mais dura (36% a 31%), com grande probabilidade de segundo turno.
Para Ferraço pouca importa. Com um longo mandato de oito anos no Congresso, pode fazer uma tentativa agora, em 2014, e, em caso de derrota, acumular forças e recall para 2018. Em suas articulações, o senador tem se mexido bastante. Em outubro, conseguiu que o PMDB anunciasse - pelo menos oficialmente - a entrega de cargos no governo Casagrande para que pudesse construir, com maior liberdade, sua candidatura. Oficialmente porque há quem diga que está tudo como antes, com a influência de Hartung sobre alguns órgãos como o Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes) e a Cesan, a companhia estadual de saneamento. O secretário de Transportes e Obras Públicas, Fábio Damasceno, permaneceu no cargo sob a justificativa de que passou a ser da cota pessoal do governador e não mais do PMDB.
Com a inércia de Hartung e do PT local, a cartada de Ferraço agora é se aproximar do PSDB. Em seus planos, conta o pemedebista, está a possibilidade de aliança com os tucanos, para os quais ofereceria seu palanque no Estado ao presidenciável Aécio Neves. Hoje, o pré-candidato do PSDB ao governo é o recém-filiado Guerino Balestrassi, ex-prefeito de Colatina e ex-presidente do Bandes.
Ferraço arma seu próprio jogo e afirma que o PMDB está "solto". "Nada impede que o PMDB faça uma aliança com o PSDB. Temos uma ótima relação no Espírito Santo. Os partidos estiveram juntos na eleição para prefeito de Vitória [em 2012]", destaca.
De fato. Há dois anos, o PMDB participou com o vice na chapa do ex-prefeito Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), derrotado por Luciano Rezende (PPS). A boa relação, por outro lado, estaria mais assentada nos laços de Hartung com os tucanos do que propriamente de Ferraço.
Eleito vice-governador em 2006 pelo PSDB, Ferraço saiu da legenda sob ameaça de expulsão, depois de brigar publicamente com Vellozo Lucas, principal liderança tucana no Estado, de quem é concunhado. Vellozo o acusou de traição quando Ferraço - seguindo Hartung - decidiu apoiar a reeleição do prefeito petista João Coser, em 2008. O candidato apoiado pelo PSDB era o atual prefeito Luciano Rezende, que acabou vencido naquela disputa. Com o rompimento, Ferraço filiou-se ao PMDB, em 2009, e aguardou ser o escolhido à sucessão de Hartung, em 2010, o que não aconteceu.
A aproximação do senador com os tucanos é uma forma de evitar o mesmo desfecho e depender menos das decisões do ex-governador.
O risco de contágio entre os planos nacional e estadual, no entanto, faz Ferraço duvidar de que o correligionário esteja fora do páreo. O parlamentar cita a subida de tom nos ataques entre as hostes do PT e do PSB, cujo último capítulo foi o texto no Facebook que chamou Eduardo Campos de "tolo" e "playboy mimado". Um rompimento generalizado - baixado por uma resolução do diretório nacional petista - poderia empurrar o ex-governador para o ringue.
"O Paulo Hartung tem um jeito mineiro de fazer política. O Saci quando apita ele está perto ou está longe? O Paulo Hartung trabalha com dissimulação. Mas o nome dele está colocado. Em momento algum, ele disse: 'Não sou candidato a governador'. A interlocutores privados, em conversas informais, ele admite a possibilidade de candidatura", aponta o senador.
Tanto é que, no início de novembro, Ferraço e o ex-governador foram juntos ao Palácio do Planalto, onde trataram do assunto com a presidente Dilma Rousseff. Antes, em meados de outubro, um mês após a entrega dos cargos no governo federal pelo PSB, Hartung já havia se reunido, em São Paulo, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Para o ex-governador, foi uma conversa de amigos, que quebrou o clima de afastamento. Em 2010, Dilma perdeu para José Serra, no Espírito Santo, no segundo turno, o que gerou muita "fofoca levada daqui para Brasília", qualifica Hartung, sobre sua suposta falta de empenho na eleição da petista.
Para Ferraço, o encontro entre Lula e Hartung foi muito mais do que uma reaproximação. "A informação que tenho é que Lula disse a ele que, se ele for o candidato do PMDB ao governo, o PT vai com ele", conta.
O senador reconhece haver restrições à sua candidatura. "O PT acha que eu tenho um mandato muito autônomo, porque eventualmente sou um crítico de posições do governo", diz Ferraço.
Para o PT, a primeira opção é permanecer com Casagrande. A segunda, caso a direção nacional proíba, é apoiar a candidatura do PMDB encabeçada por Hartung, apontado como "um Neymar".
Ou seja, o PT arriscaria a entregar os cargos mas teria boa chance de reconquistá-los com o potencial eleitoral do ex-governador. A terceira opção seria lançar um candidato próprio - hipótese já levantada por Lula.
Fonte: Valor Econômico
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