É a segunda baixa da empresa após o caso Pasadena
O Globo
BRASÍLIA e RIO - O comando da Petrobras decidiu exonerar o engenheiro José Orlando Azevedo do cargo de diretor comercial da Transportadora Associada de Gás (TAG), subsidiária da estatal. Ele presidiu a Petrobras America entre 2008 e 2012, período da disputa judicial que culminou com o pagamento, pela Petrobras, de mais US$ 820,5 milhões ao grupo belga Astra Oil na aquisição da refinaria americana de Pasadena, nos EUA. Com a operação, a Petrobras America passou a controlar a refinaria. A exoneração, que deverá ser anunciada no início da próxima semana, já foi assinada por parte do Conselho de Administração da TAG.
Azevedo é primo do ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli, que comandou a estatal na época da compra da polêmica refinaria. Foi Gabrielli quem indicou Azevedo para a presidência da Petrobras America. Afastado do cargo pela atual presidente da estatal, Maria das Graças Foster, em 2012, Azevedo passou a exercer o cargo na TAG. A empresa foi criada em 2006 para unificar toda a estrutura de transporte de gás natural da Gaspetro.
Segundo uma fonte ligada à Petrobras, a desoneração de Azevedo é mais um sinal de que Graça Foster está determinada a ir fundo nas investigações, em meio à auditoria que está sendo realizada na estatal a fim de apurar indícios de irregularidades e apontar os culpados.
‘O clima é horroroso’
Não há provas contra o engenheiro, que é funcionário de carreira da estatal há quase 40 anos, mas a sua saída faz parte da estratégia do comando da empresa de evitar que a estatal continue “sangrando”. Por isso, decidiu-se pelo afastamento do cargo das pessoas envolvidas com a compra da refinaria, que custou à estatal US$ 1,2 bilhão e está sendo investigada por diversos órgãos.
— A desoneração vai na linha do que disse a presidente da Petrobras de que não ficará pedra sobre pedra. Tem também o objetivo de afastar qualquer tipo de especulação, dada a forte exposição político partidária do caso — disse uma fonte.
Essa será a segunda baixa no quadro diretores das subsidiarias da estatal. Na sexta-feira, dia 21, o Conselho de Administração da Petrobras decidiu exonerar do cargo Nestor Cerveró, diretor financeiro da BR Distribuidora.
Ele comandou a área internacional da Petrobras na época da compra da refinaria de Pasadena e foi responsável pelo resumo executivo da operação submetido ao Conselho de Administração da Petrobras, em 2006, presidido pela presidente Dilma Rousseff, que ocupava o cargo de ministra da Casa Civil.
Recentemente, Dilma declarou que votou a favor da operação, porque o relatório era falho e incompleto.
Os afastamentos de diretores e ex-executivos da estatal criou um clima de tensão na companhia, de acordo com funcionários:
— O clima é horroroso. Todo mundo está com medo. É clima de caça às bruxas — disse um funcionário com longa carreira na empresa.
O medo é que as possíveis punições acabem chegando a funcionários de escalões menores. Segundo o funcionário, se o ex-titular da diretoria Internacional da Petrobras Nestor Cerveró apresentou um relatório ao conselho de administração da companhia com falhas técnicas e jurídicas — como acusou a presidente Dilma — os funcionários responsáveis pela elaboração desse relatório também podem ser punidos. Ele lembrou que todo o diretor tem vários assessores e assistentes, que podem ser acusados de falha.
Procurada para comentar a indicação de Azevedo, a assessoria de Gabrielli, atual secretário de Planejamento do governo da Bahia, informou que ele não iria se manifestar. Segundo a assessoria, Gabrielli reiterou que cumpriu os requisitos exigidos pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e pela Securities and Exchange Commission (SEC), órgão regulador do mercado americano, e que informou o grau de parentesco com Azevedo, quando o nomeou para a presidência da Petrobras America.
A presidente da companhia, Graça Foster, na entrevista que concedeu ao GLOBO no último dia 25, demonstrou que está se esforçando para para que as atividades da empresa não sejam afetadas neste momento tão delicado pelo qual está passando.
— O corpo técnico da Petrobras precisa ser respeitado. O dia a dia da empresa é de crescimento da produção (de petróleo) e eu trabalhando para que a autoestima esteja lá em cima. Mas sem fantasia, dentro da realidade da vida. Não fantasie porque o mundo é duro — disse Graça.
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