Cristiane Agostine, Fernando Exman e Alex Ribeiro
SÃO PAULO, BRASÍLIA e BRUXELAS - A mais recente pesquisa Datafolha tem potencial para alimentar a campanha pelo retorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à disputa eleitoral. Não bastassem os recados de insatisfação com o modo de a presidente Dilma Rousseff governar, enviados por políticos e empresários, a sondagem captou dados capazes de fundamentar os argumentos dos integrantes da aliança governista mais pragmáticos ou receosos de perder o poder. Lula tem a menor rejeição entre os pré-candidatos e aparece como mais competitivo contra o senador Aécio Neves (PSDB) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).
No Instituto Lula, no entanto, a leitura foi outra. O cenário eleitoral atual é visto como pouco favorável à candidatura do ex-presidente, que prefere atuar neste momento como "bombeiro" na relação tumultuada de Dilma com aliados e empresários a arriscar seu capital político em uma disputa com grande chance de derrota.
Apesar de Lula aparecer mais bem posicionado do que Dilma, o ex-presidente tem intenção de votos estável. A intenção de votos do ex-presidente teve ligeira queda, dentro da margem de erro, e manteve o patamar da pesquisa anterior. O entendimento de Lula é que a queda na avaliação do governo Dilma e na intenção de votos da presidente também deverá afetar sua intenção de votos.
A pesquisa mostra que o desejo por mudança é forte: 67% dos entrevistados querem que o próximo presidente tenha ações diferentes do atual governo. No entanto, a oposição ainda não conseguiu atrair a maioria desses eleitores, que veem Lula e Dilma como os que poderão trazer novidades. O ex-presidente aparece como o mais preparado para realizar as mudanças que o país precisa, com 28%, seguido por Dilma, com 19%.
A avaliação que o ex-presidente tem feito a aliados é que o cenário eleitoral não está consolidado e que as eventuais candidaturas do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, e da ex-senadora Marina Silva (PSB) na disputa poderão captar essa insatisfação. Na pesquisa, Barbosa aparece em terceiro lugar na lista dos que podem trazer mudanças ao país, com 14%, seguido por Marina, com 11%.
Pesam contra uma eventual candidatura de Lula a conjuntura doméstica e internacional menos favorável e os já esperados protestos na Copa - que poderão afetar não só a imagem de Dilma quanto a do ex-presidente. Diante do atual cenário político e econômico, Lula considera que se lançar sem a perspectiva concreta de vitória pode prejudicar o PT nas próximas eleições. No quadro eleitoral mais pessimista, a tese defendida é que se for para perder, que seja com Dilma. Lula se preservaria para 2018.
O ex-presidente tem se dedicado às articulações da campanha de reeleição de Dilma e reforçou as conversas com o PT, para construir palanques à presidente.
A pesquisa Datafolha à frente de seu antecessor na intenção espontânea de voto e aparece como a grande favorita para se reeleger. Na pesquisa espontânea para a eleição presidencial, 22% dos entrevistados citaram Dilma e 4% lembraram de Lula. Nas duas pesquisas anteriores, do fim de novembro e de outubro, Lula foi citado por 5% e 6%, respectivamente, enquanto Dilma foi lembrada por 22% e 17% dos entrevistados.
Em meio às especulações sobre quem será o pré-candidato do PT à sucessão presidencial, Dilma afirmou ontem não ter conflitos com Lula. "Acho que vocês [imprensa] podem tentar de todas as formas criar qualquer conflito ou qualquer barulho, ou ruído, entre mim e o [ex] presidente Lula que vocês não vão conseguir. Mas eu e o [ex] presidente Lula não temos conflito, não temos divergências passíveis, a não ser as normais", disse a presidente, em entrevista coletiva, depois de participar de encontro empresarial em Bruxelas.
Fonte: Valor Econômico
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