Correio Braziliense: 28/03/2014
Os números da pesquisa mostram Dilma como uma espécie de Sísifo, personagem da mitologia grega conhecido por executar um trabalho rotineiro e cansativo
Pesquisa CNI/Ibope realizada de 14 a 17 de março e divulgada ontem apontou uma forte queda na aprovação do governo Dilma Rousseff, interrompendo a série de recuperação da imagem dela, que havia desabado após as manifestações de junho do ano passado. No Congresso, a notícia chegou como cheiro de animal ferido na floresta, tanto para a oposição, que emplacou uma CPI no Senado para investigar a Petrobras, como para a turma do “Volta, Lula!” na Câmara, que acabou de fazer o novo ministro de Relações Institucionais, o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP).
Segundo a sondagem, de novembro do ano passado para março de 2014, a avaliação “ótimo/bom” do governo caiu 7 pontos percentuais (de 43% para 36%), enquanto a rejeição (“ruim/péssimo”) subiu 7 pontos (de 20% para 27%). A avaliação “regular” ficou estável nesse mesmo período, quando oscilou positivamente de 35% para 36%. Os dados são preocupantes porque fragilizam a presidente da República num momento de grande enfrentamento com a oposição, por causa da Petrobras. A empresa é um ícone do patriotismo popular e foi posta na berlinda pela própria presidente, ao tirar o corpo fora da escandalosa compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, sob investigação do Tribunal de Contas da União (TCU).
Os números da pesquisa mostram Dilma como uma espécie de Sísifo, personagem da mitologia grega conhecido por executar um trabalho rotineiro e cansativo. Após desafiar os deuses, foi condenado por Zeus a rolar uma grande pedra de mármore até o cume de uma montanha, mas toda vez que estava quase alcançando o topo, a pedra rolava montanha abaixo. Os índices da pesquisa se aproximam perigosamente do cenário de meados do ano passado: em junho de 2013, a aprovação do governo era de 31% e, agora, soma 36%; a desaprovação, que era de 31% em junho, agora soma 27%. Considerando-se a margem de erro de 2%, é muito pouco para bancar o estilo de mando e as idiossincrasias de Dilma com os aliados.
Quem puxa pra baixo
Pode ser que esses resultados tenham a ver com o endividamento da população e a alta dos juros, num cenário em que a inflação continua na órbita dos 6%, ou seja, que o resultado das pesquisas esteja longe de refletir os desgastes políticos devido à péssima relação com a base governista ou mesmo à ação da oposição. Mas há outra questão para a qual Dilma Rousseff precisa abrir os olhos: a atuação do governo puxa a imagem dela para baixo, mesmo com toda a propaganda oficial nos grandes meios de comunicação. Em uma campanha eleitoral, na qual a oposição terá acesso às redes de rádio e tevê, isso pode ser desastroso.
Os números corroboram: a expectativa positiva em relação ao governo caiu de 45% para 36% (9 pontos), enquanto a expectativa negativa cresceu de 21% para 28% (7 pontos). O percentual de regular oscilou de 30% para 31%. A maneira de Dilma governar caiu 5 pontos (de 56% para 51%). Já a desaprovação cresceu 7 pontos (de 36% para 43% ). Ao mesmo tempo, a confiança na presidente Dilma caiu de 52% para 48% (4 pontos), enquanto a desconfiança cresceu de 41% para 47% (6 pontos). É muito sangue perdido.
O calcanhar de Aquiles de Dilma Rousseff é a gestão, que deveria ser uma marca de seu governo, se considerarmos a campanha que a elegeu em 2010. O desempenho do governo é rejeitado pela população na educação (65%), na saúde (77%), na segurança pública (76%), e até mesmo no combate à fome e à pobreza (49%) e ao desemprego (57%). Meio ambiente (54%), impostos (77%), combate à inflação (71%) e taxa de juros (73%) também sangram a imagem de Dilma. A reforma ministerial seria uma oportunidade de tentar reverter esse quadro, mas acabou virando um toma lá dá cá entre o PT e os aliados, principalmente o PMDB.
Começou a especulação
O pior da pesquisa, porém, é que ela estimula as especulações no mercado financeiro, onde não faltam interessados no sobe e desce das ações na Bolsa de Valores. Quando Dilma sobe nas pesquisas, as ações caem; quando a presidente da República perde pontos, a bolsa sobe. Isso ocorre porque há muitas restrições no mercado financeiro à atual política econômica e ao intervencionismo do governo na economia.
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