Deve ter sido interessante e, no mínimo, curioso para os maiores líderes políticos e de negócios do mundo reunidos no Forum Econômico Mundial na cidade de Davos, na Suíça, verem e ouvirem uma presidente ( de um grande país sul americano” até pouco tempo atrás visto como uma área excepcionalmente atrativa para a realização de negócios ) tida por sua origem política como “trotskysta” por alguns e por outros como uma revolucionária marxista que deixou a luta armada para se inserir na vida democrática e na consolidação do capitalismo no Brasil.
Poucos deles certamente sabem quem foi Trotsky, ou tiveram qualquer contato com um trotskysta, nem tem ideia de que ele e Lenin lideraram a revolução comunista na Rússia, muito menos que o seu grande conflito na luta pelo poder, após a morte de Lenin, se deu contra Stalin, com o qual divergia sobre o caráter da construção do socialismo naquele país e em todo o mundo. Trotsky defendia a necessidade de uma revolução permanente difundida internacionalmente, enquanto Stalin defendia que antes era preciso consolidar o socialismo na Rússia. Trotslysta ou não, Dilma era vista como uma figura enigmática, construída pelo ex presidente Lula – este sim um “esquerdista” pragmático que nunca se apaixonou pelas teorias revolucionárias.
O fato é que a forma de governar de Dilma e os resultados na economia brasileira colocaram na cabeça desses homens de negócios e líderes dos países capitalistas a questão da sinceridade das novas convicções da presidente do Brasil e a capacidade dela governar. Afinal, além do seu estilo centralizador e arrogante, ela construiu uma imagem – e uma prática – intervencionista através de suas ações iniciais contra o sistema financeiro ( no embate contra a cobrança de altos “spreads” ), contra o papel das agências reguladoras e na mudança de regras essenciais para a segurança dos investidores. Além disso a sua credibilidade quanto à capacidade de governar era posta em questão em face da aceleração da inflação, do baixo crescimento do Produto Interno Bruto ( PIB), do expansionismo ( descontrole ) fiscal, dos desacertos cambiais e da permanente redução dos superavits na balança comercial e na balança de pagamentos.
As tentativas da presidente usando uma enormidade de recursos através do BNDES, obtidos através do aumento do endividamento público, as isenções tributárias para alguns setores, o controle de tarifas nos serviços públicos e os insucessos na atração de investimentos para a infraestrutura, não produziram os resultados desejados mas fortaleceram os receios dos homens de negócios.
Ainda mais, os protestos que tem explodido em vários momentos e em várias áreas do país, que mostraram um nível de insatisfação popular até então desconhecido, acenderam a luz amarela, muito sensíveis que são a qualquer sinal de perigo para os seus investimentos.
Dilma, em Davos, fez um discurso que procura, da mesma forma que fez Lula em 2002 na “carta aos brasileiros”, mostrar que ela não é nada do que se pensa que é. Ela afirma que é a favor do capital privado, sejam os investimentos nacionais ou estrangeiros, que serão recebidos de braços abertos, com a segurança necessária, com o respeito aos contratos e ainda que o seu principal tema é o combate contra a inflação, que vai manter em ordem as contas públicas, que vai ampliar ainda mais a capacidade de consumo da população. E exemplificou, o que teria sido uma mudança de conduta, o sucesso dos últimos leilões de rodovias e aeroportos e o leilão de exploração do petróleo no pré sal. Dos insucessos, nenhuma palavra.
Todo esse esforço da presidente, todo o seu discurso, de fato não é suficiente para mudar a percepção dos líderes de negócios mundiais. Tudo o que foi dito, as verdades e as mentiras, são sobejamente conhecidas por eles. Eles não estão fora dos negócios no Brasil, não são ETs, estão dentro, fazem parte e têm, além de informações atualizadas, bilhões de dólares aplicados no país.
Mas se todo esse bafafá que mexeu com a mídia crioula não vai resultar em nada de novo, nem nada especial em relação aos investimentos, para que Dilma foi a Davos? Além de safisfazer a curiosidade dos presentes, o que sobra?
Para o país nada, para Dilma, muito. Ela obteve horas e mais horas em toda mídia nacional. Enquanto isso, seus adversários eleitorais estão à míngua. Aécio tem alguns segundos quando faz algum pronunciamento crítico, Eduardo Campos obtém alguns minutos na sua queda de braço com a recém aderente Marina Silva. Dilma, pelo contrário, ganhou o equivalente a diversos programas eleitorais gratuitos, melhor ainda, fora do horário eleitoral gratuito que se inicia só em agosto. E nos horários e espaços mais cobiçados da grande mídia nacional. O que comprova que estão com paúra.
Agora entenderam porque ela foi a Davos?
Alberto Goldman, vice-presidente nacional do PSDB
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