terça-feira, 13 de maio de 2014

A Bahia de todos os votos

• Em busca de espaço no quarto maior colégio eleitoral do país, presidenciáveis visitaram o Estado, que é considerado estratégico para quem quer chegar ao Palácio do Planalto. Lula representou Dilma, que esteve em Minas ontem

Paulo de Tarso Lyra – Correio Braziliense

"Eu tenho uma proposta no Congresso que garante que o Bolsa Família vire um programa de Estado permanente e definitivo. O PT, em vez de apoiá-lo, prefere votar contra para poder ter um programa para chamar de seu e ameaçar a população com sua extinção"
Aécio Neves (PSDB)

"Votamos nela, mas ela frustrou o Brasil (...) Nós pensamos no desenvolvimento econômico e a gente sempre respeitou o dinheiro público, e isso começa quando não se coloca bandido para ser auxiliar no governo"
Eduardo Campos (PSB)

Quarto maior colégio eleitoral do país, a Bahia foi visitada ontem pelos dois candidatos de oposição na corrida ao Palácio do Planalto — Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB-PE) — e pelo principal cabo eleitoral da presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com mais de nove milhões de eleitores, o estado é considerado estratégico para as pretensões eleitorais dos três partidos. Em 2010, Dilma Rousseff venceu com folga a disputa contra o tucano José Serra e a então verde — hoje filiada ao PSB — Marina Silva.

O cenário em 2014 é diferente. O PT não tem um candidato forte para concorrer ao governo estadual, pois Jaques Wagner já foi reeleito, fragilizando o palanque dilmista. Outra vidraça é o ex-presidente da Petrobras e secretário de planejamento baiano, José Sérgio Gabrielli. Ao deixar a estatal em 2012, Gabrielli sonhava em cacifar-se como o sucessor de Wagner. Acabou perdendo espaço para o ex-chefe da Casa Civil Rui Costa e hoje limita-se a justificar a compra da Refinaria de Pasadena, no Texas.

Os petistas sabem da importância de uma boa votação na Bahia, para assegurar a hegemonia da legenda na região Nordeste. O PT já perderá a maioria dos votos em Pernambuco, graças ao lançamento do ex-governador Eduardo Campos ao Palácio do Planalto. Lula promete montar acampamento em solo pernambucano para neutralizar o efeito do socialista, aproveitando-se do prestígio pessoal que tem no estado — levantamentos mostram que ele, caso disputasse o Planalto, venceria Eduardo, algo que Dilma não consegue.

O PSDB vislumbra na Bahia a porta de entrada para a Região Nordeste. Como o tucanato deve obter uma votação expressiva em São Paulo e Aécio nadará de braçadas em Minas Gerais (pelos cálculos do próprio candidato estima-se uma vantagem de uns quatro milhões de votos sobre Dilma Rousseff), uma votação mais próxima ao PT em solo baiano será um alento para as pretensões presidenciais dos tucanos.

Aécio também aposta em um desempenho melhor porque a oposição ao PT emplacou Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM) como prefeito de Salvador. As alianças oposicionistas no estado foram todas costuradas pelo demista, com carta branca dada pelo presidenciável mineiro. Além disso, o PMDB baiano, comandado pelo ex-ministro lulista Geddel Vieira Lima, que na disputa presidencial anterior apoiava Dilma, rendeu-se ao tucanato neste ano, isolando o PT no estado.

Já o PSB, que também desembarcou da trupe petista, lançou a senadora Lídice da Mata ao Palácio de Ondina, mas aposta suas maiores fichas na eleição para o Senado. Com as bençãos de Eduardo Campos e da vice, Marina Silva, a legenda filiou a ex-corregedora do Conselho Nacional de Justiça Eliana Calmon que ganhou visibilidade ao denunciar regalias e desmandos cometidos por integrantes do Poder Judiciário.

Alfinetadas
De olho no eleitorado mais carente do estado, Aécio Neves assegurou que, caso seja eleito, manterá o programa Bolsa Família, considerado por ele essencial para o desenvolvimento do Nordeste. "Para diminuir as diferenças, você precisa tratar de forma diferente aqueles que são desiguais. E, nosso governo terá um nítido foco claro e permanente para melhorar as possibilidades de desenvolvimento e de qualidade de vida dos irmãos brasileiros que vivem no Nordeste", disse Aécio Neves, em Feira de Santana.

Aécio também cobrou apoio da base aliada ao projeto, apresentado por ele, transformando o Bolsa Família em algo perene e que será debatido amanhã na Comissão de Assuntos Sociais do Senado. "Eu tenho uma proposta no Congresso que garante que o Bolsa Família vire um programa de Estado permanente e definitivo. O PT, em vez de apoiá-lo, prefere votar contra para poder ter um programa para chamar de seu e ameaçar a população com sua extinção", acusou Aécio .

Lula saiu em defesa de sua candidata e garantiu que Dilma será reeleita, porque "é a mais preparada de todos os candidatos". E acrescentou que a vitória da petista será a desgraça da oposição. "A Dilma, além de ser uma mulher inteligente e competente, ela é uma de nós. Ela está lá porque nós quisemos e vai ficar lá porque nós queremos", disse Lula, a uma plateia de cerca de mil pessoas, em São Francisco do Conde, a 60km de Salvador.

O ex-presidente também disse que a oposição insiste em uma CPI da Petrobras porque deseja fazer caixa dois com a estatal. "Alguns aliados dizem que a CPI (da Petrobras) é para desgastar o governo. Ora, as oposições não fizeram as denúncias, foi a imprensa que, a partir do que ocorreu na Polícia Federal, mostrou os negócios que foram feitos lá", rebateu Aécio.

Já em Vitória da Conquista, Eduardo Campos afirmou que Dilma frustrou o país, lembrando que a presidente foi eleita em 2010 com a ajuda do PSB. "Votamos nela, mas ela frustrou o Brasil, pois nós sempre fomos abertos ao diálogo, sempre tivemos uma postura de respeitar a democracia. Nós pensamos no desenvolvimento econômico e a gente sempre respeitou o dinheiro público, e isso começa quando não se coloca bandido para ser auxiliar no governo", acusou, em palestra para jovens universitários e lideranças do partido.

Em 2010
Os votos na Bahia nas últimas eleições majoritárias
Eleitorado 9,54 milhões

1º turno
Dilma Rousseff (PT) 4,18 milhões
José Serra (PSDB) 1,4 milhão
Marina Silva (PV) 1,05 milhão

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